sexta-feira, 31 de março de 2017

A Alicante Bouschet na Itália que olha para África

Difícil encontrar a Alicante Bouschet fora de Portugal, e quando a sempre atenta amiga Carla Marins me falou de um corte da Itália com esta uva fiquei curioso e fui conferir o resultado.

Mandrarossa Cavadiserpe 2011 

A vinícola Mandrarossa - top de gama da Cantine Settesoli, fica situada ao sul oeste da Sicilia, no centro do Mediterrâneo, com vinhedos que das colinas descem até ao mar, naquela s praias que olham direto para a costa africana (que está a apenas a 140km dali).

Nesta latitude as condições ambientais são perfeitas para o cultivo de videiras: clima seco e ensolarado, os ventos quentes que se misturam com a fresca brisa marinha, e grande amplitude térmica entre dia e noite criam um lar saudável para que os vinhedos possam gerar uvas de qualidade.

A vinícola produz os clássicos vinhos da tradição da ilha com castas autóctones como Nero d’Avola, Grillo, Grecanico , mais umas internacionais previsíveis como Chardonnay, Syrah Cabernet Sauvignon e Merlot. Mas ao longo dos anos vem experimentando também outras castas pouco comuns na região como Chenin Blanc, Petit Verdot, Fiano, Cabernet Franc, Viogner e, justamente, Alicante Bouschet.


O Cavadiserpe é um corte de Alicante Bouschet e Merlot de vinhedos situados em solo calcário no homônimo vilarejo que dá o nome ao rótulo. Matura por 6 meses em barricas de carvalho mais 3 meses em garrafas antes da comercialização.

O vinho entrega no nariz um mix de perfumes do Mediterrâneo com destaque para ervas aromáticas como salsa, menta, tomilho e açafrão, com frutas como ameixa e cereja mais um toque tostado. O ataque de boca é intenso num corpo firme e estruturado suportado por boa acidez e taninos finos. Aprovado!

Vinho:
Cavadiserpe
Safra:
2011
Produtor:
Mandrarossa
País:
Itália
Região:
Sicília
Uvas:
Alicante Bouschet (60%), Merlot (40%)
Alcoól (Vol.)
14%
Importadora:
World Wine
Custo médio:
R$ 160,00
Avaliação MV
* (bom)

O vinho estava quente, tivemos que colocar alguns minutos no gelo...









terça-feira, 28 de março de 2017

Seria este um Amarone" da moda"?

Dentro da tríade que forma as denominações tops (ou pelo menos as mais badaladas) da Itália, ou seja Barolo, Brunello e Amarone, esta última, de modo geral, é a que pessoalmente curto menos. Longe de mim criticar a longa e singular história ou tampouco a qualidade dos Amarones, eles são vinhos grandiosos que gozam de justa fama; mas quem me conhece sabe que o estilo encorpadão, com alto teor alcoólico e açucares importantes não reflete exatamente o meu gosto.

Porém este Amarone provado recentemente me impressionou bastante positivamente:

Albino Armani Amarone della Valpolicella 2008

A vinícola Armani (nenhum parentesco com o célebre estilista de moda Giorgio) foi fundada em 1607 no vale do rio Adige, no nordeste da Itália, e expandiu aos poucos as propriedades também nas regiões vizinhas de Veneto e Friuli, mas sempre mantendo um caráter e gestão dos negócios de modo familiar.

Este Amarone é um corte das típicas castas locais Corvina, Corvinone e Rondinella (faltou a clássica Molinara), parcialmente passificadas, maturado por 36 meses em carvalho.

Nariz bastante fino de fruta silvestre negra e especiarias como pimenta do reino e tomilho, com notas defumadas. Na boca é robusto sim, mas ao mesmo tempo flexível e profundo, mantido vivo por ótima acidez. As típicas notas adocicadas são apenas um sopro, enquanto uma densa camada de taninos finos e macios leva a um longo e saboroso final.

Enfim, não tem nada a ver com o estilista, mas certamente é um vinho elegante e estiloso. 

