sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Quem é quem na produção mundial de vinho. Confira o ranking

Você deve já ter visto a notícia em jornais, revistas e redes sociais (eu mesmo a divulguei com orgulho): a Itália volta a ser o maior produtor de vinho do mundo, sendo responsável sozinha por 18% da produção de vinho do planeta inteiro. Nesta briga eterna com os primos franceses, os dois Países se alternam no degrau mais alto do pódio e em 2015 a minha amada/odiada nação voltou a liderar no quesito do volume produzido.

Mas vamos ver os números um pouco mais de perto, divulgados pela OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho).



Primeiramente é preciso dizer que a produção global em 2015 aumentou de 2%, atingindo 275,7 milhões de hectolitros. Como dizemos, no primeiro lugar ficou a Itália, que cresceu de +10%, com 48,9 milhoes de hectolitros, contra o crescimento da França de apenas +1% , com 47,4 milhões. Medalha de bronze para Espanha, porém bem distanciada dos primeiros, com 36,36 milhões.
No 4º lugar um novo recorde para os EUA que atingiram cota 22,1 milhões.

Os dados divulgados não são definitivos, faltam ainda, por exemplo, os números oficiais de Russia e China, que numa projeção devem se colocar respectivamente nas posições 8º e 12º e também do Brasil, que deve se confirmar no 15º lugar.

Aqui na America do Sul se verificou uma situação contrastante para os 2 Países top: enquanto a produção da Argentina caiu de 12%, a do Chile aumentou de 23%.

Continuando no hemisfério sul, não deve assustar a queda de -27% da Nova Zelândia, que na verdade voltou a seus números habituais depois do recorde de 2014, mantendo uma estabilidade ao longo dos últimos anos junto com a Austrália.

O Velho Mundo registra crescimentos notáveis para Portugal e Romênia (na casa de +6%) e para Hungria, Áustria e, enquanto Alemanha e Grécia estão com sinal negativo.

Nem precisa ressaltar que estamos falando apenas em quantidade, não necessariamente ligada à qualidade. Por outro lado vale lembrar que anos mais produtivos de maneira geral trazem sim uvas de melhores qualidades. 

Veja a seguir a tabela completa.



domingo, 18 de outubro de 2015

Invenção revolucionária promete livrar da dor de cabeça causada pelo vinho!

Se você acompanha o MondoVinho já sabe o que são os ''infames'' sulfitos (se não, veja aqui): o problema deles, além das diferenças filosóficas sobre vinho ‘’natural’,’ é que são considerados como os maiores vilões pós-bebedeira, sendo apontados como causa principal de dor de cabeça e de variadas alergias & intolerâncias.

Uma nova invenção promete poupar o consumidor de vinho destes desagraveis ‘’efeitos colaterais’’. Chama-se Üllo e é um filtro especial, capaz de remover apenas os sulfitos e nenhum outro composto do vinho, sem alterar o sabor. Aplicado sobre o decanter ou sobre a taça (em forma de cone ele se adapta a qualquer tipo/dimensão, como se fosse uma tampa), pode ser utilizado apenas uma vez e garante a filtração de 750 ml de vinho - ou seja, uma garrafa padrão. Ademais o filtro tem a função suplementar de areação, pois o vinho colocado dentro do cone, depois da filtração, escorre em baixo numa espiral, aumentando a oxigenação. Veja o funcionamento no gráfico no final do post.

O inventor do Üllo é James Kornacki, um químico de Chicago que conseguiu U$ 185mil de alguns investidores para desenvolver o projeto e realizar os primeiros protótipos; agora está pedindo mais 100mil através de sites de Crowdfunding, para iniciar a produção, prevista a partir do próximo ano.




Um jornalista da Wine Searcher provou uns vinhos filtrados com Üllo e os achou de maneira geral mais agradáveis que os não filtrados, achando porém o perfil aromático diferente. Vale lembrar para este último aspecto que, como explicado acima, o filtro atua também como aerador, portanto isso pode ter se refletido nos aromas no momento da degustação.

De qualquer forma é preciso saber que Üllo consege reduzir drasticamente o nível de sulfitos no vinho, mas não chega a uma total remoção. Ou seja, ele traz de volta os sulfitos ao nível que teriam na natureza, pois eles estão presentes naturalmente  no vinho, em pequena quantidade.

Se tudo correr segundo os planos, o filtro deve custar U$ 2,50 a unidade. Resta descobrir se os seus compradores serão apenas as pessoas sensíveis e alérgicas aos sulfitos ou se esta idéia vai emplacar de modo geral, alcançando qualquer consumidor de vinho. 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Fungicida da Bayer danifica vinhedos em toda Europa!

