segunda-feira, 30 de março de 2015

Um bom Malbec em sua pátria amada

Quem me conhece sabe acha que não gosto de malbec, o que obviamente é uma mentira. É o estilo encorpadão e pesado de muitos alguns malbecs de Mendoza que não bate exatamente com o meu, e mesmo assim até estes eu acho que têm seus momentos (embora raros eheheehe!).

Aqui vai uma minha tentativa de me redimir, mas o máximo que consegui foi um malbec francês...;-)

Brincadeiras a parte, se você gosta de malbec, deveria pelo menos provar esta casta em vinhos de seu solo nativo, uma região ao sudeste da França chamada Lot. A cidade (e denominação) principal do departamento é Cahors, conhecida por seus tintos com base em malbec, varietal ou em corte

O vinho de hoje é: Rigal The Original Malbec 2012

A vinícola Rigal tem 250 anos de história e fica no coração do Vale do Lot. Seu vinhedo é plantado com 75% de malbec, 20% merlot e 5% de tannat.

Mas este vinho em questão, como o nome sugere, é um varietal 100% de malbec e leva no rótulo a apelação típica Cotes du Lot.
Comparado com outros malbecs de Cahors que já provei, diria que tem um perfil mais internacional, pois os vinhos da região tendem a ter taninos durinhos e um pouco rústicos, já este é muito redondo, mas de qualquer sem muita coisa a ver com os malbecs argentinos.

Entregou aromas doces e apimentados de canela, baunilha, cravo, beterraba e framboesa. Já a sensação adocicada do nariz desapareceu na boca. O corpo de leve para médio mostrou de qualquer forma estrutura e complexidade e sua breve passagem em madeira acrescentou um toque defumado. Boa acidez, álcool civilizado e taninos maduros completam o quadro para um final curtinho, mas saboroso. Está agora em seu auge, podendo ser guardado por mais 1-2 anos.

Vinho:
The Original Malbec
Safra:
2012
Produtor:
Rigal
País:
França
Região:
Côtes du Lot - Cahors
Uvas:
100% Malbec
Álcool (Vol.)
13%
Importadora
World Wine
Preço médio
R$ 70,00
Avaliação MV
* (bom)

quinta-feira, 26 de março de 2015

A polêmica sobre vinho "natural"

Em clima de eventos de vinho "natural", vamos falar um pouco mais sobre o assunto. Primeiramente eu gosto de colocar a palavra entre aspas, pois vinho natural em si não existe. Qualquer vinho é sempre resultado de intervenção humana. Dito isto, é opinião comum falar de vinho natural como algo que se diferencie de vinho orgânico. Isto porque um vinhedo conduzido de maneira orgânica (sem uso de pesticidas, fertilizantes, adubos artificiais, etc) não necessariamente pode corresponder a uma vinificação na adega sem uso de química ou outros aditivos artificiais. Portanto o uso da palavra "natural" (entre aspas) a meu ver deveria ser restrito apenas para os vinhos que são produzidos com a menor intervenção humana possível e cuja fermentação aconteça de forma espontânea.

Aí entra em jogo a polêmica questão das leveduras. Indígenas x Selecionadas. Quando falo em leveduras indígenas as pessoas logo pensam em algo tribal, mas a palavra não deve ser associada a "índio", pois indígena significa "natural da região em que habita", ou seja, sinônimo de autóctone, nativo.    
Explicado para os dummies, a levedura é aquele bichinho esquisito que vive na uva – ou melhor, no ambiente - capaz de transformar os açucares em álcool, e consequentemente o mosto em vinho. Antigamente as vinhas eram pouco tratadas com produtos químicos e as uvas eram ricas em leveduras naturais. Num terreno com vocação para videiras, não muito úmido nem predisposto a doenças, a fermentação do mosto acontece espontaneamente graças a estes micro-organismos. Com a chegada da viticultura intensiva, chegaram também herbicidas, fertilizantes, anti-parasitas, anti-mofo que matavam todos os organismos presente na vinha (bons e ruins) e nos meados da década de 1970 chegaram às leveduras selecionadas comercialmente.

