segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Almaviva 2007: bom, mas...

Este veio inesperado. Numa confraternização de final de ano entre amigos, depois de termos tomado 15 vinhos, o nosso grande anfitrião Pedro tirou mais uma carta da manga: Almaviva 2007, deixando o pessoal boquiaberto.

Francamente não sei se veio no momento certo, pois depois de 3 Champagnes, um branco, um rosé e 10 tintos de várias procedências e características, acompanhados por comidas igualmente variadas, talvez o nosso paladar não estivesse totalmente “sóbrio” para apreciar as nuances de um vinho desta estirpe e acredito que a nossa capacidade de avaliação naquela altura deve ter ficado afetada pela alegria alcoólica do nosso banquete vínico. Provavelmente foi por causa disto que alguns preferiram outros tintos da noite a este, e outros ficaram indiferentes, mas em minha opinião foi certamente um vinho de outro nível, primando pela finesse.

O rótulo dispensa qualquer apresentação sendo simplesmente o mais badalado tinto da América Latina, fruto de uma joint-venture entre as duas gigantes Concha y Toro e Baron Philippe de Rothschild iniciada em 1997 para criar um ícone chileno com as características de um Grand Cru de Bordeaux.

O corte, de inspiração bordalês, tem maior ênfase no terroir chileno, portanto com predominância de  Cabernet Sauvignon e Carmenere, procedentes de vinhedos de Puente Alto e Peumo (de onde vem os ícones da CYT Don Melchor e Carmin de Peumo). O estágio de 18 meses em carvalho francês se divide em 10 meses de barricas novas e 8 meses de barricas de 2° uso.

Embora tenha ainda uns 15 ou mais anos de vida pela frente, o vinho está já ótimo agora. Extraído na cor e intenso no nariz, entregou aromas de ameixas, cassis, alcaçuz e ervas. No palato corpo médio, boa acidez, textura aveludada, e taninos domados. No conjunto, um vinho de muito equilíbrio e elegância, mas, francamente, não chegou a emocionar. Não sei se minha avaliação foi também afetada pelas questões acima citadas, mas o achei pouco expressivo: tudo no lugar certo e em perfeita harmonia, mas não empolgou. Faltou aquele algo inexplicável que faz pular a minha avaliação de ** a ***, de marcante a memorável. E ademais considerando o alto preço da garrafa, pois existem outros vinhos chilenos de igual ou superior qualidade, mas bem mais em conta.

Enfim, um belíssimo vinho, mas ainda longe de ser o Mouton do Chile. 

Vinho:
Almaviva
Safra:
2007
Produtor:
Viña Almaviva (Concha Y Toro & Baron Philippe de Rothschild
País:
Chile
Região:
Maipo
Uvas:
Cabernet Sauvignon: 64%
Carménère: 28%
Cabernet Franc: 7%
Merlot: 1%
Alcoól (Vol.)
14,5%
Importadora
CYT
Preço médio
R$ 800
Avaliação internacional
RP93; WS93
Avaliação MV
** (marcante)

A nossa garrafa

Mais uma dica de um bom Champagne

Ainda dá tempo para adquirir sua garrafa borbulhante para comemorar a chegada do novo ano, por isso vou deixar aqui mais uma dica de bom Champagne.

Dentro dos não safrados de grandes domaines, o Piper-Heidsieck Cuvée Brut é um dos meus favoritos: no mesmo patamar de preços de colegas mais badalados como Veuve Clicquot ou Möet & Chandon pra mim entrega muito mais que estes principais concorrentes.

Uma das mais antigas casas de Champagne, fundada em 1785, a Piper-Heidsieck produz desde então vinhos de qualidades, ganhando prêmios e reconhecimentos todos os anos, embora seu nome seja mais conhecido por ser a bebida oficial do Festival de Cinema de Cannes.

Este Brut non vintage, embora seja seu “vinho de entrada” pode ser considerado o mais icônico da casa, com seu inconfundível rótulo vermelho. O blend é feito prevalentemente de Pinot Noir, com pequenas doses de Pinot Meunier procedentes dos melhores crus da região de Reims.

