sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Tudo que você sabe sobre espumante é falso!


Muitas das coisas que se falam sobre vinho são subjetivas e contestáveis, especialmente no que se diz a respeito do gosto: este é totalmente pessoal e não há críticos ou livros que vão te convencer do contrário. Muitas teorias bonitas e aparentemente perfeitas, mas afinal das contas o paladar reina sempre soberano.
Mesmo assim há algumas certezas universalmente reconhecidas e tecnicamente irrefutáveis. Como por exemplo, o "teorema" sobre a perlage dos espumantes. Qualquer cursinho básico sobre vinho vai te ensinar que quanto menor a borbulha, tanto mais o espumante será elegante e fino. Demoramos décadas para chegar a este “axioma” e tínhamos certeza que ninguém teria como afirmar o contrário.
Outro postulado anexo (mas este é mais recente) é que flute não seria a taça mais apropriada para espumante pois seria mais indicada uma taça com um pequeno bojo, tipo uma tulipa (como da foto ao lado) ou até mesmo uma taça para brancos tranquilos.
Aí logo no final do ano, quando você já comprou os Champagnes com a borbulha mais fina do mercado e requintadas tulipas em cristal alemão, chega o The Guardian para estragar suas festas e demolir uma das poucas certezas que você tinha sobre vinho. O jornal britânico revela que Champagne com borbulhas mais grossas é melhor...
De acordo com um estudo capitaneado por Gérard Liger-Belair, cientista da Universidade de Reims, a dimensão maior da bolhinha favoreceria a expressão dos elementos aromáticos.  

Como se isto já não for suficiente, a matéria sugere também que a melhor taça para apreciar Champagne seria justamente a repudiada flute. Isto pelo mesmo motivo, ou seja para o desenvolvimento de aromas na presença de borbulhas grossas.
Sem querer contestar os “gurus” do The Guardian, mas já contestando, podemos ressaltar pelo uns pontos. Primeiro, o artigo, partindo do pressuposto (errado) que mais aroma equivale a mais sabor, automaticamente chega à conclusão (errônea) que borbulha grossa se traduz em vinho de melhor sabor. Em segundo lugar, se realmente temos que procurar mais expressão aromática, então seguindo o raciocínio esta se encontra mais facilmente numa taça mais ampla, o não?
Outra coisa, se mesmo quisermos entrar em terrenos perigosos: os técnicos me ensinam que na verdade a dimensão da borbulha tem mais a ver com a temperatura de serviço e com a  qualidade do vidro/cristal que com a fineza do espumante em si.
Enfim, dê sua opinião. Mas na dúvida é melhor jogar fora todos os Champagnes que tem na adega e começar a tomar Lambrusco. Em taça flute, obviamente.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Uma surpreendente degustação ás cegas de grandes Cabernets do mundo

Dentro da densa programação do recente Rio Wine & Food Festival 2016, um dos eventos certamente mais interessantes e estimulantes foi um seminário, seguido de 2 degustações ás cegas de grandes Cabernet Sauvingon do mundo, promovido pela vinícola chilena Santa Rita.

A ideia é apresentar a vinícola (que na verdade dispensa apresentações) para o mundo e descobrir se seus vinhos podem brigar com rótulos mais badalados, além de tentar identificar as diferenças que a cabernet sauvignon apresenta em diversas latitudes e longitudes do planeta.  A mesma prova já foi realizada 3 vezes em Londres e uma vez em Nova York, sendo esta do Rio de Janeiro a primeira fora deste eixo.

O evento aconteceu no badalado hotel Copacana Palace, com a participação do Marcelo Copello e Sérgio Queiroz (organizadores do festival), Elena Carretero (Gerente de assuntos corporativos e sustentabilidade da Santa Rita) e Manoel Beato (sommelier chefe do grupo Fasano, moderador da degustação) e com a presença dos 2 principais responsáveis pela elaboração  dos vinhos da Santa Rita, que  nos homenagearam com 2 ricos seminários.

Marcelo Copello apresentando o evento
O Andrés Ilabaca, enólogo chefe da vinícola nos iluminou com uma verdadeira “aula magna” sobre cabernet, com uma ampla abordagem que partiu da genética, terminando nos grandes terroirs onde a casta é cultivada no mundo.