As leveduras indígenas fazem parte do terroir, portanto com elas o vinho potencialmente pode ser mais original, mostrar tipicidade e ganhar mais complexidade, mas ao mesmo tempo o resultado pode ser variável: nem sempre proporcionando perfumes bonitos - como os clássicos da Saccharomyces, podendo ao contrário trazer aromas desagradáveis, como o do amado/odiado Brettanomyces - chamado amigavelmente de Brett.

Para muitos o Brett (com aquele aroma típico animal – o tal do cavalo suado, sobretudos) é sinônimo de qualidade, mas por outro lado, como vimos aqui nas desculpas do vinho, um vinho natural não precisa cheirar a estábulo.
  
Na dúvida, muitos produtores, inclusive orgânicos, preferem recorrer ao uso de leveduras selecionadas e embaladas industrialmente, com as quais controlar a fermentação para um melhor resultado comercial (algumas delas inclusive já vêm com aromas selecionados, outras podem ser neutras.) Agora, se por um lado a levedura selecionada garante efeitos mais seguros e diminui os riscos, por outro lado os vinhos podem resultar chatos, iguais, menos profundos, sem personalidade ou tipicidade.

Não sou enólogo, mas sei que existem várias práticas para reduzir os efeitos indesejados da fermentação natural, como por exemplo o chamado “pied de cuve”. Com esta técnica é fermentada previamente uma pequena quantidade de uva, e quando esta está em fermentação turbulenta é utilizada para induzir a fermentação no resto do mosto

Enfim, a discussão está aberta, assim como a polêmica: cada uma das duas escolas tem seus adeptos e seus opositores, afinal dependendo do ponto de vista as escolhas podem ser criticadas ou aplaudidas; mas a verdade final é que quem vai escolher entre o “certo e o errado” é sempre o mercado.

Veja também:

















quarta-feira, 25 de março de 2015

Um belíssimo branco "natural" do meu País

Os vinhos do Corrado Dottori são feitos com cabeça e coração: produção rigorosamente “natural”, vinhas de baixo rendimento conduzida com cultivo orgânico e uso de leveduras indígenas. Sua vinícola La Distesa está localizada na região italiana de Marche, especificamente na área de Castelli de Jesi.

Ontem provei este excelente Terre Silvate 2013.
Basicamente um varietal de Verdicchio, com uma pequena presença de Trebbiano e Malvasia, conforme a antiga tradição local. De fato o vinho poderia entrar na denominação Verdicchio dei Castelli di Jesi (onde esteve até alguns anos atrás), mas a particular vinificação da casa não é permitida pela legislação, portanto é classificado com a IGT Marche Bianco. A questão “polêmica” é que o vinho passa em maceração com as cascas e faz longa fermentação com as borras (cerca de 6 meses), o que não parece bem visto pelos legisladores. Pena para eles e bom para nós, pois desta forma o vinho ganha mais cor, corpo e complexidade e pouco importa sua denominação.

O registro aromático é bem interessante, com mineralidade acentuada, e perfumes delicados de maça verde, ervas, casca de limão, flores brancos, musgo e notas de amêndoa. Na boca é bem seco, confirmando as sensações citadas, com uma acidez espetacular e um final médio-longo muito saboroso.

P.S. Não sei dizer quanto custa ao público, paguei em restaurante R$ 126,00.


Vinho:
Terre Silvate
Safra:
2013
Produtor:
La Distesa di Corrado Dottori
País:
Itália
Região:
Marche
Uvas:
Verdicchio, Trebbiano e Malvasia
Álcool (Vol.)
13,5%
Importadora
Piovino
Preço médio
R$ 120
Avaliação internacional
-
Avaliação MV
** (marcante)



terça-feira, 24 de março de 2015

Vinoterapia self-service: confira 3 receitas caseiras!