A bonita perlage é fina e persistente, no nariz entrega aromas florais e pêra com toques de fruta cítrica e aquelas notas de brioche e fermentos de panificação típicos de grandes champagnes. Na boca a alta acidez faz de contraste à maciez do corpo amanteigado e suculento. Final cremoso com toque cítrico.


Vinho:
Champagne Cuvée Brut
Safra:
N.V.
Produtor:
Piper-Heidsieck
País:
França
Região:
Champagne
Uvas:
Pinot Noir e Pinot Meunier
Alcoól (Vol.)
12%
Importadora
Várias
Preço médio
R$ 300
Avaliação internacional
WS93
Avaliação MV
** (marcante)



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

I'm dreaming of a Wine Christmas...Feliz Natal!

Um sincero desejo de Feliz Natal para os leitores e amigos do MondoVinho.
Um brinde!


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

As desculpas do vinho: 12 maneiras para dizer que é ruim

A última garrafa aberta daquele Gaja parecia mais um brodo que um refinado Barbaresco internacionalmente cultuado? Aquele Almaviva não tinha a finesse da qual tinha lido? O seu produtor natural biodinâmico lançou pela enésima vez um vinagre com aromas da fazenda? O que vai dizer agora para seus amigos que não gostaram do vinho? Mais uma vez o MondoVinho vem te socorrer na hora do sufoco, com uma lista das desculpas mais imaginativas – muitas vezes infundadas – que vão aliviar sua consciência. 

12 maneiras de dizer que o vinho não é bom

1) É jovem demais
A desculpa mais simples e banal, que pode até fazer sentido, mas com certeza é amplamente abusada. Francamente, até com todas as limitações do caso, se um vinho é bom, dá para entender desde sua juventude.

2) Se bebido na sua área de origem é melhor
Claro, por isto vou subir 3.111 metros nas montanhas de Salta para tomar o meu Colomé.

3) É um dia raiz
Talvez você não saiba, mas segundo a ultima tendência do degustador moderno, os dias se dividem, dependendo das fases lunares (pelos princípios da biodinâmica) em: raiz, folha, flor e fruto. Portanto um dia certo pode exaltar as características do vinho e um dia errado pode matá-lo. Sem comentários.

4) É culpa do transporte
Tem um fundo de verdade, sobretudo se a garrafa de vinho viaja da Nova Zelândia para uma aldeia da Amazônia. E também varia de garrafa em garrafa, mas de maneira geral diria que você pode levar tranquilamente a sua querida garrafa para o fim de semana fora da cidade.

5) Não foi servido na temperatura certa
Mais um clássico. Também tem fundamento, pois não há dúvida que uma temperatura de serviço errada afeta a degustação. Mas da mesma maneira, dá para perceber se o vinho é bom ou ruim, independente da temperatura.

6) Infelizmente o paladar se acostumou ao gosto industrial
A minha preferida. È como dizer: o meu vinho não é ruim, é você que não o entendeu.

7) O vinho natural tem que ter defeitos
Parece que para fazer parte da “elite” de produtores naturebas, o vinho precisa da presença de algum defeito, o que depois se faz passar como uma garantia de naturalidade e autenticidade. Pessoalmente até prefiro um vinho diferente com um pequeno defeito a um tecnicamente perfeito mas igual a milhões de outros, mas a desculpa é esfarrapada: produzir vinho natural sem defeitos (e ainda diferentes) não é fácil, mas possível. Não ser capaz é outra coisa.

8) O vinho não foi contextualizado
De fato, bebendo alguns vinhos num estábulo, teríamos certamente um contexto perfeito para a degustação olfativa.

9) O degustador não tem gostos suficientemente masculinos
Serviram na sua taça algo que parece mais com um blend de vinagre e estrume que um vinho e ainda você não gostou? Mulherzinha...

10) Tudo bem, mas tem personalidade
Chegamos ao top das desculpas. O vinho está cozido e oxidado, sem sinais de vida que nem um desfibrilador o traria de volta? Está ruim até para condimentar a salada? Detalhes absolutamente insignificantes perante a sua grande personalidade.

11) Garrafa azarada.
Pronto, este é o master blaster das cartas na manga, a desculpa mais utilizada desde sempre. Pode de fato acontecer, portanto se o seu vinho estiver intragável mesmo, culpe o azar desta garrafa e fim de papo.

