sábado, 31 de janeiro de 2015

Entenda as classificações de "cru" na França (Parte 1: Bordeaux)


Como anunciado, continuando o discurso sobre “crus” do post anterior, vamos agora ver um pouco mais de perto o que acontece na França, único País vinícola com uma classificação oficial baseada na (suposta) qualidade dos vinhedos. De fato o conceito varia bastante de região em região e para o post não ficar demasiadamente longo e chato, vou dividir em mais partes, começando pela região mais badalada.


BORDEAUX 

Médoc
Em Bordeaux o conceito de cru foi introduzido em 1855 pelo Napoleão III para classificar os melhores vinhos da região, em ocasião da Exposição Universal de Paris. Para elaborar a famosa lista foi utilizado um método simples: o preço. A referência usada foi o valor que cada vinho conseguia alcançar no mercado e foram estabelecidos 5 níveis de cru para os tintos e 3 para os brancos das melhores 88 vinícolas então existentes.  Ou seja, o título foi atribuído aos produtores (as marcas dos chateaux) e não exatamente aos vinhedos.  61 tintos e 27 brancos, sendo os primeiros todos secos, já os brancos eram limitados ás variedades de Sauternes e Barsac (botritizados), portanto doces.
Se por um lado esta classificação mostrou um feeling moderno focando no mercado e no brand, por outro esta visão não foi atualizada ao longo dos anos, com a lista ficando basicamente estática desde então, sofrendo apenas duas modificações em 160 anos: uma apenas depois de 5 meses, com a adição do Château Cantemerle a 5° cru, outra em 1973, quando o Château Mouton Rothschild passou (politicamente) de deuxième à premier cru. Desde então as vinícolas mudaram de dimensão, de direção, de enólogos, de filosofias, enfim de qualidade, algumas para melhor e outras para pior. E esta é a maior crítica que muitos fazem a esta classificação hoje: ela (salvo alguns casos) não reflete a realidade atual. Mas evidentemente há muito interesse em jogo...

Os únicos indiscutíveis e incontestáveis continuam sendo os Premier Grand Cru Classé:
Lafite-Rothschild, Margaux, Latour, Haut-Brion e Mouton-Rothschild.
Já entre os brancos apenas um produtor ganhou o titulo de Premier Cru Supérieur: o Château d’Yquem.
O Château Margaux
Sempre em Bordeaux, com um princípio similar foi criada em 1932 a primeira lista dos chamados Cru Bourgeois, elaborado pelas Câmaras de Comercio e Agricultura, selecionando 444 produtores não incluídos na classificação de 1855. Porém de fato a indicação Cru Bourgeois no rótulo nunca foi muito influente no mercado. A partir do ano de 2000 a classificação subiu várias modificações: revista e dividida em 3 níveis (cortando quase pela metade os produtores incluídos), depois anulada, consequentemente abolida, e enfim re-introduzida em 2010. A atual classificação consta de um único nível que é atribuído a cada ano como um selo de qualidade para o vinho e não para o Château. A lista é publicada 2 anos após a colheita, portanto a de 2015 será inerente aos vinhos de 2013.

Tudo isto até aqui descrito é apenas para a área de Médoc, a famosa margem esquerda. Mas para concluir o discurso sobre Bordeaux temos que falar também de Cru Libournais, ou seja, os crus da não menos famosa rive droite.


Saint-Emilion

Estabelecida pela primeira vez em 1954, a classificação oficial de Grand Cru de vinhos tintos da denominação Saint-Emilion, e se divide em três categorias:

■Premier Grand cru classé A
■Premier Grand cru classé B
■Grand cru classé


Esta classificação é revista a cada 10 anos por uma comissão de especialistas que avaliam a qualidade dos vinhos. Após a última revisão de 2012 os Premier Grand cru classé A não são mais apenas 2, como acontecia há 58 anos (Ausone e Cheval Blanc) mas 4 (também Angélus e Pavie), o que obviamente não agradou os primeiros mais antigos, que recorreram na justiça alegando fatos ilícitos (acha que só Brasil é corrupto?). 

Atualmente são classificados 18 Premier Grand cru (4 A, 14 B) e 57 Grand Cru.