O MondoVinho sempre deu atenção especial ás mulheres, a cada vez mais com o papel merecido de protagonistas no mundo do vinho em todas suas etapas (sem contar que elas têm nariz e paladar bem mais apurados que os dos homens). Portanto este post vai especialmente para as amigas do blog.

A vinoterapia já está na moda há alguns anos: as melhores spa e as grandes marcas de cosméticos estão repletas de tratamentos e produtos a base de uva e seus derivados, pois são notórios os benefícios que o resveratrol e outras moléculas proporcionam para o saúde. Se isto é verdade para o organismo em geral se manter jovem e saudável (especialmente o aparato cardiovascular) tomando a famosa taça de tinto por dia,  questão é igualmente válida para pele e cabelos, pois os polifenóis da uva combatem os radicais livres, proporcionando efeitos relaxantes e revigorantes, anti-oxidantes, anti-envelhecimento, anti-inflamatorios, anti-raiosUV, e muito mais.

Mas tratamentos estéticos do gênero não costumam ser baratos, por isso o MondoVinho vem mais uma vez em seu socorro com umas receitas caseiras que ensinam como fazer uma vinoterapia self-service, mais em conta e com resultados garantidos (mas atenção com as alergias!).

Esfoliação para pernas com Cabernet 
Ingredientes: 3 colheres de sopa de cabernet sauvignon, 1 colher de sopa de mel, 3 colheres de sopa de açucar mascavo, 6 gotas de óleo essencial de limão.
Misture todos os ingredientes numa tigela até obter uma massa homogênea. Aplique o composto nas pernas previamente umedecidas, massageando de cima para baixo e finalmente enxágüe bem com água morna.
Com este tipo de esfoliação a presença do ácido tartárico no vinho e do ácido glicólico no açúcar proporciona um efeito de alisamento que contribui para a eliminação de células mortas e para o despertar da pele. 


Mascara facial ao tannat
Ingredientes: 1 pote de iogurte natural, 2 colheres de sopa de mel, 4-5 colheres de sopa de tannat.
Misture todos os ingredientes numa tigela até obter uma massinha macia e consistente.
Aplique a mascara no rosto lavado e limpo, evitando a área dos olhos. Deixe repousar por 15 minutos e tente relaxar. Enxágüe abundantemente com água morna. Para aumentar o efeito é aconselhado colocar um tônico e depois um creme hidratante. Pode usar qualquer outro vinho, mas o tannat é o que contem mais resveratrol.

Sabonete anti-celulite de uva
Ingredientes: 120 g de sabão de Marselha (ou de Alepo), 90g de suco de uva, alguns bagos de uva tinta (4-5), 2 colheres de chá de óleo de semente de uva, 10 gotas de óleo essencial de gerânio, azeite.
Rale o sabão num ralador de cozinha numa tigela de vidro, adicione o suco de uva e esquente suavemente mexendo com uma colher de pau. Logo que a composição ficar macia e homogênea adicione os bagos de uvas, previamente triturados no liquidificador (inclusive as sementes), e os óleos essenciais. Misture novamente e coloque a amálgama em moldes de plástico (pode ser também os usados para doces) untados com azeite e deixar esfriar algumas horas antes de retirar dos moldes e deixe secar ao ar em papel toalha por alguns dias antes de usar. Parece que este sabonete seja ideal para detergir as áreas afetadas pela celulite.









terça-feira, 17 de março de 2015

Os 3 cultuados garage-wines do Carmelo Patti

O status do Carmelo Patti mudou em breve tempo de "perfeito desconhecido" a "lenda viva". Seus vinhos de garagem, depois de ganhar destaques no guia Descorchados (especialmente seu malbec 2007 ganhando o título de melhor tinto da Argentina, com 95 Pontos) e altas notas do Parker, se tornaram cult-wines. No recente Encontro de Vinhos no Rio de Janeiro tive modo de provar os 3 vinhos que compõem a linha desta “vinícola de autor”, e devo dizer que fiquei positivamente impressionado.