12) Bônus: se nada funcionar e estiver realmente com as costas na parede tente esta: o vinho sente a hostilidade do degustador e se retrai. Pode parecer a desculpa mais bizarra e impossível, mas acredite, eu já a ouvi de um produtor.






quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Presentes de Natal: 10 saca-rolhas de $ 5 a $ 800

Você reconhece o verdadeiro eno-fissurado pela quantidade e variedade de saca-rolhas espalhadas pela casa toda. O coitado vive com medo de não conseguir abrir aquela rara garrafa de 1956, então coleciona várias ferramentas e apetrechos abridores. Claramente, se você der pra ele mais um de presente, só vai fazê-lo feliz, também porque os amigos e confrades sempre tem um mais mirabolante para humilhar.

Neste post listarei 10 saca-rolhas escolhidos entre os os melhores do mercado (online*), e ordenados pelo preço crescente. Excluindo engenhocas modernas (como vimos aqui e aqui ), focaremos no estilo clássico: alça, espiral, alavanca.
A partir destas características, o preço varia muito. A escolha é sua, para o eno-fissurado tanto faz. Contanto que retire o maldito obstáculo feito de cortiça que o separa de seu único amor.



1) ApesLoveGadgets - $ 5,60
Mais básico do que isso vai ser difícil, no entanto, é portátil e difícil de perder. A vareta se enfia na espiral e pode se tornar um prático chaveiro.
Essencial.




2) Supera CRK-T –  $ 6,42
Grande clássico nascido na Grécia antiga, antes que o  Arquimedes pronunciasse o famoso princípio da alavanca. Para guardar como uma antiguidade.
Primordial.




3) Pulltap’s – $ 9,99
Sério, confiável e sóbrio. Geralmente tem a espiral encoberta de teflon, para deslizar melhor na rolha. Graças a seu preço razoável é também o brinde preferido pelas vinícolas. Professional



4) Le creuset – $ 24,95
Versão turbinada do anterior. Mais corpulento e potente é ideal para as rolhas mais indisciplinadas e teimosas. O sistema de dupla alavanca “push” é bem prático. Eu uso este.





5) Vinium Rosa – $ 33,95
A alça em madeira rosa e a elegância da embalagem o tornam o presente ideal para a mulher sommelier. Abrir com delicadeza




6) Origine Barrique– $ 49,95
Origine usa para a alça somente madeira de barrique procedente de Bordeaux ou Borgonha. 
Como diriam os meus amigos: coisa fina.





7) Ghemme Wenghe Grand Cru – $ 69,95
Além do design, o preço sobe pois se trata de um produto inteiramente feito a mão, com materiais de primeira, como a madeira wenghe. 
Artesanal






8) Jean Dubost Laguiole Stag Horn – $ 149,00
Produzido pela mítica casa francesa Laguiole, todo o processo de fabricação é rigorosamente artesanal. A alça é feita com chifre de cervo (crueldade!) e vem numa caixa de madeira dentro de um estojo em couro. 
Anti-ecológico


9) Laguiole Pocket Knife - $ 159,95
Um presente digno de abrir uma garrafa rara de Château Haut-Brion. Reproduzindo modelos originais dobráveis e portáteis, vem numa pochete de couro, juntamente com um amolador de facas. Em aço inox e madeira de oliveiras. Cuidado para não se machucar. 
Arma letal.


10) Laguiole Vigne Collection – € 595,00
Em prata maciça gravado a mão pela ourivesaria Roux Marquiand. Cada exemplar é único, numerado e fornecido de certificado de autenticidade. Pode solicitar a gravura do nome e o presente vai ser entregue diretamente para a casa do sortudo destinatário. 
Preste atenção, por favor: Trano se escreve com um N.


 * produtos selecionados nos sites:  AmazonWine EnthusiastLaguiole e Vinum design
.
  







terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Veja como foi a degustação de Cabernet Sauvignon!