Pequena menção - já que estamos na margem direita - sobre a badalada região de Pomerol, terra de grandes merlots (lhe diz algo o nome Pétrus?): esta região nunca recebeu nenhum tipo de classificação e os vinhos são designados apenas pela denominação geográfica (AOC Pomerol). Portanto o Château Pétrus, considerado como um dos maiores vinho do mundo, no rótulo leva a mesma denominação que qualquer Pomerol “genérico”.


Coming up next: os crus de Borgonha e muito mais a seguir. Vai querer perder?


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O que significa “cru”?


Tem uma palavra muito utilizada no mundo do vinho: cru. É grand cru, premier cru, cru borgeois, cru aqui, cru ali, cru isso, cru aquilo, cru...z credo! O termo é tão inflacionado que hoje ouvimos falar em cru também para cervejas ou para café, o que confundiu mais ainda as poucas idéias claras sobre o conceito. A definição geral seria: terreno considerado do ponto de vista de seus produtos e das qualidades que os mesmos conseguem extrair dele. Já na linguagem enológica é uma área delimitada para produção exclusiva de um vinho; em sentido mais restrito, é o vinhedo que faz parte de tal área capaz de produzir vinhos de qualidade particularmente valiosa.

A palavra cru, como muitas palavras importantes do vinho, é francesa, mas a origem não é bem definida: muitos acreditam ser o particípio passado do verbo croître (crescer), já outros afirmam ser do verbo croire (crer). De fato as duas me parecem plausíveis, pois um grande vinho precisa de uma cuidadosa criação, mas para o produtor também é preciso crer, ou seja, acreditar, e apostar, que aquele vinhedo seja realmente o melhor.

A palavra é usada informalmente pelos produtores de praticamente todos os Países, para indicar seu melhor vinhedo, mas de fato só a França definiu oficialmente uma classificação utilizável nos rótulos baseada na qualidade dos crus. Mas esta também é confusa e com conceitos bem diferentes de região em região (no próximo post falarei mais detalhadamente a respeito).

A única tímida tentativa de ter algo parecido é da Itália, onde existe a associação Comitato Grandi Cru d’Italiafundada em 2005 por 39 prestigiados produtores italianos, mas se trata de uma associação espontânea entre vinícolas (na qual entraram gradativamente mais produtores ainda), mas não é reconhecida por nenhuma entidade governamental, portanto o termo não pode ser usado no rótulo.
Existe também uma classificação de grand cru da Itália elaborada por uma casa de leilões (Gelardini & Romani Wine Auction): a classificação é feita para os rótulos mais procurados por colecionadores e investidores do mundo inteiro, na base dos maiores preços e menor disponibilidade. Mas também nada de oficial. 
A legislação italiana não parece ter ainda interesse num tipo de classificação piramidal que beneficie os melhores terroirs, e por enquanto vai continuar apenas com as denominações de origem.

No próximo post falaremos mais especificamente sobre os crus franceses. Não perca! 




terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Mondocerva: a cerveja mais votada no Mondial de La Bière. Confira

Usando o gancho do post anterior, se estiver um pouco entediado com vinho e quiser dar uma pausa para refrescar (literalmente) as idéias no calorzão deste verão, esta é a sua bebida. Eleita pelos cariocas como a melhor cerveja no Mondial de La Bière de 2014 entre mais de 650 rótulos presentes, a Jeffrey Niña é uma cerveja de trigo produzida artesanalmente no Rio por um grupo de amigos cariocas, especialmente direcionada ao público carioca. Como não tive modo de participar ao evento, fiquei bem curioso, mas ao mesmo tempo sem muita expectativa, pois (sem querer criticar o gosto de ninguém) o carioca prefere geralmente cervejas leves e refrescantes, e até um pouco adocicadas; já eu como todo europeu cresci acostumado a cervejas mais “pesadas” e amargas. De qualquer forma adquiri a minha garrafinha e fui conferir.

A garrafa tem um rótulo bem simpático, com um pato verde de terno, mas com capacidade de 300ml (a média é de 355ml). O líquido visualmente amarelo meio turvo, tem uma discreta espuma e um marcado aroma cítrico com umas notas apimentadas (a receita especial leva raspas de limão siciliano e sementes de coentro). Sensação repetida na boca, sendo muito refrescante e cremosa. O final frutado remete mais a um drinque de verão que a uma cerveja tradicional. Enfim, é uma bebida gostosa que se deixa tomar com prazer, especialmente no calor do Rio, mas de maneira geral o Pato Jeffrey não caiu no meu gosto para cervejas. E por ser produzida aqui mesmo e ainda ter um formato reduzido, poderia ser um pouco mais barata.