2015 definitivamente não é uma boa safra para a indústria alemã. Depois do escândalo da Volkswagen, agora é a vez da super indenização que a Bayer terá que disponibilizar para milhares de viticultores de Alemanha, Austria, França, Itália, Suíça e Luxemburgo  que utilizaram o fungicida Moon Privilege. A própria Bayer admitiu: o produto, muito usado no difícil ano de 2014 por causa das continuas chuvas, danificou gravemente os vinhedos em 2015, impedindo um bom desenvolvimento das folhas e das uvas.

As causas parecem ainda desconhecidas, mas é possível que os prejuízos possam se prolongar e repercutir também ao longo da próxima safra, com conseqüente dobramento das indenizações, que somente para a safra de 2015 tem uma estimativa inicial de aproximadamente 250 milhões de euros.


A Europa quer regras mais rígidas para autorização destes compostos, mas os procedimentos de avaliação vão demorar, justamente porque alguns danos aparecem apenas no ano seguinte ao utilizo do fungicida. 



terça-feira, 13 de outubro de 2015

Bomba! Barolo diz adeus à rolha de cortiça e introduz uma nova vedação!


Rolha de cortiça é um clássico, considerado como insubstituível em regiões tradicionais e para vinhos de guarda. Barolo representa fortemente ambos os casos, mas acontece que uma vinícola de lá acaba de lançar uma grande novidade que representa uma verdadeira revolução no mundo do vinho, destinada a criar discussões e polemicas: o primeiro Barolo engarrafado sem rolha de cortiça.!

A vinícola Brandini que há 20 anos produz o ‘’rei dos vinhos/vinhos dos reis’’ decidiu vedar as suas garrafas de Barolo DOCG 2011 (safra comercializada a partir deste ano, depois dos 38 meses de envelhecimento previstos pela lei) com outro tipo de rolha: a Select Bio. 

Produzida por uma das mais importantes empresas do setor (a Nomacorc) é uma rolha também revolucionária: não é em silicone, nem de rosca (screw-cap), e sim utiliza uma matéria prima derivada de cana de açúcar. O produto, diferentemente das rolhas sintéticas, permite uma lenta passagem do oxigênio (portanto uma longa evolução), eliminando assim o problema que foi sempre considerado como principal na utilização de rolhas alternativas. Justamente por isso a legislação não permitia até 2014 o uso de rolhas não de cortiça para os vinhos das D.O.C.G. italianas.

Os motivos para que as rolhas de cortiça se tornaram um problema para os produtores são basicamente 2 (excluindo os de caráter sustentável/ecológico).
O primeiro é o custo: como no mundo se produz a cada vez mais vinho de qualidade, aumentou muito a demanda para este tipo de vedação, reduzindo portando a oferta, visto que a matéria prima é limitada.
O segundo é o famoso fenômeno conhecido como bouchonné, doença da rolha que acontece quando ela é atacada por fungos (e bactérias) que acabam contaminando e prejudicando aromas e sabor do conteúdo da garrafa. Não é um fenômeno muito comum, acontece em cerca de 5% das garrafas produzidas no mundo, mas de qualquer forma faz a diferença tanto para quem produz grandes quantidades de vinho econômico, tanto para quem faz pequena produção de vinho caro (e evidentemente para todos os que estão no meio).

Desta forma a Agricola Brandini afirma ter achado o justo equilíbrio entre tradição e inovação, ainda diminuindo os custos e salvaguardando o meio-ambiente. Será que este novo tipo de rolha vai se afirmar como padrão mundial? 

As rolhas Select Bio da Nomacorc

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Conhecendo de perto o mito: Château Margaux

Ao longo dos anos tenho visitado várias vinícolas, algumas bem badaladas, mas alguns nomes são certamente mais evocativos. Visitar o Château Margaux tem sido pra mim uma experiência emocionante e enriquecedora, que quero compartilhar aqui com vocês. Portanto hoje vamos falar um pouco deste mítico Premier Grand Cru Classé de Médoc.

Nem todo mundo sabe que o mais estiloso e aristocrático vinho de Bordeaux, tem passaporte grego. Talvez menos ainda saibam que o passaporte em questão pertence a uma mulher. Pois é: madame (ou κυρία, em grego) Corinne Mentzelopoulos, herdou a vinícola do pai André, um imigrante do Peloponeso que tentou fortuna no exterior. Mesmo formado em literatura, percebeu logo que tinha talento para comercio. Começou exportando e importando cereais com Oriente médio e Ásia e depois de casar com uma mulher francesa adquiriu em Paris algumas lojinhas de hortifrúti. Graças a sua visão e empreendedorismo conseguiu em pouco tempo criar uma vasta rede de distribuição de fruta e verdura com 1600 lojas na França inteira.