"Aula magna" de Andrés Ilabaca



A seguir o primeiro painel de degustação ás cegas, formado por 6 grandes cabernets do mundo (em varietal ou em blend). Vale ressaltar que recebemos antecipadamente as informações sobre os vinhos da prova, apenas não sabíamos qual seria a ordem de serviço.  Os rótulos provados foram:

- Catena Zapata, Angélica Zapata 2011 (Mendoza, Argentina)
- Château Ste. Michelle Indian Wells 2012 (Columbia Valley, Washington, EUA)
- Blason d´Issan 2012 (Margaux, Bordeaux, França)
- Santa Rita Medalla Real 2012 (Maipo Alto, Chile)
- Avignonesi Cantaloro 2014 (Toscana, Itália)
- Jim Barry The Cover Drive 2010 (Coonwarra, Austrália)

O primeiro painel de degustação


Seis vinhos com evidentes diferenças: pra mim algumas ficaram nítidas já no nariz, onde identifiquei de cara o australiano (mais balsâmico e floral) e o chileno (pimentão verde). Para outros o paladar tirou a dúvida: a elegância e o corpo aveludado dava claros indícios sobre o Margaux e os taninos firmes e alta acidez entregaram o Toscano. Acabei apenas trocando o americano pelo argentino, erro até perdoável.

Quem ganhou este primeiro painel foi o Blason d´Issan, que foi também o meu preferido.

Seguiu coffee-break (que não tinha coffee, para não alterar o paladar, e umas comidinhas) e de volta para o “duro trabalho” fomos recebidos por mais uma bela master-class conduzida pelo Gerardo Leal, gerente de viticultura da Santa Rita, que nós explicou o trabalho minucioso da empresa dentro dos vinhedos a partir das sementes e um aprofundamento sobre o terroir de Alto Jahuel/Maipo Alto, onde são cultivadas as videiras da vinícola.

A seguir o segundo painel de degustação ás cegas, desta vez com 6 Cabernet Sauvignon ícones, no mesmo esquema, também varietais e cortes. Os vinhos foram:

- Château Pontet-Canet 2011 (Pauillac, Bordeaux, França)
- Santa Rita Casa Real 2011 (Maipo Alto, Chile)
- Solaia Marchesi Antinori 2011 (Toscana, Itália)
- Stag´s Leap Artemis 2012 (Napa Valley, California, EUA)
- Te Mata Coleraine 2010 (Hawkes Bay, Nova Zelândia)
- Rockford Rifle Range 2007 (Barossa Valley, Australia)



Aqui as coisas complicaram: os vinhos eram de maneira geral muito mais parecidos um com o outro, sinal que quando o nível sobe as diferenças tendem a diminuir. Pessoalmente no começo tinha apenas um vinho no qual teria apostado, o de Napa, pelo seu estilo marmelada (e de fato acertei). A partir daí foi seguindo por exclusão: o australiano, de safra mais antiga, só podia ser o mais evoluído e maduro do grupo, o chileno com a mesma nota inicial de pimentão e por aí vai. Até o final fiquei apenas com uma forte dúvida entre qual seria o francês e qual o italiano; acabei acertando a dupla, mas trocando um pelo outro. Deixei-me condicionar mais pelo instinto e pela memória, especialmente pelo fato que o Pontet-Canet que provei no ano passado era totalmente diferente deste, mas era de safra diferente, mais novo (2014) e servido imediatamente depois de aberto na minha frente na própria vinícola (veja aqui mais detalhes ): obviamente o vinho era sim elegantíssimo, mas ainda muito jovem e fechado; já este 2011 me pareceu perfeito e do fundo do meu nacionalismo esperava que o vinho que mais eu tinha gostado fosse o italiano, mas fui traído. Malditos franceses, mais uma vez tive que reconhecer a superioridade de vocês e mais uma vez tive que declarar o meu amor e paixão aos seus grandes vinhos!

Mas, por minha grande surpresa, o vinho mais votado pelos participantes neste 2º painel se mostrou ser o Santa Rita Casa Real! Não digo com demérito, pelo contrário, o vinho é muito bom, e a Santa Rita mostrou saber bem o que faz, se colocando a frente de 2 vinhos que já ganharam 100 pontos em mais de uma ocasião pelas maiores publicações do mundo. Mas pra mim o chileno teria ficado em 3º lugar, depois da dupla franco-italiana. Aí na verdade entra em jogo mais uma questão de gosto pessoal. Como bom italiano é lógico que prefiro vinhos do Velho Mundo, e é igualmente normal que uma plateia de brasileiros acabe se identificando mais com o vinho chileno, é uma questão que envolve familiaridade com os estilos.

Quanto á brincadeira da degustação ás cegas foi certamente divertida e didática e posso até me considerar satisfeito com a minha performance (se bem que poderia ter feito melhor, se tivesse pensado mais), cravando 8 de 12 vinhos. E mais ainda cometendo erros até de certa forma coerentes, trocando afinal 2 vinhos americanos (um do norte por um do sul do continente) de estilo bem parecido, sendo ambos varietais 100% cabernet e 2 vinhos europeus, também bem similares, sendo ambos 2 cortes bordaleses.
Afinal, eu que não me considero um grande degustador, fiz melhor que muitos supostos experts badalados que estavam por ali (shhhh, não disse nada...! ;-)).