Pais: Brasil
Álcool: 5,3%
Preço médio (garrafa 300ml): R$ 14,00





segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Cansado do vinho? Eis 9 remédios para re-acender a flama e sair da mesmice

Um artigo do Washington Post intitulado “Cansado do vinho? Sirva-se novos hábitos” levantou um assunto bem interessante. Pode realmente acontecer, sobretudo para o consumidor que não sai dos mesmos rótulos preferidos, mas também para qualquer um, que num determinado momento a nossa amada bebida possa nos entediar ou não causar o mesmo interesse inicial. Como qualquer relacionamento, se não for bem cultivado, a paixão pelo vinho pode esfriar e o amor enfraquecer. Antes de ter uma D.R. pesada e chegar a separação, veja aqui como re-acender a flama e manter uma relação saudável.

1. Peça para o seu vendedor te surpreender.
Esta dica pode ser boa para o consumidor americano, mas devo tristemente admitir que aqui no Brasil a média dos vendedores de vinhos mal sabem o que estão vendendo. Por outro lado, embora em minoria, existem sim profissionais bem preparados que podem te orientar com propostas diferentes para sair da mesmice.

2. Frequente degustações e eventos de vinhos.
Muitas lojas oferecem degustações durante a semana. E os eventos de importadoras e distribuidoras são inúmeros. Alguns gratuitos, outros pagos, a dica é: vá! Só assim vai poder experimentar de uma vez novos rótulos e ainda interagir com os outros participantes. Note: desta forma conheci alguns dos melhores vinhos e alguns dos meus melhores amigos.

3. Se gostou daquele vinho importado, anote o nome da importadora/distribuidora.
Claro que o sistema não é infalível, mas de maneira geral o importador aplica um mesmo critério de escolha para toda a linha de produtos. Portanto se gostou de um vinho dele, é bem provável que goste de outro também. O mesmo discurso pode ser estendido para o distribuidor e até para algumas lojas.

4. Vá para jantares harmonizados.
Muitos restaurantes e lojas, em colaboração com vinícolas, importadoras e distribuidoras, propõem cardápios especiais que combinam com vinhos específicos de uma vinícola (ou de uma linha de distribuição). É uma ótima forma para testar o vinho com comida e também de conhecer mais a fundo o produto e as vinícolas.
*Bônus: normalmente este tipo de jantar sai mais barato que um normal jantar no mesmo local, portanto serve também como pretexto perfeito para sair de casa, passar uma noite diferente, jantar bem e beber bem e ainda sair mais “instruído” sobre o assunto.

5. Encontre enófilos como você e crie sua própria “confraria”.
Agrupar uns adeptos a bebida de Baco é forma de convívio muito alegre e saudável. Em cada encontro um tema de degustação diferente: por Países, regiões, uvas, denominações, preços, às cegas, as claras, enfim as variáveis são praticamente infinitas, é só começar e se divertir. Eu fundei minha própria confraria com 5 pessoas. Hoje somos mais de 20 e os nossos encontros são sempre estimulantes e divertidos.

6. Beba menos, beba melhor.
Se você tem um orçamento pré-estabelecido para gastar com vinhos, reduza a quantidade e eleve a qualidade. Se nunca provou, escolha entre um grande Borgonha ou um cru de Bordeaux, um Barolo, um Amarone, um Brunello, um Chateauneuf-du-Pape, um Hermitage, um clássico de Rioja envelhecido, um supertoscano top... Não necessariamente a experiência condiz com os altos preços cobrados, mas certamente é algo diferente e enriquecedor para o seu palato.

7. Prove os tais dos vinhos “naturais”.
Não precisam ser biodinâmicos, mas o cultivo orgânico e uma vinificação com menor química artificial costuma dar resultados bem diferentes. Para falar a verdade nem todo mundo gosta, pois alguns vinhos chegam a ter uns aromas até desagradáveis e sabor pouco comum, mas tem bons produtores que conseguem belos vinhos “naturais” gostosos e perfumados também. De qualquer forma são vinhos diferenciados.