Viticultor “artesanal”, o Carmelo Patti produz em Mendoza vinhos da forma que ele aprendeu a fazer e como ele gosta, sem frescura: sem ficar focado em modismo ou em apelo comercial traz aos seus vinhos uma simplicidade e um estilo das antigas. Seus métodos de produção são bem tradicionais, com fermentação em cimento, leveduras indígenas e envelhecimento em carvalho usado. Na contramão para vinhos argentinos em geral, ele utiliza barricas de até 6º uso e prefere um longo estágio em garrafa a um em madeira, esperando pacientemente que seus vinhos cheguem no ponto certo antes de comercializá-los.

Devo admitir que antes de provar os vinhos, que iam de safra 2004 a 2007 fiquei um pouco receoso, pois imaginei que estivessem já na parte decadente da curva de evolução, mas fiquei surpreso em ver que sequer chegaram ao seu ápice e ainda tem anos de vida para frente.

Carmelo Patti Malbec 2007: quem me conhece sabe que não sou muito fã da maioria dos malbecs mendoncinos (e do estilo pesado dos vinhos argentinos em geral), mas este nem pareceu malbec, tampouco argentino! O vinho tem sim uma doçura, mas a alta acidez e os taninos abundantes, porém já amaciados, fazem o contraponto num corpo médio, para um equilíbrio geral e elegância raramente encontrada neste solo para esta casta.



Carmelo Patti Cabernet Sauvignon 2005. Embora mais antigo ele pareceu ser menos pronto devido a certa dureza de seus taninos. Folhas mortas, tabaco, azeitonas e especiarias no nariz; o grande corpo de textura terrosa repete na boca as mesmas sensações, com alta acidez e taninos um tanto rústicos. Vai melhorar ainda com algum tempo de garrafa.



Carmelo Patti Gran Assemblage 2004. Corte com predominância de Cabernet Sauvignon (47%) e o restante de Malbec, Merlot e Cabernet Franc, este seja talvez o mais sedutor dos 3 (embora eu ficaria com o Malbec) por sua textura aveludada e extrema maciez. Os 4 mostos são fermentados separadamente, mas depois maturam 1 ano em carvalho todos juntos, como se fossem um único vinho, que depois estagia em garrafa para cerca de 4 anos. A impressão geral na prova é como uma mistura dos dois acima: impressiona pela complexidade e pelo corpo sedoso, mantendo alta acidez e certa rusticidade envoltas em notas de terra e grama molhada, amoras e azeitonas.  



Enfim, vinhos argentinos diferentes, que merecem ser provados. Sobretudo se estiver cansado do estilo típico da região, com tudo lá em cima, estes rótulos vão te dar uma outra visão, que em Mendoza é possível produzir vinhos elegantes que remetem ao Velho Mundo: basta querer.

Os vinhos do Carmelo Patti são trazidos para o Brasil pela Fine Wines, com preços de R$ 169 a R$ 289.













sexta-feira, 13 de março de 2015

Belíssima degustação de Bordeaux (com um grande intruso!)


Os encontros improvisados com os amigos são aqueles que dão mais certo (em puro estilo jazzístico). Em meia hora nos reunimos, cada um levando um vinho e engraçado que, mesmo sem termos definido um tema, acabamos todos levando vinho francês (talvez porque o nosso anfitrião tinha acabado de chegar de Paris). Foi quase uma temática exclusivamente bordalês, com exceção de um branco da Alsácia. Repare o que conseguimos:

- Hunawihr Riesling Grand Cru Rosacker 2011 (Grand Cru de Alsace): um branco fenomenal. Paleta aromática complexa que vai de limão a pêssego, passando por casca de laranja e pêra, mais aquela nota de petróleo típica da casta. A boca confirma as mesmas sensações, com toques minerais e acidez espetacular.