O terraço do sempre charmoso Copacabana Palace





sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Chega aí o Rio Wine & Food Festival 2016!

* Entre os dias 17 e 23 de outubro, o Rio volta a receber o Rio Wine & Food Festival, um dos maiores eventos de vinho e gastronomia do mundo. Pioneiro no Brasil e já integrado ao calendário oficial de eventos da cidade, o projeto tem como objetivo atrair o grande público em torno do vinho e da gastronomia, desmistificando e democratizando a bebida, que em muitas oportunidades estará ligada a arte e cultura. 



Durante os sete dias do festival, haverá eventos em toda a cidade, da zona norte à zona sul, desde o mais chique restaurante até o mais carioca dos botecos. Democrático tanto geograficamente como socialmente.

Serão diversas degustações, jantares harmonizados, jantares temáticos, apresentações de países e regiões produtoras, grandes Chefs, aulas e treinamentos, palestras, seminários, workshop, e muitas promoções pela cidade, seja em estabelecimentos parceiros ou via internet. Arte, cultura, eventos de rua- Sete dias festejando o vinho e a gastronomia.

Com eventos que envolvem toda a cidade, o RWFF terá ações voltadas ao trade e ao consumidor final, com participações que vão de restaurantes e hotéis de luxo até comunidades pacificadas – com treinamento e degustação de vinhos, denominado Well Comunidade Drink – e mercados populares, como o Cadeg. O festival também aproveitará a oportunidade para debater o setor. Para isso, será realizado o seminário Vinho & Mercado na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O festival terá diversas ações que acontecerão simultaneamente, como as feiras de vinhos com estandes, degustações e venda promocional- no caso da Wine Out; ações promocionais de vinhos em lojas, supermercados, bares e restaurantes; jantares temáticos com degustações e palestras; concurso de designers de rótulos e garrafas; educação e treinamentos para iniciantes, garçons e sommeliers; presença nas praias e points da orla; e o Wine Bus, uma degustação itinerante para cariocas e turistas em ônibus panorâmico que passeia com os enófilos pelos principais pontos turísticos da cidade.

Além dos inúmeros eventos, a semana também contempla o Movimento Rio Rolha Zero, ação em que em diversos restaurantes abrem mão da cobrança da taxa de rolha para incentivar a experimentação e consumo durante a semana do festival. Alguns dos melhores restaurantes da cidade participação, como Mr. Lam, Alloro, Cipriani, Bottega del Vino, Unico e Gero.

O carioca de alguma forma será impactado positivamente e o turista se verá motivado a vir a cidade movido pelo desejo de provar um bom prato ou degustar um bom vinho- O cenário ajuda.

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O evento começa oficialmente dia 17/10, mas já será possível sentir o clima a partir de amanhã, dia 15/10 em soft opening no Cadeg de Benfica.

Confira a agenda completa e mais informações no site e página de Facebook oficiais:

http://www.riowineandfoodfestival.com.br
https://www.facebook.com/riowineandfoodfestival

*Texto fornecido pela organização do evento






domingo, 18 de setembro de 2016

Os melhores 50 vinhos italianos de 2016 (mas também não...)

Todo ano publicamos aqui a lista dos 50 melhores vinhos do BIWA, o Best Italian Wine Awards, o prêmio mais “político” da Itália...

Sobre a politização é obviamente uma provocação: por aqui temos quase o dever de polemizar, e justamente por isto que afirmo que desde a primeira edição esta é a lista que parece agradar sempre os grandes nomes, ficando até previsível demais. Por outro lado devo admitir que ao longo dos anos está começando a seguir outros rumos e, embora a lista continue recheadas de grandes produtores, está a cada vez mais deixando mais espaço para novos nomes.
Também vale ressaltar que o time de degustadores cresceu, contribuindo portanto para um leque de maior variedade. São eles:

- Tim Atkin: Master of Wine e jornalista inglês
- Luca Gardini: melhor sommelier do mundo em 2010
- Andrea Grignaffini: diretor da revista Spirito Divino
- Christy Canterbury: Master of Wine e jornalista americana
- Daniele Cernilli: um dos fundadores do Gambero Rosso
- Pier Bergonzi: jornalista e sommelier
- Antonio Paolini: crítico eno-gastronómico
- Kenichi Ohasi: único Master of Wine japonês
- Amaya Cervera: jornalista de vinho espanhola
- Marco Tonelli: sommelier e jornalista
- Luciano Ferraro: responsável da coluna de vinho do Corriere della Sera

Confira a seguir a lista de 2016 e, se quiser, compare com as edições anteriores clicando nos links no final do post.