8. Experimente uns rótulos exóticos. 
Se a sua loja não estiver a altura, a rede está repleta de vinhos exóticos. Da Tunísia para a ilha de Córsega, do Libano ao Peru, de Marrocos para o leste europeu, a variedade de rótulos de diferente procedência disponíveis no Brasil é notável. É só googlear.

9. Se nenhuma das dicas te ajudou, então dê uma pausa e tome uma cerveja. Possivelmente daquelas em lata bem populares: aí a vontade de voltar a tomar vinho é automática e imediata.

A Monica de "Friends" também cansada do vinho, só porque não leu estas dicas ;-)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Será que já temos o vinho do ano? Solaia 2000, confira!

O ano apenas começou, mas aqui já temos um forte candidato para melhor vinho de 2015! Para comemorar meu aniversário, fiquei um pouco indeciso entre alguns dos grandes vinhos que guardo em minha adega para ocasiões especiais. Decidi que tinha que ser italiano (of course), portanto, com a exclusão de Bordeaux, Borgonha, e novo mundo ficou mais fácil e o escolhido para o sacrifício foi este grande supertoscano: Solaia 2000, um dos ícones da viticultura mundial. O marquês Piero Antinori, junto com o Mario Incisa della Rocchetta (do Sassicaia) é praticamente o inventor dos Supertoscanos (para conhecer um pouco mais sobre a fascinante história destes badalados vinhos clique aqui). Hoje Antinori é um dos melhores produtores da Itália (e do mundo), produzindo no País inteiro e até no exterior, mas é claro que o foco é na Toscana onde impera indiscutivelmente acima de todos.

O Solaia é o top da casa, tendo sido definido pela imprensa como um dos mais influentes vinhos da viticultura italiana, recebendo notas estratosféricas pela crítica internacional (inclusive 100 pontos pela Wine Spectator) . È produzido a partir de um vinhedo único - homônimo- de 10 hectares plantado ao lado do vinhedo Tignanello (outro ícone) com Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Sangiovese. De todas as propriedades do Antinori, as uvas do vinhedo Solaia são sempre as últimas a serem colhidas, para que alcancem a maturidade ideal. Colhidas manualmente e esmagadas com delicadeza, fermentam em madeira separadamente e somente depois foi feito o blend final que maturou por 14 meses em barricas de carvalho francês e mais 12 meses em garrafa.

A safra de 2000 foi boa, não uma das melhores, tampouco uma das piores, digamos que ficou na média, com bons resultados. Mas como vimos, grandes produtores sempre se superam e o Solaia foi eleito vinho do ano pelo conceituado guia do Gambero Rosso.

Depois de 15 anos o vinho está totalmente integro, obviamente a fruta começou a ceder espaço para os aromas terciários, mas ainda nem chegou ao seu ápice da curva de evolução. No nariz fruta seca, grama molhada, alcaçuz, couro, café e tabaco. Esta complexidade aromática é confirmada no paladar aveludado e de grande estrutura, adicionando umas notas terrosas e aquela cereja tipo amarena que você só encontra nestes vinhos italianos. Acidez excelente e taninos ainda vivos -embora já amaciados pelo tempo. Equilíbrio perfeito para um final longo e persistente. 

É um clássico exemplo de como fazer um grande vinho internacional, em puro estilo de Bordeaux, mas com identidade regional italiana bem definida e marcante. De longa guarda, vai evoluir bem ainda ao longo de vários anos. 

Veja também aqui a avaliação do Solaia da péssima safra de 2002. 

Vinho:
Solaia
Safra:
2000
Produtor:
Antinori
País:
Itália
Região:
Toscana
Uvas:
75% Cabernet Sauvignon, 20% Sangiovese, 5% Cabernet Franc
Alcoól (Vol.)
13,5%
Importadora
Winebrands
Preço médio
R$ 2.100,00
Avaliação internacional
WS92; GR3 (vinho do ano)
Avaliação MV
*** (memorável)




sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Mais um ícone de Bordeaux, confira!