Semana passada começamos um novo projeto, com um novo parceiro. A Saudável é uma distribuidora de bebidas e alimentos finos. Em concomitância com o lançamento da loja on-line (onde finalmente também o consumidor final poderá adquirir seus produtos preferidos), organizamos um evento de degustação, que na verdade foi mais um piloto, para adiantar a rica programação que vai estrelar em 2015. Quando falo no plural subentendo a prestigiosa presença do grande amigo e parceiro Tom Meirelles, profundo conhecedor dos assuntos vínicos, sendo um grande privilegio para mim poder trabalhar com ele. O dono do negócio, Paulo Uchoa, além de ser uma pessoa bacana, transparente e integra, é um cara de grande visão de mercado e trabalha com umas das margens mais honestas que já vi no mercado do vinho no Brasil. O catálogo é variado e os preços ótimos. E a casa conta com um espaço show-room muito charmoso, perfeito para este tipo de degustações intimistas, para um público seleto. Foi neste local que aconteceu o nosso primeiro de muitos eventos a seguir.
O tema escolhido foi dos mais cativantes: a uva Cabernet Sauvignon. Depois de breve palestra apresentamos e degustamos 6 rótulos de vários Países, no estilo bem humorado que desde sempre nos caracteriza. Felizmente podemos contar com o apoio de uma das importadoras mais relevante do País, a Calix/Decanter que nos forneceu 4 dos rótulos apresentados.
O evento correu com leveza e descontração e os convidados participaram ativamente do diálogo. Depois de um espumante de boas vindas, o gostoso Courmayeur Nature Retrato, foram servidos pães, azeites, pastas variadas, queijos e frios e um delicioso farfalle ao funghi para acompanhar. E para finalizar, ainda abrimos vários outras garrafas, como cortesia da casa e de uns amigos, o que demonstra mais uma vez a generosidade dos nossos parceiros.
Era para ser 6 vinhos, mas repare na foto a seguir como acabou:




Pois é, 15 garrafas! Enfim, foi uma noite para ficar na memória, mas devo salientar que não teria sido tão perfeita sem o trabalho da super-prestativa e incansável Izabella Breves, assistente de marketing da Saudável e da preciosa colaboração da Cristina Uchoa.

Vamos a uma breve analise dos vinhos “oficiais” da degustação.

- Perini Fração Única CS 2012 (Brasil, Serra Gaucha): linha intermediária da vinícola, este cabernet mostrou chocolate e menta no nariz, com um bom corpo e complexidade. Custo/benefício.

- Benegas Luna Benegas CS 2009 (Argentina, Mendoza): mesmo estando supostamente no começo da decadência da curva de evolução, mostrou ainda bastante saúde no copo: boa fruta com notas tostadas, textura lisa e taninos macios. O enólogo consultor da vinícola é o badalado Michel Rolland. Boa compra.

- La Forge Estate CS 2010 (França, Languedoc): talvez o meu preferido do painel. Já vimos aqui que Jean Claude Mas (Domaines Paul Mas) é um craque. E neste vinho demonstrou mais uma vez sua habilidade em produzir vinhos modernos, mas com grande respeito da tradição. Corpo médio, fruta silvestre, terra molhada, baunilha e mentolado. Saboroso e elegante.

- Torreon de Paredes Reserva Privada CS 2008 (Chile, Cachapoal): surpreendentemente elegante para cabernet chileno, se colocado ás cegas com vinhos do velho mundo enganaria facilmente. Depois de decantação entregou um leque de especiarias variadas no nariz, junto a cereja, alcaçuz, tabaco e café. Fenomenal.

- J.Lohr Seven Oaks CS 2012 (EUA, Califórnia): quando o assunto é vinho americano se fala quase exclusivamente em Napa, por isto fizemos questão em apresentar um cabernet de uma região vinícola diferente, a de Paso Roble (400 km ao sul de Napa), sendo Jerry Lohr pioneiro da viticultura nesta área e vinícola do ano pela Wine Enthusiast. Este foi o vinho favorito dos participantes da degustação. O clima mais quente se traduz num vinho rico, com fruta madura, textura sedosa e taninos polidos. Puro prazer.

- Benegas Cabernet Sauvignon 2009 (Argentina, Mendoza). Melhor cabernet e 2° melhor tinto argentino pelo Descorchados em 2012. O toque do Rolland também é evidente neste tinto, resultando num vinho potente e macio, com muita fruta em compota, grande corpo e taninos maduros. Suculento.