1 Casanova di Neri – Cerretalto 2010, Brunello di Montalcino Docg
2 Marisa Cuomo – Fiorduva Furore Bianco 2014, Costa d’Amalfi Doc
3 Tenuta San Guido – Sassicaia 2013, Bolgheri Doc
4 Feudo Maccari – Saia 2014, Nero d’Avola, Sicilia Doc
5 Ciacci Piccolomini d’Aragona – Pianrosso  S. Caterina d’Oro Riserva 2010, Brunello di M. Docg
6 G.B. Burlotto – Monvigliero 2012, Barolo Docg
7 Damijan Podversic – Bianco Kaplja 2012, Venezia Giulia Igt
8 Duemani – Duemani 2013, Costa Toscana Igp
9 Marco De Bartoli – Vecchio Samperi Solera
10 Terlano – Terlaner I Grande Cuvée 2013, Alto Adige Terlano Doc
11 Alberto Lusignani – Vin Santo di Vigoleno 2006, Colli Piacentini Doc
12 Elvio Cogno – Vigna Elena Riserva 2010, Barolo Docg
13 Skerk – Malvasia 2013, Venezia Giulia Igp
14 Fattoria Zerbina – Scaccomatto 2013, Albana di Romagna Passito, Docg
15 Podere Le Ripi – Lupi e Sirene 2011, Brunello di Montalcino Riserva, Docg
16 Argiolas – Turriga 2012, Isola dei Nuraghi Igt
17 Ca’ del Baio – Riesling 2014, Langhe Doc
18 Mascarello e Figlio – Monprivato 2011, Barolo Docg
19 Sobrero – Pernanno Riserva 2010, Barolo Docg
20 Biondi Santi, Tenuta Greppo  – Tenuta Greppo 2010, Brunello di Montalcino Riserva, Docg
21 Castellare di Castellina – I Sodi di San Nicolò 2012, Toscana Igt
22 Giovanni Rosso – Ester Canale Rosso Poderi Vigna Rionda 2012, Barolo Docg
23 Zidarich – Vitovska Kamen, Pietra 2014, Venezia Giulia Igp
24 Gravner – Bianco Breg 2008, Venezia Giulia Igt
25 Le Potazzine – Brunello di Montalcino 2012, Docg
26 Uberti – Quinque Extra Brut 2007, Franciacorta Docg
27 Berlucchi – Guido & c. Palazzo Lana Extreme Extra Brut Riserva 2007, Franciacorta Docg
28 La Scolca -Gavi dei Gavi La Scolca D’Antan 2005, Docg
29 Jermann – Vintage Tunina
30 Ca’ del Bosco – Franciacorta Vintage Collection Dosage Zéro Noir 2006, Docg
31 Le Ragnaie – Brunello V.V. 2011, Brunello di Montalcino Docg
32 Massolino – Vigna Rionda Vigna Rionda Riserva 2010, Barolo Riserva Docg
33 Mocali di Ciacci Tiziano –  Vigna delle Radunate Riserva 2010, Brunello di Montalcino Docg
34 Il Poggione – Vigna Paganelli Riserva 2010, Brunello di Montalcino Docg
35 Fratelli Bucci – Villa Bucci Riserva 2013, Castelli di Jesi Verdicchio Docg
36 Torre dei Beati – Bianchi Grilli 2014, Pecorino Abruzzo Doc
37 Franz Haas – Manna 2014, Vigneti delle Dolomiti Bianco Igt
38 Livio Felluga – Terre Alte 2013, Rosazzo Docg
39 Conte Emo Capodilista – Cuore di Donna Daria, bianco da tavola passito
40 Tramin – Terminum 2013, Alto Adige Gewurztraminer Vendemmia Tardiva Doc
41 Canalicchio di Sopra – Brunello di Montalcino 2011 Docg
42 Siro Pacenti – Pelagrilli 2011, Brunello di Montalcino Docg
43 Roagna – Pajè Vecchie Viti 2010, Barbaresco Docg
44 Giovanni Sordo – Perno 2012, Barolo Docg
45 Bussia Soprana – Vigna Colonnello Riserva 2009, Barolo Docg
46 Fontodi – Fleccianello della Pieve 2012 Colli Toscana Centrale Igt
47 Valentini – Montepulciano 2012, Doc
49 I Clivi – Clivi Brazan 2014, Collio Doc
49 Benito Ferrara – Vigna Cicogna 2015, Greco di Tufo Docg
50 Zucchi – Rito 2015, Lambrusco di Sorbara Dop



sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Resfriado? Esqueça o Vick e tome este País!

Neste friozinho do inverno você ficou com resfriado e nariz entupido? Deixe o spray nasal do lado, pois uma taça de vinho País vai resolver seu problema melhor que qualquer Vick da vida!
Obviamente estou exagerando, mas a característica balsâmica deste vinho é bem marcante, tanto no nariz quanto na boca.