Vinho:
Amarone della Valpolicella
Safra:
2008
Produtor:
Albino Armani
País:
Itália
Região:
Veneto
Uvas:
Corvina, Corvinone e Rondinella
Alcoól (Vol.)
15%
Importadora:
Decanter
Custo médio:
R$ 300,00
Avaliação MV
** (marcante)





quinta-feira, 23 de março de 2017

Os 13 melhores restaurantes de carne do mundo

Nunca uma matéria foi tão contemporânea e atual. O jornal britânico The Telegraph publicou nestes dias uma lista de 13 restaurantes onde é possível comer os melhores pratos de carne do mundo.
A lista não foi pensada como uma classificação em ordem de mérito, mas apenas como uma relação onde não tem ganhadores e sim 13 lugares empatados, cada um com as próprias características. 

Vamos ver então no que deu.

- Caprice, Hong Kong, China: 2 estrelas Michelin, localizado dentro do Four Season Hotel de Hong Kong. Famoso por ter servido em 2015 o prato de carne mais caro do mundo, uma costela de boi hibernada por 15 anos e descongelada com um jato de ar frio a 60km por hora, resultando numa carne macia e saborosa. A brincadeira custava U$ 3.200. Já hoje o menu degustação (que inclui vários pratos de carne) neste restaurante custa U$ 700.

- Beefsteak Kawamura, Tóquio, Japão: este premiadíssimo restaurante oferece o que é considerado o melhor corte de carne do mundo, o famoso Kobe beef, renomeado por seu sabor, textura macia e cor marmórea (gordura entremeada). Também é bem caro: um bife de 120 g custa cerca de U$ 150.

- La Maison de L'Aubrac, Paris, França: paraíso dos carnívoros parisienes, este restaurante (logo perto dos Champs-Élysées) serve os mais famosos cortes da França 24 horas por dia. Entre as especialidades, a carne de raça Aubrac, considerada a melhor e mais preciosa do país.

- El Capricho, Leon, Espanha: templo da carne espanhola, no vilarejo de Jimenez de Jamuzis, o chef José Gordon cria os gados na própria fazenda por um tempo mais longo que o usual (cerca de 5 anos) e deixa maturar a carne por 90 dias para enaltecer o sabor.

- La Cabaña Las Lilas, Buenos Aires, Argentina: velho conhecido dos turistas brazukas (inclusive pertencente ao grupo brasileiro Rubayiat) na capital porteña. A carne procede diretamente das fazendas dos proprietários do restaurante e é grelhada soberbamente na brasa. Entre os pratos mais famosos o ojo de bife e o bife de lomo, mas também o porco servido com cebolinhas e laranja.

- Gibson’s Steakhouse, Chicago, EUA: já eleito o melhor restaurante de carne dos Estados Unidos serve apenas carnes procedentes de gados alimentados exclusivamente com milho e maturadas por 120 dias. Além da qualidade é famoso também por suas porções bem generosas.

- Moishes, Montreal, Canada: fundado em 1938 por um imigrante romeno, o restaurante se tornou um dos mais celebrados e exclusivos do país. Só trabalha com os melhores cortes certificados. Entre seus hospedes famosos, Robert de Niro e Penelope Cruz gostam de marcar presença por ali.

- La Cabrera, Buenos Aires, Argentina: mais um hot-spot para los hermanos. Localizado no bairro de Palermo, serve mais de 24 cortes de carne orgânica que o torna o "santuário" dos puristas da carne. O cardápio oferece também uma enorme quantidade de acompanhamentos.

- Relais de L’entrecote, Geneve, Suíça: presente também em Paris com mais 3 restaurantes, serve apenas a formula clássica do contrafilé com fritas, reproduzida hoje também por aqui em algumas casas do Brasil.

- Hawksmoor, Londres, Reino Unido: considerado o melhor lugar para se comer carne em Londres, a rede de steakhouse conta com 7 restaurantes na Grã Bretanha. A carne procede dos melhores gados criados no país e, apesar da alta qualidade, os preços são razoáveis: um bife de 350 g maturado por 55 dias custa pouco mais que U$ 20.

- Aragawa, Tóquio, Japão: mais um da capital do Sol Nascente. Desde sua fundação em 1967, o restaurante serve apenas cortes de gados da raça pura Tajima (uma das mais nobres do país) criados em fazendas próprias por 28 meses. Mas não se deixe enganar pela decoração modesta do local, pois a conta vai ser bem salgada.