- Château Le Mont d’Or 2006 (Saint-Emilion AOC). Produzido por Lavandier, é um pequeno chateau que faz parte do catálogo do Jean Pierre Moueix, o mesmo negociant do Pétrus. Merlot em predominância, não é feito para guarda, portanto já mostrou maturidade, com os terciários em evidência (couro e tabaco principalmente) e taninos bem amaciados.




-  La Bastide Dauzac 2005 (Margaux AOC): não precisa gastar palavras sobre Margaux, sendo pra mim a mais elegantes denominação de Médoc. Este, de safra histórica, mostrou todas as características do estilo, com fruta vermelha e grama molhada, paladar fino e aveludado, alta acidez, taninos numerosos e polidos. Produzido pela badalada família Lurton.





- Château Lafon-Rochet 2008 (Grand Cru Classé Saint Estèphe) : já avaliei este vinho da mesma safra excepcional de 2005 (veja aqui), sem dúvida uma das melhores compras dentro dos grands crus de Saint Estephe, pois fica na divisa com Pauillac, puxando um pouco do terroir do vizinho Lafite e do outro lado tem os vinhedos do Cós d’Estournel , considerado o melhor da appellation. Fumaça, alcaçuz, nozes, com notas terrosas e taninos firmes. Um clássico.


- Château Pape Clement 2009 (Grand Cru Classé Graves). O mais emblemático vinho do renomeado Bernard Magrez, naquela que os críticos consideram a safra de todas as safras em Bordeaux. De todo o painel este foi o mais suculento e rico em fruta. Extraído e concentrado entregou cerejas, uva passa, chocolate e baunilha. Potente.



- Château Montrose 2005 (Grand Cru Classé Saint Estephe). De acordo com os amigos foi o melhor tinto da noite, e não apenas porque foi o que eu levei ehehe. Talvez por reunir um pouco de todas as características dos outros, juntas: 2° grand cru classé de milésimo histórico, aberto talvez no auge, mostrou ainda boa fruta, mas também notas de evolução (destaque aromático para cassis, amoras, azeitona preta, café e tabaco). Elegante e fino, mas sem deixar de lado a potencia, ficou até o longo final em perfeito equilíbrio entre a riqueza e a austeridade que dividem os estilos de Bordeaux.



- Château d’Yquem 1996 (Premier Cru Supérieu Sauterne). Uma noite desta não podia ser finalizada senão com um grande vinho de sobremesa, no caso o mais emblemático de todos. Tendo que ser chato devo dizer que o achei um pouco inferior ao de 1997 já provado (veja aqui), mas é como querer discutir sobre caviar de beluga ou de salmão: é caviar, caramba! Complexidade de sobra: damasco, mel, amêndoa, caramelo, algodão doce, laranja, lichia, banana e figo, com notas minerais. Doçura perfeitamente balanceada pela alta acidez e um final deliciosamente longo.






quinta-feira, 12 de março de 2015

Os dois crus do Loire



Chegando ao fim da série sobre cru, completamos o quadro com a região famosa por seus lindos castelos. Hoje vamos para

Loire

No Vale do Loire, finalmente depois de 20 anos de “negociações”, a legislação chegou a oficializar em 2014 uma hierarquia de crus, mas o status foi reconhecido para apenas duas denominações (Grand Quarts-de-Chaume e Coteaux-du-Layon) onde é produzido vinho doce a partir da uva Pineau de la Loire - ou seja, Chenin blanc - botritizada (atacada pela podridão nobre).
O tipo de classificação ficou, portanto um meio termo entre os modelos de Borgonha, Rhone e Sauternes e os dois crus foram oficializados assim:

- Quarts-de-Chaume Premier Grand Cru
- Coteaux-de-Layon Premier Cru Chaume

Como podem ter reparado ao longo destas matérias (veja os links abaixo caso perdeu alguma), cada região francesa tem sua regulamentação e sua diferente maneira de enquadrar, avaliar e classificar os crus. Se por um lado esta falta de uniformidade nacional pode ser interpretada como incoerência ou pior, como já ouvi, “bagunça”; por outro lado não deixa de evidenciar mais uma vez as singularidades e tipicidades de cada vinho regional e temos que reconhecer que elas possam ser enxergadas diferentemente conforme a própria história e terroir.