Enfim, foi uma noite muito boa, em companhia de grandes vinhos e grandes amigos.
Se não quiser ficar de fora dos próximos eventos, fique ligado aqui no MondoVinho e no site da Saudável Online.

Confira algumas fotos a seguir

P.S. todos os vinhos acima comentados (e muitos mais) estão disponíveis para compra na loja online da Saudável. 


























domingo, 14 de dezembro de 2014

O primeiro guia de harmonização vinho-inseto

Eu sei, você deve estar pensando: "Pô, depois de falar sobre Grand Cru Classé e Champagne, agora o MondoVinho vem me falar de insetos!?!? Só pode estar de s@c@n@gem... ". Pois é, mas quem não ficou antenado (é o caso de dizer!), não sabe que inseto é a comida do futuro. E estamos falando de um futuro nem tão remoto: com a crise dos recursos sustentáveis do nosso planeta, os insetos representam uma segura, abundante e econômica alternativa para nossa necessidade de proteínas, que antes ou depois teremos que nos acostumar a consumir. De acordo com a ONU entre o ano de 2020, inseto será nosso pão cotidiano. A tendência já pegou lá fora, onde em mercados e feiras é muito comum encontrar estantes com potes de insetos a venda. E também estas  “iguarias” já fazem parte de cardápios de restaurantes mundialmente badalados e chefes estrelados, como os do René Redzepi do Noma (Copenhague), Heston Blumenthal do Fat Duck (Londres), e até aqui com os nossos Alex Atala do D.O.M. (São Paulo) e Felipe Bronze do ORO (Rio de Janeiro), só para citar alguns. Inclusive muitas espécies são facilmente adquirível no Amazon portanto, mesmo sentindo nojo (é exatamente o meu caso), temos que aceitar que a realidade é mais próxima do que pensamos. Portanto vamos adiantar os trabalhos e começar a pensar ao vinho, e com a ajuda desta matéria do Daily Mail,  vamos ao primeiro guia de harmonização vinho-inseto do mundo!

- Escorpião das florestas asiáticas: os escorpiões têm um forte sabor amargo e normalmente são consumidos com molho de chilli. Para combinar os sabores, um rosé ou um pinot noir de bom corpo da Romênia.

- Minhocas: elas são crocantes e com sabor de avelã, portanto harmonizam com a riqueza e a fruta de um Viogner australiano

- Tarântula-zebrada: as tarântulas são normalmente consumidas fritas, portanto pensamos em algo similar a peixe com batata frita. Um Chardonnay vivo e encorpado vai harmonizar perfeitamente.

- Larvas do Escaravelho-vermelho: estes vermes tem um sabor distinto, parecido com o do bacon, portanto é indicado um tinto musculoso e complexo, como um Shiraz australiano, cheio de fruta e especiarias. 

- Gafanhotos: lembram o sabor de churrasco e de alguns aperitivos temperados. Um moscatel, melhor se levemente borbulhante, é uma boa sugestão.

- Gafanhotos com cobertura de chocolate: o sabor lembra sementes de girassol, mas não podemos esquecer a doçura do chocolate. Portanto seria indicado um vinho robusto com muita fruta doce (tipo um Malbeccão argentino ou um Primitivo di Manduria)

- Barata-de-água: a carne dentro da barata tem um sabor que remete a vieiras, enquanto a cabeça tem notas de anis, então é preciso de um vinho que harmonize bem ao mesmo tempo com frutos do mar e com sabores fortes. A melhor escolha é um Xerez seco fino, com seus aromas cítricos e palato amendoado.

- Formiga tecedeira: tem um sabor ácido e crocante, como um limão. Com um branco aromático, como um Gewürztraminer com boa fruta e notas florais não vai ter erro.

- Grilo: os sabores são mais difíceis em grilos, por isto eles são quase sempre preparados com alho e sal. O leve sabor de avelã pede um branco rico e encorpado, como um Albariño.

- Chapulin (gafanhotos ao alho): tem um sabor terroso e herbáceo e uma textura muito crocante, portanto é recomendado um Champagne seco e cremoso.