- CUT, Londres, Reino Unido: localizado no Hotel Dorchester da capital inglesa, o premiado restaurante serve sensacionais cortes de carnes locais e importadas, sendo a de Wagyu o carro-chefe da casa. Uma magnífica carta de vinhos e um serviço impecável fecham o quadro deste badalado endereço londrino.

- Antica Osteria Nandone, Scarperia e San Piero, Itália: last but not least, o meu país! Quem acha que a Itália não tem carne de boa qualidade está enganado. A raça mais nobre é a Chianina e o prato mais típico é o famoso bistecca alla fiorentina. Neste restaurante no interior de Florença a carne é preparada logo na sua frente e é tão macia que se corta com uma colher.



Vale ressaltar que esta é a mera opinião do The Telegraph, que sendo subjetiva é opinável e contestável. Eu, por exemplo, senti a falta de representantes das muitas excelentes churrascarias brasileiras... não sei dizer se a matéria foi influenciada pela polêmica investigação da PF ou se, independente disto (e como acontece frequentemente) o Brasil acabou sendo “esnobado”...

Enfim, de qualquer forma a lista serve como um guia, traçando as principais diretrizes ao redor do planeta. E você, tem algum bom endereço do gênero (no Brasil ou no resto do mundo) para acrescentar?


segunda-feira, 6 de março de 2017

Bolso esperto: o melhor custo/beneficio da história da Espanha?


Custo/beneficio: a mágica combinação de palavras que faz brilhar os olhos dos consumidores. Terminologia usada e abusada, sendo que na verdade seria mais correto falar de relação preço/qualidade, praticamente aquilo que aqui no blog é conhecido como “Bolso Esperto”.

Aí todo mundo querendo entrar na aba mitológica do tal custo/beneficio. Cansei em avaliar vinhos que queriam me vender em nome do bom custo/beneficio, mas que na verdade só tinham bom custo; já o beneficio estava longe. O clássico vinho de 30 prata, mas que vale exatamente o que custa, ou até menos.

Já um rótulo de boa relação preço/qualidade (ou bolso esperto) não necessariamente tem que ser barato. Trata-se apenas de um vinho que entrega mais do que custa. Dando um exemplo prático: você prova um vinho sensacional sem saber o preço e decide que pagaria, digamos, 700 reais para ele e depois descobre que a garrafa em questão custa R$500: então, este vinho também oferece um bom custo/beneficio.

Dai, feita a devida introdução, chegamos ao vinho bolso esperto de hoje, que mediamente custa a “bagatela” de R$150: o Finca Villacreces, Pruno.   

A vinícola Finca Villacreces, situada na D.O. Ribera del Duero, foi fundada em 1994 e adquirida em 2004 pelo grupo Artevino (ao qual pertencem também as premiadas Izadi, Vetus e Orben). O Pruno procede de vinhedos de cerca de 40 anos de idade situados a 710m sob o nível do mar. Um Tempranillo (ou Tinto Fino, como é chamado por lá) quase varietal, complementado com 10% de Cabernet Sauvignon.  Maturação de 12 meses em barricas de carvalho francês.

Este vinho foi avaliado como o melhor vinho espanhol da história em relação a preço/qualidade na faixa de até 20 dólares. O nosso amigo Beto Parker lhe deu 94 pontos, chamando-o de "baby Vega-Sicilia", e outros exímios colegas sempre o pontuam com notas acima de 92.

Recentemente provei uma garrafa de safra 2014 e não é que é bom mesmo? Tem um nariz intenso de cereja e alcaçuz com notas tostadas de café e caramelo. Bom ataque de boca, corpo médio, ótima acidez e taninos gostosos para um belo final que devolve as sensações aromáticas citadas.

Não sei dizer se é o melhor custo/benefício da história da viticultura espanhola, nem vou entrar no mérito dos 92 ou 94 pontos, mas o considero uma boa compra pelo seu preço* (paguei R$129 numa promoção), considerando o nosso doente mercado.

O vinho é importado pela Adega Alentejana.

*Na Espanha custa cerca de 10 euros. Mas esta é outra história, infelizmente.