Mas vamos por degraus.

Você deve já ter ouvido falar da uva país, né?  Ela foi a primeira uva vinífera a ser plantada no Chile, levada lá há 400 anos pelos missionários espanhóis (por isto também conhecida como Misión). Leia a história completa aqui 

Longamente esquecida, em favor das mais famosas variedades internacionais está recentemente sendo redescoberta e aos poucos se tornando a uva mais cool do Chile.

Não é fácil encontrar em terras brazukas vinhos produzidos totalmente a partir desta única casta, ma já em corte temos alguns exemplares (como por exemplo o que escolhi para a seleção do mês do Clube dos Vinhos Vinitude ).

Já o exemplar desta matéria eu trouxe diretamente do Chile:

Viña Gonzalez Bastías Matorral País 2010



Procedente da área costeira de Maule, este vinho praticamente se encaixa na famigerada categoria definida como “natural”. As parreiras de 200 anos são conduzidas de forma biodinâmica, a vinificação feita com menor intervenção humana possível, maturação em ânforas de barro.

O vinho pode não ser o melhor da vida (alías, bem longe disso), mas certamente é um dos mais interessantes que provei recentemente, pela suas peculiaridades bem diferentes.


Como disse, no nariz é uma explosão de mentol/ hortelã, eucalipto, talco, e todos os produtos balsâmicos, junto com fruta vermelha tipo cereja e morango, com notas de baunilha e canela. Na boca as mesmas sensações são repetidas em camadas, num corpo leve e macio, onde se destaca a pronunciada acidez. Os taninos são finos e redondos e o álcool de 14% é imperceptível.  A garrafa acabou rapidamente, sinal que foi bom. É aquela coisa: é o meu vinho? Certamente não. Compraria novamente? Certamente sim.


segunda-feira, 25 de julho de 2016

Vertical Biondi-Santi (e mais alguns crimes contra a humanidade enológica...)!


Falar em Brunello di Montalcino é de fato falar em Biondi-Santi: as duas coisas são imprescindíveis e indivisíveis, pois a história deste prestigiado vinho italiano se funde com a história da vinícola. 

Já em 1867 o vinho produzido pelo fundador Clemente ganhou Menção de Honra na Exposição Universal de Paris, reconhecimento enologicamente extraordinário, porque na época os franceses se consideravam os únicos produtores no mundo de vinho de qualidade. Mas de fato a invenção do Brunello é atribuída a seu filho Ferruccio Biondi-Santi, em 1888.

A denominação Brunello di Montalcino seja hoje talvez a mais badalada da Itália, tendo sido inclusive o primeiro vinho a ganhar a designação de DOCG (em 1980). E junto com Barolo certamente representa a tipologia de vinho italiano mais apto a envelhecer, dotado do enorme longevidade (podendo chegar saudavelmente até 40 anos de vida).

Hoje as empresas vinícolas produtoras de Brunello são mais de 200, cada um no seu estilo, mas a Biondi-Santi continua mantendo mais tipicidade e tradição, sendo considerada a jóia da coroa da região. Seus Brunellos merecem ser provados pelo menos uma vez na vida.

Graças ao bom Papai do Céu eu tenho provado estes rótulos até com certa freqüência (embora baixa), mas recentemente nos demos um presente bem mais raro: uma vertical de 4 safras, mais um Rosso (de bônus).

Vale lembrar que a propriedade “Tenuta il Greppo” conta com apenas 20 hectares dedicados para  Brunello, cerca de 60mil garrafas por ano, todas numeradas, mais umas 10mil para a Riserva.
Os Brunellos estagiam por 36 meses em toneis de carvalho de Eslavónia (região da Croácia, a não ser confundida com Eslovénia, o país) e mais 24 meses em garrafa. Eles têm longevidade variável de 20 a 40 anos, dependendo da safra e do armazenamento. Já os Rossos, estagiam por 12 meses no mesmo carvalho, mas procedem dos vinhedos mais jovens da propriedade e são para pronto consumo.

A nossa seqüência foi a seguinte:

Biondi-Santi Rosso di Montalcino 2013
Biondi-Santi Brunello di Montalcino Annata 2004
Biondi-Santi Brunello di Montalcino Annata 2007
Biondi-Santi Brunello di Montalcino Annata 2008
Biondi-Santi Brunello di Montalcino Annata 2009


Uma ressalva importante: o produtor se declara fortemente contrário ao uso de decanter e recomenda abrir as garrafas 8 horas antes da degustação. Obviamente não fizemos nada disso: como marcamos num restaurante a logística se tornaria complicada. Portanto, mesmo contrariando o produtor, abrimos praticamente na hora, jogamos poucos minutos no decanter e bebemos em seguida. Era um dia de “maldade” haha.