Em minha adega tenho uma garrafa do Château Brane-Cantenac que estou louco para abrir, mas ainda não tive a oportunidade. Aí o amigo Bruno resolveu o problema: aniversário de um amigo, jantar marcado no CT Trattorie, rolha free pela ocasião, cada um levando sua garrafa. E não é que o Brunão surpreende todo mundo levando um Brane-Cantenac 2003? Neste ponto eu nem queria saber mais dos outros vinhos (embora excelentes): teria ficado só com este grande Bordeaux! ;-)

Classificado como segundo Grand Cru Classé em 1855 é um dos mais badalados vinhos de Margaux e pra mim umas das melhores relação preço/qualidade (entre os Grand Cru Classés). Sua história começou há mais de 250 anos, quando o barão de Brane vendeu seus vinhedos em Pauillac para a família Rothschild (os vinhedos são os do atual Mouton-Rothschild), para poder comprar terrenos em Margaux e ali fundar seu próprio Château. Localizados na comuna de Cantenac os vinhedos são plantados com Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Carmenère de idade média de 35 anos.

Como vimos também com o Lynch-Bages, a safra de 2003 não foi particularmente generosa em Bordeaux, com um dos verões mais quentes do século. Mas, com estas vinícolas top não tem erro: mesmo em safras ruins os grandes produtores conseguem fazer grandes vinhos. Em safra boa então...

Devido justamente ás condições climáticas a produção do foi drasticamente reduzida e a vinícola decidiu fazer o corte do seu ícone apenas com 2 das 4 uvas normalmente utilizadas, colhendo a merlot antecipadamente e trazendo a Cabernet Sauvignon gradativamente para manter um equilíbrio geral. O vinho passou por um estágio de 18 meses em carvalho, sendo 60% novo.

O vinho é elegantíssimo como só Margaux sabe, com aromas complexos de amoras, framboesas e cassis, com marcadas notas tostadas, grama molhada e uma leve baunilha. As sensações são repetidas na boca, com a adição de certas especiarias (pimenta especialmente), alcaçuz e café. Apesar do grande corpo, o vinho tem muita finesse no palato e um perfeito equilíbrio geral, com excelente acidez, taninos abundantes e finos e final prolongado. Pronto já agora, deve evoluir para mais uns 15 anos.

Veja aqui também minha resenha do segundo vinho da casa, o Baron de Brane.

Vinho:
Château Brane-Cantenac
Safra:
2003
Produtor:
Château Brane-Cantenac (Henri Lurton)
País:
França
Região:
Bordeaux (Margaux)
Uvas:
65% Cabernet Sauvignon, 35% Merlot
Alcoól (Vol.)
13%
Importadora
Várias
Preço médio
R$ 550
Avaliação internacional
RP91; WS90
Avaliação MV
** (marcante)


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Como tornar seu vinho simples num grande vinho


Conversando com uns amigos sobre novos acessórios e bobagens que pontualmente aparecem a cada minuto no mundo do vinho, me lembrei deste mirabolante produto que recentemente vi a venda numa loja de Nova York:


O que parece ser uma simples garrafa de madeira na verdade é um sofisticado instrumento para tornar seu jovem vinho barato num grande vinho maduro e complexo. O procedimento é simples: abra sua garrafa de vinho, coloque o conteúdo na garrafa de madeira, esqueça no armário por alguns dias e voilá: seu Reservado da vida se transforma num Barolo!

Só que não. O vinho vai “ganhar” aromas e sabores de madeira e, seriamente eu recomendaria mesmo...para que não gosta de vinho.

Os bem informados sabem que na verdade o gosto de madeira é tecnicamente para ser considerado um defeito: o estágio em carvalho serve principalmente a amaciar as asperezas do vinho, e acrescentar complexidade e estrutura, mas o certo seria não perceber os aromas e sabores da madeira. Acontece pelo contrário que a partir de vinhos defeituosos, o novo consumidor de vinho começou a gostar daqueles aromas típicos do carvalho, assim que as vinícolas (algumas) começaram a colocar aquele defeito intencionalmente, até chegando ao ponto de colocar madeira no vinho, ao invés de vinho na madeira (veja aqui ).

Até aqui tudo bem (na verdade não), mas esta garrafa de carvalho me pareceu uma verdadeira ofensa para quem aprecia vinho. Um vinho produzido sem estágio em madeira é produzido para ser tomado jovem e fazer estas alquimias simplesmente vai desnaturar o produto final e o trabalho do enólogo. Tem muito vinho simples gostoso, porque vai querer fazer isto com ele?