Com a recessão da década de 1970 a indústria vinícola de Bordeaux vinha passando por uma grande crise econômica (e qualitativa), foi aí, em 1977, que o Sr. Mentzelopoulos fechou com a família Ginestet, então dona do Château Margaux, a passagem de propriedade da vinícola. 
Investindo pesado e com paixão, André modernizou a inteira propriedade (os vinhedos, a adega, a cave) introduzindo barricas de carvalho de primeiro uso e lançando novos rótulos mais acessíveis. Inclusive construiu a maior adega subterrânea da região pela época. Os resultados foram evidentes já apenas no ano seguinte, quando em 1978 o Château Margaux foi avaliado como um dos melhores da região. Mas o Sr. Mentzelopoulos faleceu apenas 2 anos depois, deixando em 1980 o futuro da vinícola nas mãos de sua filha Corinne.

Desde então a jovem, com garra empreendedora, continuou investindo sem parar, também graças à ajuda da família italiana Agnelli, proprietária da Fiat e do Juventus (meu time de futebol de coração, diga-se de passagem) que injetou notáveis capitais no negócio, até ceder definitivamente sua parte em 2003, deixando 100% da atividade nas mãos da Corinne, que continua à frente da vinícola até hoje.

A denominação de origem Margaux foi sempre considerada (e com razão) a que produz vinhos mais elegantes de Bordeaux, e o Château Margaux é hoje, graças ao trabalho dos Mentzelopoulos, a máxima expressão da região. Cinco séculos de história francesa mudados radicalmente por um imigrante grego.

A vinícola introduziu recentemente (em 2013) um terceiro tinto com o duplo propósito de oferecer um vinho mais acessível para quem não pode pagar valores astronômicos e ao mesmo tempo ter maior giro de capitais para continuar investindo e aprimorando o primeiro e segundo vinho.  Portanto a linha completa hoje é composta por 4 vinhos (1 branco e 3 tintos): 

- Margaux do Château Margaux
- Pavillon Blanc do Château Margaux
- Pavillon Rouge do Château Margaux
- Grand Vin do Château Margaux

Quando visitei a vinícola fui recebido pela gentil e competente madamoiselle Emilie Janot que me contou boa parte da história acima exposta e me guiou num belo tour pelas instalações


O Château, embora não propriamente um castelo, seja talvez o mais belo de toda a região: o edifício (completado em 1815), já chamado de ''Versailles de Bordeaux'', é um dos raros exemplos de arquitetura neo-palladiana da França inteira.

A ''Versailles de Bordeaux''
Interessante notar que a vinícola está gradativamente abrindo mão dos avanços tecnológicos adquiridos, transformando novamente todo o processo em manual. Por exemplo, a vinícola utilizava o seletor ótico (automático) das uvas, já hoje a filosofia da casa acredita mais no olho do trabalhador, que mesmo podendo falhar, devolve uma dimensão mais humana ao produto.

A agricultura é feita de maneira sustentável, a colheita é manual e a tendência é deixar a fermentação acontecer naturalmente (embora dependendo das safras possam ser usadas também leveduras selecionadas) em toneis de carvalho. A maturação acontece lentamente em barricas de carvalho dos melhores produtores, com soutirage periódico a luz de vela e clarificação tradicional com clara de ovo.
Toneis de fermentação
As uvas que compõem os 3 vinhos são do mesmo vinhedo de 82 hectares plantado com Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot e Cabernet Franc;  e a vinificação também é feita da mesma forma para os 3, sendo apenas avaliada durante o processo a performance de cada lote para a definição dos blends finais: a partir daí cada um segue seu caminho diferente (leia-se: tempo de afinamento em barricas, de 18 a 24 meses).



No final da visita a esperada prova: o primeiro e o segundo vinho da casa, ambos de safra 2004. Safra clássica. Posso dizer sem dúvida que o Pavillon Rouge mostrou já umas notas de evolução, enquanto o Grand Vin estava simplesmente perfeito e ainda com uns 20 anos de vida pela frente. As características gerais dos 2 vinho são similares, sendo obviamente elevados a potência N para o rótulo ícone.
Dois moleques de 11 anos


Nariz limpo de grande fineza numa combinação sutil de aromas florais, frutas e especiarias, todos claramente presentes, mas nenhum aroma dominando. Na boca, a estrutura tânica é densa, fina e macia. Grandíssimo equilíbrio, precisão, frescor e um toque etéreo, que só pode ser encontrado num grande Margaux.

Poderia beber tranquilamente apenas estes pelo resto da vida

Com a Emilie Janot no célebre vinhedo

Merci, au revoir