Quem acompanha o blog sabe que por aqui costumamos cometer crimes como infanticídio, violência, extermínio de massa, e outras atrocidades do gênero contra os amados vinhos, então imagine se a gente ia deixar de apreciar esta vertical mesmo não tendo as condições ideais!

Mas de fato, devo reconhecer, os vinhos mereciam ser esperados mais um pouco e, sobretudo, aerados mais longamente; portanto não repita isto em casa! Aliás, se você tiver um Brunello Biondi-Santi de safra 2004 na adega a dica é a seguinte: abra apenas em 2044 e deixe respirar por 8 horas, ok? Depois não diga que não avisei.

Brincadeiras a parte, mesmo com todas as contra-indicações do caso, nos divertimos bastante. Afinal, sobre o vinho eu digo sempre: melhor 3 anos antes que 3 meses depois.

Os vinhos, inútil dizer, foram todos extraordinários, com aquele perfume inconfundível de Sangiovese e aquela acidez vibrante típica de seus vinhos. Todos de textura aveludada, grande profundidade, taninos finos e abundantes, muito equilíbrio e final de longuíssima persistência.

Sem entrar em muitos detalhes: o 04 foi o grande ganhador da noite, finíssimo e saboroso; o 07 foi o mais pronto dos 4, com mais corpo e a fruta em destaque; já o 08 lembrou o 04 com mais austeridade e o 09 ficou em último lugar apenas pela extrema juventude. 
Mas se trata de nuances, pequenas diferenças entre uma safra e outra, mas que confirmam a consistência e o elevado nível destes fantásticos vinhos que fazem jus ao nome que levam.










domingo, 3 de julho de 2016

Visitando Almaviva

Chovia muito sobre Santiago, com temperatura por volta dos 5 graus e um vento frio, que junto com a umidade do ar levava a sensação térmica perto de zero. Definitivamente não o melhor dia para visita á vinícolas. Mas isto faz parte, e afinal estava me esperando não uma vinícola qualquer e sim uma das mais badaladas da America Latina: a Almaviva. Então armado de um bom casaco e um bom guarda-chuva sai para esta nova aventura.

A vinícola fica nos arredores da cidade, em direção sul, Puente Alto. Por lá ficam localizadas outras vinícolas ícones como a Vinhedo Chadwick (praticamente ao lado) e a própria Concha Y Toro. Dá para chegar de taxi ou de ônibus. A primeira opção pode sair um pouco cara (são cerca de 30 km do centro de Santiago) e a segunda pode ser arriscada se não conhecer o ponto de descida. No meu caso, na dúvida também pelo trânsito parado por causa da chuva, optei por um meio termo: metro + taxi. Desci na Plaza de Puente Alto, ponto final da linha 4 (pode ser na estação Las Mercedes também) e de lá peguei um taxi para mais uns 6-7km finais até a vinícola. Ficou rápido, prático e econômico.  
Cheguei assim á vinícola no horário marcado, aonde a simpática e competente señorita Christel me conduziu numa interessante visita pelas instalações da propriedade.



Devido às condições climáticas adversas decidimos pular o passeio nos vinhedos e fomos direto ao assunto.

O vinhedo

Vinhedo de Cabernet Sauvignon, visto do 1o andar da propriedade


Para quem ainda não sabe a vinícola é fruto de uma joint-venture entre uma das mais badaladas vinícolas do Velho Mundo, o Chateau Mouton-Rothschild, e uma das mais badaladas do Novo Mundo, a Concha Y Toro. A pareceria entre as duas partes foi assinada em 1997, com o intuito de criar um vinho chileno nível Premier Grand Cru Classé de Bordeaux.

No Chile não existe uma classificação oficial de vinhos, mas mesmo assim o Almaviva foi o primeiro vinho chileno classificado como “Primer Orden”, para trazer em espanhol o conceito de premier cru. Para isto o vinho tem que ser produzido a partir de um único vinhedo, numa única vinícola e ter sua própria equipe, sendo as 3 coisas dedicadas exclusivamente para a produção de um único vinho.
O nome Almaviva vem da literatura francesa: o Conde de Almaviva é o herói da peça teatral Le Mariage de Figaro (As bodas de Figaro, em português), que depois se tornou também uma ópera do Mozart. Já o logo da casa homenageia a história ancestral do Chile reproduzindo o símbolo da Terra e do Universo na visão Mapuche. O desenho aparece no “kultrun”, um instrumento de percussão usado nos rituais deste povo indígena.

O kultrun

Os 85 hectares de vinhedo são plantados em sua maior parte com cabernet sauvignon, e com pequenas parcelas de merlot, cabernet franc, carmenere e petit verdot. Solo pedregoso e calcário, irrigação feita por um engenhoso sistema de gotejamento subterrâneo.
A colheita é rigorosamente manual e as uvas são previamente selecionadas também manualmente e depois numa triagem mais restrita através de um leitor óptico. Por gravidade o mosto vai para os toneis de aço onde fermentam em temperatura controlada e finalmente para o descanso final em barricas de carvalho novas.