Pronto, em quanto você processar e mentalizar as harmonizações para sua rica mesa, me desculpe só um momento: vou vomitar rapidinho e volto em breve.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Champagne para Leigos: as siglas

Época de Natal e fim de ano automaticamente remete a Champagne, pois não existe momento mais propício para presentear (a si mesmo ou a outros) com uma bela garrafa de borbulhas francesas. Mas se orientar entre as siglas dos rótulos de Champagne nem sempre é tarefa simples, porém fundamental para entender a grande complexidade atrás desta magnífica região de 300 milhões de exemplares (quase todos prestigiados) que a cada ano invadem as prateleiras do mundo.

Primeiramente, se você ainda não leio, de uma olhada neste post "20 coisas para o cervejeiro saber sobre Champagne" para entender as dinâmicas e os princípios básicos da denominação.

Dito isto, tenha em mente que falamos de uma região onde 90% dos vinhedos são cultivados por 27mil vigneron, sendo 13mil fornecedores de uva a terceiros e 4.500 sendo também produtores; ainda tem as cooperativas, compostas por quase 14mil viticultores. Os cerca de 3500 hectares que faltam são divididos entre 350 entidades, grandes maisons e negociants, que de qualquer forma sozinhos detêm 75% do mercado. Um belo quebra-cabeça!

Para esclarecer um pouco a intricada questão, a legislação atribuiu para cada produtor uma sigla que qualifica o trabalho e o tipo de produção: umas iniciais impressas no rótulo ou no contra-rótulo, algo similar a escrita “engarrafado na propriedade” que encontramos nos tradicionais rótulos ou rolhas de vinho tranqüilo.

Garanto que não é tarefa fácil, mas para facilitar sua vida na hora de escolher um Champagne para suas compras de Natal o MondoVinho mais uma vez vem em seu socorro, com este prático guia. Ou vai querer pagar mico igual os supostos “entendidos” que doam uma garrafa de Champagne de supermercado passando-a como uma pérola numerada de um pequeno produtor artesanal que encontrou na França? Vamos lá.



NM: Négociant Manipulant. Produtor individual ou empresa que compra as uvas, o mosto ou o vinho para produzir Champagne na própria vinícola e comercializa-lo com o próprio rótulo. Todas as grandes maison pertencem a esta categoria, como as do grupo LVMH, Pommey, Piper Heidsieck, Lanson. Lembre-se: em Champagne se fazem grandes produtos também apenas comprando as uvas (basta procurar e pagar bem) e nem todos os produtores tem a mesma percentagem entre uvas própria e uvas compradas. Por exemplo, Louis Roederer produz com 70% de uvas proprías, já Moet et Chandon, Pommery e Lanson, com muito menos.

RM: Récoltant Manipulant. Viticultor que produz e comercializa Champagne com o próprio rótulo a partir de uvas procedentes exclusivamente de vinhedos próprios e elaboradas na própria vinícola. Fenômeno comercial relativamente recente são hoje os preferidos pela crítica moderna e alternativa. Ao contrário do que se pensa, em Champagne a maioria dos hectares pertence justamente aos cultivadores, que porém só em poucos casos tem força econômica e comercial para vinificar e engarrafar autonomamente. Quando eles conseguem podemos encontrar pequenas obras primas, sinceras expressões do terroir. Mas também podemos encontrar vinhos não perfeitos. Alguns nomes: Selosse, Fallet Prevostat, Gaston Chichet, Georges Laval. Muitos apresentam no rótulo a marca “Les Champagnes de Vignerons” 
  
CM: Coopérative de Manipulation. Cooperativa vinícola que comercializa Champagne elaborado em vinícolas cooperativas com as uvas dos associados. Neste caso as CM podem contar com milhares de hectares e associados. Bom exemplos que conjugam qualidade e quantidade: Paul Goerg, Beaumont de Crayères, Union Auboise.

RC: Récoltant-Coopérateur: O ponto de partida é o mesmo do anterior, mas no caso, o Récoltant-Coopérateur recupera a parte de Champagne que a cooperativa produziu e engarrafou para ele e o comercializa com a própria marca. Um exemplo é a cooperativa Mailly Grand Cru: dentro dela trabalham 4 récoltant-coopérateur que engarrafam com o proprio nome 22mil das 500mil garrafas produzidas por Mailly.

SR: Société de Récoltants: é como uma CM, mas neste casos os associados pertencem a uma mesma família.