Veja também





  





terça-feira, 10 de março de 2015

Um Bolso Esperto quase ilógico...

Hoje um portuga de boa qualidade e baixo preço, por isto indo direto para a amada coluna do Bolso Esperto:

Antonio Saramago Ilógico 2013

A história da empresa é recente (2002), mas seu fundador Antonio Saramago é uma referência, sendo um dos mais respeitados enólogos de Portugal, com formação em Bordeaux, grande experiência em várias vinícolas e mais de 200 prêmios em seu currículo.

O foco da empresa é o mercado esterno, e sua particularidade é que não possui vinhedos próprios, nem compra as uvas de terceiro para vinificar, e sim compra vinhos: o Saramago descobre e escolhe vinhos já fermentados de pequenos produtores, que depois personaliza e finaliza em suas instalações.

Como a adega fica na Península de Setúbal, os moscatéis típicos da região são o carro chefe da casa, mas por outro lado o Antonio Saramago tem grande experiência e prestigio em terra alentejana (Tapada de Coelheiros é seu projeto mais emblemático), também não faltam em seu catálogo vinhos do Alentejo.

Este Ilógico é um deles. Criado exclusivamente para o mercado brasileiro (a pedido do importador) está sendo agora exportado para outros paises também, mas não é vendido em Portugal. A idéia é de um vinho alentejano jovem, fácil de beber e de bom custo/beneficio: dito e feito, o Ilógico 2013 é exatamente isto, mas com até mais complexidade do que esperado.

Não sei porque se chama Ilógico (se alguém souber, please deixe sua contribuição), de qualquer forma é um nome chamativo, assim como o rótulo, bem moderninho.

Corte de Aragonês, Syrah e Alicante Bouschet, matura 3 meses em carvalho americano e francês, mais 6 meses em garrafa antes da comercialização.
Como disse, embora simples e jovem, o vinho tem até uma complexidade e estrutura razoável. Defumado em destaque tanto no nariz quanto no paladar, junto a aromas de ameixa, cereja e morangos, com um toque de baunilha Um bom corpo, acidez na medida e taninos bem macios levam para um final frutado e levemente amadeirado.

Certamente uma ótima compra pela relação preço/qualidade (paguei R$ 29).

.
Vinho:
Ilógico
Safra:
2013
Produtor:
Antonio Saramago Vinhos
País:
Portugal
Região:
Alentejo
Uvas:
Aragonês, Syrah e Alicante Bouschet
Álcool (Vol.)
13,5%
Importadora
Vinissimo
Preço médio
R$ 35
Avaliação internacional
-
Avaliação MV
*


sexta-feira, 6 de março de 2015

Conheça os crus do Rhône

Quase finalizando a série de matérias sobre cru, hoje vamos para:

Côtes du Rhône




Nesta região a classificação é feita a partir do modelo Borgonha, baseado nos villages de pertença. No topo da pirâmide qualitativa a legislação identificou 16 crus que representam o que há de melhor da produção regional, expressando as peculiaridades e as diferenças de cada terroir. Eles somam apenas 20% da produção total do Rhône.

A coisa interessante é que para estes 16 top crus não foi estabelecida uma classificação tipo grand ou premier cru: apenas foram definidas as denominações de maior prestigio e qualidade, portanto o consumidor que não as conhece não vai conseguir identifica-las pelo rótulo, que no caso apenas leva a AOC do village. Mas fique tranqüilo, por isto você tem o MondoVinho, que mais uma vez vem em seu socorro e vai aqui listar aqui os 16 crus du Rhône, para que possa se orientar melhor:

• Beaumes des Venise AOC
• Gigondas AOC
• Châteauneuf-du-Pape AOC
• Lirac AOC Lirac
• Tavel AOC
• Rasteau AOC
• Vacqueyras AOC
• Cornas AOC
• Condrieu AOC
• Château-Grillet AOC
• Côte-Rôtie AOC
• Crozes-Hermitage AOC
• Hermitage AOC
• Saint-Joseph AOC
• Saint Péray AOC
• Diois AOC


  
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terça-feira, 3 de março de 2015

Como descobrir se a sua garrafa é falsificada

O nome Maureen Downey não deve lhe dizer muita coisa, mas se você é colecionador ou comerciante de vinhos raros, seria bom decorá-lo, pois esta pessoa pode se tornar fundamental para você verificar a autenticidade das suas garrafas.