A sala das barricas


No final da visita numa linda salinha de jantar nos esperava uma garrafa do Almaviva 2009 para degustação. O blend desta safra foi o seguinte: 73% Cabernet Sauvignon, 22% Carmenere, 4% Cabernet Franc, 1% Merlot, com estágio de 16 meses em barricas de carvalho francês novas.
O vinho surpreendeu pela fruta em grande destaque mesmo depois de 7 anos: cassis, cereja, morango com notas de tabaco, café e baunilha. As mesmas sensações repetidas em camadas numa boca encorpada, elegante e de textura aveludada. Super-equilíbrio entre acidez, álcool e taninos maduros, com a madeira bem integrada, para um final de longa persistência.

Salinha de prova



Na taça: Almaviva 2009

A visita foi muito boa, tudo lembrou muito o esmero e o primor dos grandes chateaux de Bordeaux. Muito obrigado a Almaviva e sua equipe pela disponibilidade e cortesia.

Confira mais fotos a seguir

Borras

Dois personagens da mitologia :-)

Processo de engarrafamento e embalagem

O laboratório para as analises quimicas 





segunda-feira, 13 de junho de 2016

Jantar harmonizado italiano na Prima Bruschetteria!

Os chefs Cristiano Lanna e Erik Nako relançam os menus harmonizados mensais da Prima Bruschetteria com menus inspirados em regiões da Itália. A Prima Tradizione, dia 14 de junho, terça, terá receitas da região do Piemonte. Para começar, tartare de vitela com cogumelos portobello harmonizado com Dolcetto d´Alba Madonna di Corno 2014; seguido por risoto ao vinho tinto e queijo pecorino com Chianti Clássico Borgo Scopeto 2012 e jarret de cordeiro braseado no próprio molho com purê de batatas e aspargos com Nebbiolo Sbirolo 2012. Para sobremesa, pudim de chocolate, café e biscoitinhos amaretti com Porto Ruby Royal O’Porto. O menu completo custa R$ 165 por pessoa e é preciso reservar antecipadamente pelo telefone 3592-0881.


Prima Bruschetteria - Rua Rainha Guilhermina 95, loja C, Leblon. Tel.: 3592-0881. Capacidade: 60 lugares. De domingo a quarta-feira, das 12h à 0h; quinta a sábado, das 12h à 1h. Cc: V e M; Cd: Visa Eletron e Rede Shop; CR: Visa Vale e TR (dias úteis, das 12h às 16h). www.primab.com.br





quarta-feira, 1 de junho de 2016

E aí, vai um vinho em cápsula?


Você que toma seu café expresso em cápsulas (como eu), saiba que está atrasado: chegou a hora de beber seu vinho em cápsula também!

Na verdade mais que de cápsulas se trata de frasquinhos, tipo tubinhos de ensaio, mas o concept é mais ou menos o mesmo. A idéia é de poder degustar vinho em taça em casa sem ter a obrigação/preocupação de abrir e/ou terminar uma garrafa inteira.

Os frasquinhos contêm doses de 100ml (muito míseros, na verdade): oportunamente inseridos na cafeteira maquina especialmente projetada que rapidamente consegue oxigenar e resfriar o líquido, servem rapidinho uma taça (mísera) de vinho já arejada e na temperatura ideal.


As opções de vinho são múltiplas e já aderiram à idéia muitos produtores de várias regiões francesas, incluindo as mais badaladas. Assim, por exemplo, é possível comprar uma mono-dose de um Grand Cru Classé de Bordeaux, um Premier Cru da Borgongna, um Hermitage, um Chateauneauf-du-Papé até chegar aos vinhos mais simplesinhos.

Daí, igual ao concept da casa de café que lançou a moda das cápsulas no mundo, a empresa francesa 10-Vins que inventou e patenteou este sistema, reproduz o estilo sofisticado nas embalagens bonitinhas, kits de design refinado e outras frescuras amenidades; ainda é possível assinar o clube exclusivo que envia aos seus assinantes um número predefinido de frasquinhos por mês.

