sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Um Chardonnay espetacular!

Falar em Chardonnay é um pouco como falar em Pinot Noir: é Borgonha, tudo o resto é outra coisa. Vinhos feitos a partir destas duas uvas em qualquer outro lugar do mundo podem ser bons (e muitas vezes de fato são), mas são totalmente diferentes, e compara-la com seu terroir de origem é um inútil exercício de prosa. Enquanto outras castas e até terroirs foram recriados e descobertos com sucesso em outros ambientes, a Borgonha continua lá, única e irreproduzível.

O vinho de hoje é um belo Puligny-Montrachet 2010, produzido por Labaume Ainé et fils, uma das mais antigas maisons da Borgonha

Montrachet é um pequeno vinhedo, e ao mesmo tempo, o mais reputado do mundo para vinhos brancos. Ao redor dele uma série de vilarejos e aldeias dão o nome às suas Appellations mais abrangentes, todas de alto nível.

De maneira geral o estilo de branco em Puligny-Montrachet é muito mineral, com o carvalho mais contido em comparação com os brancos de outras denominações da Côte de Beaune, mostrando um caráter certamente mais elegante e refinado que os demais.


O vinho é delicado, mas muito complexo. Apesar de estar já com 6 anos é ainda muito vivo e rico. De linda cor amarelo-dourado, seu buquê aromático vai de lavanda a baunilha, passando por manteiga, amêndoas, erva doce, eucalipto, com mineralidade acentuada, lembrando grafite e pedra molhada. Na boca é envolvente e sua acidez pungente é amaciada pelo seu corpo acolhedor e redondo. Final de longa persistência.  Um vinho espetacular que merece ser provado.

Vinho:
Puligny-Montrachet
Safra:
2010
Produtor:
Labaume Ainé et fils
País:
França
Região:
Borgonha
Uvas:
Chardonnay100%
Alcoól (Vol.)
13%
Importadora:
Ruby Wines
Custo médio:
R$ 320,00
Avaliação MV
*** (memorável)


domingo, 21 de fevereiro de 2016

Retomando a polêmica: Vinho Natural X Vinho Convencional


Por aqui gostamos de polemizar, portanto seguindo a tendência do momento (que dura há 20 anos), vamos voltar mais uma vez ao debate:  vinho "convencional" vs. vinho "natural".

Sem entrar exatamente na disputa do vinho com ou sem defeito que parou o País por alguns dias (SQN) e pela qual encontrará 12 simples desculpas neste outro post a coisa que me incomoda é a divisão de “classes”, de categorias, do eleitorado. 
Parece que temos que tomar obrigatoriamente uma posição. Eu não posso gostar de um e também do outro. Tem que escolher entre um time o ou outro. Penalidade: prisão perpétua.

Eu já disse e volto a dizer: contanto que o vinho me dê prazer, não tenho este tipo de preconceito.  Obviamente tem um estilo que eu prefiro, e, claro, se o vinho e os vinhedos forem tratados de forma mais "saudável", melhor ainda. Senão paciência.

Não me entenda mal, eu tenho bebido e elogiado (inclusive aqui no blog) muitos vinhos definidos "naturais", adoro literalmente alguns deles, mas não por isso deixei de beber vinhos "convencionais". Assim como os adeptos dos convencionais deveriam deixar o preconceito do lado e ver que existe vinho natural excelente.


O que não entendo nesta divisão é que deveríamos ficar horrorizados na frente de um vinho industrial (defina isto para começar), mas podemos continuar comendo qualquer porcaria. Tem muito mais aditivos/tratamentos/sulfitos numa alface, num pacote de arroz, num molho de tomate, numa fruta seca, que num vinho qualquer. Parece-me um pouco como aquela passista de escola de samba que se diz vegana, mas que veste uma fantasia feita com centenas de plumas de pássaros raros. Um pouco de coerência, pelo amor. Uma produtora de vinhos ‘’naturais’’ que só usa bolsas em couro da Louis Vuitton e Prada seria ou não um contra-senso?

O meu amigo Eduardo Angheben (produtor admirável e incansável do Vale dos Vinhedos) fez uma comparação muito exemplificativa, usando um paralelismo com a comida: o natural seria como a pessoa caçar o bicho, matar com uma lança (claro, qualquer arma de fogo seria proibida) e come-lo cru logo em seguida; já do outro lado, o industrial, seria o Mc Donald's. Mas entre estes dois opostos existem centenas de opções, meios caminhos, tendentes pra cá ou pra lá, todas igualmente válidas.

O vinhedo pode ser tratado de forma orgânica, mas o vinho ser manipulado à vontade dentro da adega, ou vice-versa, o vinhedo pode ser tratado quimicamente, mas a vinificação ser a menos interventiva possível, e aí?

Eu conheço (e vocês também) um produtor no sul que declara seu vinhedo como totalmente orgânico e biodinâmico, mas anda com um trator dentro dele. Então, é natureba ou não?

Os infames sulfitos: alguns (muitos) dos naturebas usam, outros (poucos) dispensam a utilização. What now?

Aaah ok, o problema então é das tais das leveduras. Outro produtor (vocês conhecem também) só fermenta com as indígenas, mas o vinhedo é tratado com métodos fitossanitários. E agora? Em que facção ele se classificaria?

Detalhe: as leveduras selecionadas também são naturais, caso não saiba.