Considerada entre as 50 mulheres mais poderosas do mundo do vinho, a sommelier californiana graças a sua longa experiência como consultora de grandes casas de leilões se tornou uma das maiores especialistas em matéria de identificação de vinho falsificado, até trabalhando com o FBI, quando foi peça chave para a resolução de vários casos, come o do famoso Rudy Kurniawan.
  
Portanto a Maureen tem autoridade necessária para lançar um interessante serviço on-line: o site Winefraud.com, a partir deste mês pretende ser um útil recurso para todos (colecionadores, vendedores e compradores) que tenham em mãos uma garrafa rara e preciosa e queiram averiguar sua autenticidade.

Como ninguém é bobo, este serviço de perícia internético não vai ser gratuito: o site prevê 3 níveis de assinatura (“enthusiasts, collectors, and professionals”) para poder acessar o arquivo de mais de 50mil fotos (como os dos rótulos de todas as safras do Château Lafite Rothschild) , documentos e dicas sobre como distinguir um falso de um original. Os preços das assinaturas não foram ainda divulgados, mas de qualquer forma deve ser mais barato que contratar um perito em pessoa.

Maureen Downey ás obras



segunda-feira, 2 de março de 2015

Destaques da Prova Anual dos Vinhos do Tejo e um belo vídeo do evento.


A Prova Anual de vinhos do Tejo foi muito interessante para conhecermos algumas peculiaridades destes rótulos que ainda não gozam de grande notoriedade aqui no Brasil, mas que merecem a atenção do nosso público enófilo, pois possuem caraterísticas diferenciadas dentro de um bom padrão de qualidade, e sobretudo preço atraente se comparado com os das regiões mais badaladas como de Douro ou Alentejo, por exemplo. 

O evento foi muito bom e contou com palestras de harmonização gastronômicas e master classes. Tendo que achar algum lado negativo, apontaria certamente para a falta de ar condicionado: se por um lado o local escolhido é certamente espetacular e fascinante (o lindo Palácio São Clemente em Botafogo), por outro lado um evento de degustação de vários vinhos numa tarde ensolarada do verão carioca em ambiente não refrigerado se torna uma tarefa complicada para todos os presentes.



De qualquer forma valeu a pena participar e este vídeo a seguir, do amigo Chico Carneiro do excelente site Vinhos pelo Mundo é bem exaustivo sobre o que aconteceu, com lindas imagens e entrevistas a alguns dos protagonistas do evento.

Quanto á minha avaliação, entre os vários excelentes vinhos provados (sobretudo na master class) seguem aqui os meus 5 destaques.

- Casal do Conde Alvarinho 2013 (Cepa Sagrada): aromático e complexo 
- Casal da Coelheira Reserva 2011 (Maxbrands): estruturado e saboroso
- Quinta da Alorna Touriga Nacional 2012 (Adega Alentejana): delicado porém complexo, encantador (o meu preferido)
- Quinta do Casal Monteiro Clavis Aurea Reserva 2012 (sem importador): o mais impressionante quanto a corpo, estrutura, volume e maciez.
- Casa Cadaval Trincadeira Preta Vinhas Velhas 2011 (Mercovino): aveludado e macio. 

Não perca o vídeo a seguir: o conteúdo áudio-visual é de primeiríssima qualidade e merece ser assistido inteiramente, mas seu ponto mais alto está no minuto 7:44 ehehe ;-)