Honestamente ainda não decidi se é uma grande invenção ou uma bobagem intergaláctica. 
Mas depois de ver os preços acho que estou mais tendendo para a segunda opção: a máquina D-Vine custa 890 Euros e os (míseros) frasquinhos vão de 2 a 16 Euros.






domingo, 22 de maio de 2016

Caixa WineRun atrai 1500 corredores para o Vale dos Vinhedos

*O estreante Ricardo Julio dos Santos, de Curitiba (PR), foi o grande vencedor da Caixa WineRun (Corrida de Vinho), neste sábado (21/05), no Vale dos Vinhedos (RS). Ele completou a prova em 1h28min. Daniela Santarosa, de Porto Alegre (RS), venceu entre as mulheres, com o tempo de 1h52min. Ao todo, 1.500 corredores participaram da prova que se consolida como uma das cinco principais meias-maratonas temáticas do país.
A quinta edição aconteceu sob frio e muita neblina. “A pista estava úmida, muito lisa, com cascalho solto na maior parte do percurso. Foi uma prova muito difícil”, comenta o vencedor da prova Ricardo dos Santos. “Mas o cenário compensa. Foi um trajeto muito bacana”, destaca. Ele diz que voltará no ano que vem para defender o título. “Quero baixar meu tempo”, avisa.
A união de rigor técnico na prova e o entorno com uma das paisagens mais lindas do Brasil formam um cenário que atrai atletas de todo o Brasil. Corredores de 17 estados participaram da Caixa Wine Run. A maioria (58%) são mulheres. “A prevalência de mulheres é comum nesta prova, mas é raro em maratonas”, afirma Sergio Oprea, diretor da Zenith Sports Marketing, uma das organizadoras do Caixa WineRun.
Daniela Santarosa, vencedora entre as mulheres, repetiu o gosto da vitória pelo segundo ano consecutivo. No ano passado, ela ficou em 1º lugar na categoria dupla mista. “Agora teve um gosto especial, porque ganhei sozinha”, comemora. “Foi uma prova dura, com muitas subidas. O cenário, porém, é gratificante. O clima de confraternização pré-prova e a festa pós-corrida vale muito. É a única corrida gourmet do país”, elogia.

O jornalista Sérgio Xavier, que participou da prova, tem uma classificação peculiar para a corrida. “É uma maraturismo”, define. Isso porque, além de 85% do percurso de 21 km ser em meio à natureza, os participantes podem aproveitar o fim de semana para realizar tours guiados por vinícolas, passeio de Maria Fumaça e degustações de sucos de uva, vinhos e espumantes, bem como estabelecer contato com a cultura e gastronomia da Serra Gaúcha.
Para Christian Burgos, publisher da revista Adega, também organizadora do evento, a proposta da Caixa WineRun fomenta de modo sustentável o enoturismo nos principais destinos vitivinícolas nacionais, levando em conta a infraestrutura local para receber os atletas com conforto, charme e eficiência.
O percurso da prova qualifica a meia-maratona na categoria de um trail run, com mais de 85% do percurso com piso que intercala terra, cascalho e calçamentos com paralelepípedos entre paisagens nativas e vinhedos. A largada ocorreu no varejo da Gran Legado e a chegada foi no Campo da Capela das Almas. Foram apurados vencedores em nove categorias individuais por idade e três de duplas por gênero (incluindo a mista).


Mais informações
A Wine Run é parte de um conceito mundial bem-sucedido em países com tradição na produção de vinhos. Além do Brasil, Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha e Portugal realizam corridas de rua em regiões vitivinícolas. Os números ajudam a explicar o sucesso meteórico da Caixa WineRun Brasil. Existem no país cerca de 5,5 milhões de praticantes de corrida de rua, e um número cada vez maior deles busca harmonizar sua prática esportiva, com a socialização e o turismo nas mais diversas cidades do mundo.


“A soma dos negócios de um lado das corridas de ruas e do outro do mercado de vinhos no Brasil chega a R$ 10 bilhões. Estávamos certos do sucesso em inovar oferecendo entretenimento esportivo temático nos melhores destinos vitivinícolas do país para aqueles que têm a corrida como esporte e o vinho como estilo de vida”, explica Sergio Oprea. 



“Conhecer o principal destino de enoturismo do Brasil, correndo por suas lindas paisagens é inesquecível. Ao associar isso à cultura do vinho fizemos com que as pessoas voltassem ano a ano, e cada vez com mais amigos. Este ano, mais de 30 assessorias esportivas inscreveram seus atletas para correr e celebrar conosco”, acrescenta Christian Burgos.




Patrocínio e apoio: Organizada pela Zenith Sports Marketing e pela Revista Adega, a Caixa Wine Run tem o patrocínio da Caixa Econômica Federal e o apoio da Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves, Hotel Dallonder, Saloman, Bento Convention, Giordani Turismo, Rota Cantinas Históricas, Água da Pedra, Orquídea, Café 3 Corações Soprano, Locadora Exclusiva, Miolo, Gran Legado, Vinícola Aurora, Suvalan e Ibravin. 




Crédito das fotos em anexo: Jefferson Bernardes / Agência Preview


* Texto e fotos fornecidos pela assessoria de imprensa do evento