A garrafa de carvalho é produzida inclusive com vários aromas adicionais, portanto além da pura madeira você pode escolher entre canela, cereja, café, fruta cítrica, fumo, etc. para poder orgulhosamente criar em casa seu vinho falsificado. As garrafinhas saem pela bagatela de 80 dólares cada.

Não tive a infelicidade oportunidade de testar o produto, mas acho que vou sobreviver sem. O fabricante sugere manter o vinho na garrafa por um tempo de 24 a 96 oras, dependendo da intensidade dos aromas desejada, ou seja o tempo necessário para que seu vinho jovem estará já oxidado. Resultado: vai tomar um vinho estragado, com aromas de madeira. 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Um Provence Cru Classé por um bom preço


Com o calor insuportável destes dias nada melhor que vinhos leves e refrescantes, portanto vai aqui mais uma dica de um bom vinho para o verão. Sei bem que o discurso polêmico feito aqui para brancos vale ainda mais para rosé, categoria de vinho injustamente discriminada. Os motivos são mais ou menos os mesmos, mas rosé é pra mim um vinho encantador.

A minha dica inicial para aprender a gostar de vinhos rosados se resume numa única palavra: Provence. A linda e charmosa região francesa é a maior e melhor produtora para este tipo de vinho, sendo referencia mundial quando o quesito é elegância e sofisticação. Ademais, temos que acrescentar que as primeiras videiras da França foram plantadas justamente nesta região, portanto podemos afirmar que os primeiros vinhos franceses da história vieram daqui; e eram rosés.

É claro que lá também existem exemplares medianos, e os melhores costumam ser meio caros comparados com os rosés do novo mundo, mas a diferença é abissal.

A minha dica de hoje é um rosé de muita boa qualidade com preço muito honesto:

Château de la Clapière Cru Classé  2013. A história da vinícola remete ao ano de 1892 e o vinho é de denominação protegida (AOP) Côtes de Provence. Os vinhedos ficam entorno da cidadezinha Hyeres-les-Palmiers, a mais antiga da Riviera Francesa, e ganharam o status de Cru Classé em 1955.

O vinho é um blend de Grenache, Cinsault e Syrah, cuja proporção varia dependendo da safra. Ganhou várias medalhas em concursos internacionais.

De cor salmão claro, no nariz é uma explosão de campos floridos e fruta como pêssego, maça, melão e umas leves especiarias. Apesar da delicadeza da cor, entrega na boca bom volume e complexidade, com grande frescor (excelente acidez), deixando uma sensação de untuosidade e cremosidade no final. A leve nota apimentada também é percebida na boca, junto a sua mineralidade, para um conjunto bem gostoso que vai te levar até o Mediterrâneo.
Detalhe: a garrafa tem um formato muito bonito

Vinho:
Château de la Clapière Cru Classé  
Safra:
2013
Produtor:
Château de la Clapière Cru Classé  
País:
França
Região:
Provence
Uvas:
40% Grenache, 40% Cinsault, 20% Syrah
Alcoól (Vol.)
13%
Importadora
Zona Sul
Preço médio
R$ 54,00
Avaliação internacional
WS 88
Avaliação MV
** (marcante)




terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Tarima Hill: será que o básico é melhor que o top?

Recentemente falei aqui de uma das melhores descobertas para o Bolso Esperto, o Tarima Monastrell 2011 , portanto quis provar também o Tarima Hill Monastrell 2010. O meu raciocínio foi o seguinte: se o vinho de entrada da vinícola é sensacional para seu preço, imagina o top! Mas de fato fui desmentido: a prova  reforçou o conceito de Bolso Esperto onde, neste caso o de entrada é top. Não que o top seja básico, pelo contrário, mas, em minha opinião, perde na comparação, especialmente quando o assunto é a relação preço/qualidade.
  