Então vamos parar com esta divisão polêmica que não leva a lugar algum. Existe vinho natural fantástico e vinho natural sofrível, o mesmo diga-se para vinho convencional.

E citando este outro post (em que expliquei a questão para os alienígenas) afinal este luta entre as “forças do bem” e as “forças do mal” existe de fato mais entre os consumidores que entre os produtores, pois estes últimos sabem que precisam um do outro: ''os industriais precisam de um artesanato crível, que divulgue a idéia de um produto com identidade nacional e de qualidade. Os artesãos precisam de uma indústria que gaste o que puder em propaganda e marketing para reforçar a imagem do vinho local. Desta forma os dois sobrevivem e até se abrem novos mercados''.

P.S. homenageando o recém falecido Giacomo Tachis, provavelmente o maior enólogo que a Itália já conheceu (ou você talvez nem goste do Sassicaia?) vou citar esta máxima dele: “a coisa mais parecida ao vinho natural é o vinagre”. 
Uma provocação, é claro.







segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Conheça o primeiro vinho italiano de 100 pontos Robert Parker

A história da vinícola Tua Rita é peculiar, tendo seu sucesso nascido quase por mero acaso: quando em 1984 Rita e Virgilio adquiriram a propriedade no meio da Maremma Toscana, a idéia era apenas viver em contato com a natureza, cultivando na própria terra frutas e verduras para as necessidades familiares. Mas a paixão pelo o vinho falou mais alto: a partir de uma vinha de 2 hectares (cuja produção  colocou logo a Tua Rita no topo dos produtores de garagem) o casal foi adquirindo mais terrenos até chegar aos 30 hectares atuais. E hoje a vinícola é uma das mais badaladas do mundo inteiro.

Seu Redigaffi faz parte da tríade de merlot supertoscanos (junto com o Castello di Ama L’Apparita e o Le Macchiole Messorio) que são freqüentemente comparados ao Petrus, mas custando 10 vezes menos. Foi o primeiro vinho italiano a obter os cobiçados 100 pontos pelo Robert Parker*, na safra de 2000 e fica constantemente nos leilões de vinho mais importantes do mundo, de Christie’s a Sotheby’s. O rótulo inclusive também faz parte do índex da Liv-Ex, a Bolsa de Vinhos de Londres.

Redigaffi é o nome de um riacho que passa perto de um vinhedo de solo argiloso, conduzido de maneira orgânica. O vinho faz afinamento por 18-20 meses em barricas francesas de primeiro uso e é produzido em 10mil garrafas.

Quem me conhece sabe da minha idiossincrasia com Parker e afins, mas de vez em quando na nossa turma de amigos enófilos brincamos de ‘’vinho ostentação’’ e este era um vinho dos mais comentados, por isso voltando de minha última viagem á Itália trouxe na mala um 2009. Nada barato tampouco por lá: paguei 220 euros (outras safras eram bem mais caras), mas aqui estaria custando mais de R$ 2mil, portanto continua valendo.

Já tinha provado um excelente 2006 alguns anos atrás e este 2009 ficou no mesmo patamar. Bastante extraído na cor, tem um nariz de cereja, cassis e sous bois com folhas secas, terra úmida e musgo. Na boca é muito fino, de bom corpo, sedoso e volumoso. Grande equilíbrio entre boa acidez, madeira bem integrada e taninos numerosos, mas finos e maduros, para um final com notas frutadas de longa persistência.

Grande vinho, não há duvida, mas é inútil ressaltar que pra mim não vale quanto custa. Para brincar de vinho ostentação a garrafa cumpre bem seu papel (só em ver o rótulo o pessoal ficou boquiaberto), mas mesmo ele custando 10 vezes menos que o Petrus, eu compro outros merlots italianos melhores e 10 vezes mais baratos que este.


* Vale ressaltar que quem fazia as avaliações de vinhos italianos pela Wine’s Advocate na época era o Antonio Galloni (hoje seguindo carreira solo com Vinous), que sempre me pareceu a pessoa de gostos mais finos de todo o time.


A vinícola Tua Rita

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Novas uvas resistentes a doenças prometem revolucionar a viticultura italiana!

10 novas castas de uva resistentes a doenças e pragas: esta é a notícia que poderia mudar o mundo da viticultura italiana.

Depois de 15 anos de pesquisa e mais de 100 cruzamentos, foram realizadas 10 castas (5 tintas e 5 brancas) completamente novas. Os estudos foram realizados na universidade agrária de Udine (Friuli Venezia-Giulia),  onde foram observadas e analisadas mais de 24mil plantas. O projeto contou também com o apoio da Unione Italiana Vini e do Vivai Cooperativi Rauscedo, numa sinergia entre empresas públicas e privadas.

As novas uvas foram assim denominadas:
Fleurtai, Soreli, Sauvignon Kretos, Sauvignon Nepis, Sauvignon Rytos, Cabernet Eidos, Cabernet Volos, Merlot Khorus, Merlot Kanthus, Julius (sendo as primeiras 5 brancas e as seguentes tintas).



Todas as 10 castas já foram inseridas no registro nacional italiano do Ministério das Políticas Agrícolas e obtiveram imediatamente patente europeu e internacional.

A utilização destas 10 novas variedades de uva vai limitar o uso de pesticidas e fungicidas e mostra que os receios recíprocos entre agricultura e pesquisa são infundados.