Como vimos, a Bodega Volver faz um belo trabalho na região espanhola de Jumila a partir de vinhas velhas de Monastrell (ou Mourvèdre). No caso do Tarima Hill a idade dos vinhedos varia de 40 a 75 anos, tendo um rendimento muito baixo. Varietal 100%, matura por 14 meses em carvalho francês.
O vinho é encorpado e bastante extraído na cor. Fruta negra, tabaco, café e muitas especiarias se misturam no nariz e na boca volumosa e estruturada. Álcool alto (15%), acidez boa e taninos firmes, mas maduros, para um final forte de chocolate com pimenta.

É um bom vinho, mas apesar da complexidade desce reto sem causar particular emoção o maravilha, sobretudo levando em consideração a excelente prévia do vinho “inferior” que elevou a expectativa. Pra mim o Tarima ganha disparado do Tarima Hill, não porque seja melhor, tampouco para ir contra ao Parker (91 pontos para o primeiro e 93 para o segundo), mas pela fatídica questão do custo/benefício. Repare bem: o Tarima Hill custa o dobro do Tarima, mas não entrega o dobro da qualidade. Portanto fico com a experiência mais barata, mas não muito inferior. O Bolso Esperto agradece.

Vinho:
Tarima Hill
Safra:
2010
Produtor:
Bodegas Volver
País:
Espanha
Região:
Jumila
Uvas:
100% Monastrell (Mourvèdre)
Alcoól (Vol.)
14,5%
Importadora
Grand Cru
Preço médio
R$ 120,00
Avaliação internacional
RP93
Avaliação MV
* (bom)






segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Aprenda a fazer Champagne em casa!


Estou avisando: daqui a pouco chega o estrato do seu cartão de credito e os resultados da sua paixão para as borbulhas francesas ao longo do mês passado serão bem evidentes.
Se quiser reduzir os gastos, talvez este vídeo vai ajudar. Uma dona de casa australiana vai te ensinar como fazer seu espumante em casa. Ou não.

É suficiente apenas um vinho bag-in-box e um eletrodoméstico. E voilá, les jeux sont faits!
O Sodastream é basicamente um gaseaficador caseiro que torna água natural em água com gás: o aparelho adiciona CO2 tornando a água efervescente (disponível também no Brasil). A senhora pensou: bom, afinal Champagne é isto aí, vinho branco com borbulhas, não é?
O que importa é saber se contentar. Já se quiser extrapolar pode também tentar fazer um espumante com seu Montrachet, why not? 





sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Já provou Malbec do Peru?

Quando recebi esta garrafa do Clube de Vinhos Winelands e li “Malbec” no rótulo logo desconfiei: conhecendo o trabalho de garimpo do importador, que me acostumou a vinhos exóticos e diferentes, duvidava que fosse um clássico malbec argentino. E se fosse, seria de uma região diferente. Imaginei portanto que fosse chileno, mas mais uma vez o importador soube me surpreender, pois se tratava de um Malbec peruano.

Ta ok, concordo que Peru não é famoso pelos seus vinhos (a bebida típica é o Pisco, um destilado a base de uva) e não oferece um dos melhores terroirs do mundo, mas Santiago Queirolo é um dos melhores produtores de lá e vem se destacando em nível internacional. Outra coisa interessante a ser dita é que no século XVI o Peru exportava vinho para Espanha, pois a produção interna dos colonizadores não supria a demanda.

A empresa Santiago Queirolo existe desde 1880, mas produzindo apenas Pisco e vinhos suaves. A partir de 2002 investiu num projeto de uvas viniferas e, chamado Intipalka, que em quechua, o idioma dos Incas, significa Vale do Sol.

Este Malbec 2013 faz parte da linha de entrada Jóvenes Varietales, sem passagens em madeira, mas mostrou boa complexidade e intensidade. No nariz belo bouquet floral e frutado (cereja e ameixa); na boca tem uma textura sedosa e um bom corpo bem macio. Interessante a passagem de meia para final de boca: de umas sensações levemente adocicadas se passa para umas levemente amargas, devido também a seus taninos bem firmes e jovens. De qualquer forma um vinho bem agradável. Mais um vinho diferente do Winelands Importadora e Clube de Vinho.
  
Vinho:
Intipalka Malbec
Safra:
2013
Produtor:
Santiago Queirolo
País:
Peru
Região:
Vale de Ica
Uvas:
100% Malbec
Alcoól (Vol.)
14,5%
Importadora
Winelands
Avaliação MV
* (bom)