ND: Négociant Distributeur. Distribuidor que compra Champagne já engarrafado e o rótula e comercializa com a própria marca. Obviamente, nenhum grande nome aceita este tipo de negócio.

MA: Marque Auxiliaire (ou marque d’acheteur). Parecido com o esquema anterior mais em maior escala. Trata-se de Champagne produzido por vários produtores, mas comercializado com uma marca que não pertence a nenhum deles, por exemplo, a de uma grande rede de supermercados. É a tipologia mais comercial, apesar de oferecer às vezes umas boas barganhas em termos de qualidade/preço.

AP: Acheteur Parfaite. Comprador Perfeito. Este é você agora, depois de ter lido esta matéria. ;-) Espero ter ajudado, boas compras!







terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Degustação de Cabernet Sauvignon, não perca!

A Cabernet Sauvignon é amplamente definida como a “rainha das uvas tintas”. Descubra o porquê e experimente várias facetas desta celebrada uva, numa imperdível palestra/degustação que acontece nesta 5ª feira no charmoso espaço show-room da distribuidora Saudável, em Botafogo.

MondoVinho tem o prazer e privilégio de apresentar junto com o amigo e expert Tom Meirelles esta degustação, de diferentes Cabernet Sauvignon do mundo, num papo descontraído onde iremos descobrir juntos as características e os segredos desta uva perfeita para vinificação.

O valor de participação é realmente irrisório, considerando que inclui espumante de boas vindas, palestra com degustação de vinhos, comidas (serão servidos pães, azeites, pastas variadas e farfalle ao funghi). E ainda haverá venda com desconto especial para compra dos vinhos da degustação e de outros vinhos da casa.

Vinhos em degustação*:

- Courmayer Retrato Brut (espumante de boas vindas)
- Perini Fração Única Cabernet Sauvignon (Brasil) 2010
- Luna Benegas Cabernet Sauvignon (Argentina) 2009
- La Forge Cabernet Sauvignon (França) 2012
- Torreon de Paredes Cabernet Sauvignon Reserva Privada 2008 (Chile)
- J. Lohr Estates Seven Oaks Cabernet Sauvignon 2011 (Estados Unidos)
- Benegas Cabernet Sauvignon 2009 (melhor CS da Argentina pelo guia Descorchados)

Faça logo sua reserva, pois as vagas são limitadas!



Data: 11 de Dezembro (5ª feira)
Horário: 19:00h
Local: Show Room Saudável, Rua Assis Bueno, 46/ loja - Botafogo - Rio de Janeiro
Investimento: R$ 95,00
Vagas disponíveis: 16
O valor inclui: apresentação/palestra, degustação de vinhos, mini-porções de comida e descontos especiais para compra de produtos selecionados.
*rótulos sujeitos a variação

Para reserva e informações:
Tel: (21) 2541.9551 / (21) 2244.9702 / 21) 3176.1796
Email: sac@saudavelonline.com.br

sábado, 6 de dezembro de 2014

Um dos ícones de Bordeaux: Château Lynch-Bages 2003

Você sabe que aqui sempre prezamos a relação preço/qualidade (o famoso custo/benefício, se preferir), e a nossa bem sucedida coluna Bolso Esperto exemplifica este princípio. Mas de vez em quando também gosto de me deixar levar pelo puro prazer hedonista e tomar algo benéfico pela autoestima, ehehe afinal ninguém é de ferro, né? Portanto, dependendo da ocasião e/ou da disposição, posso decidir de tirar da minha adega uma garrafa como esta.

Château Lynch-Bages 2003. Um dos tintos mais aristocráticos de Pauillac e de todo Médoc. Confesso que, ficando nestas denominações top, tendo a preferir mais Margaux ou St. Esthepe, normalmente mais elegantes que opulentas, mas aqui estamos falando de um grande Pauillac. Grand Cru Classé pela Classificação oficial de 1855, considerado por muitos um rival dos mais badalados da mesma denominação (como por exemplo Lafite ou Latour), de fato é classificado como Cinquième Cru (5°), mas segundo a opinião geral poderia ser hoje um Deuxièmes Cru (2°), sobretudo em algumas safras em que seus vinhos foram bem melhores que os da concorrência vizinha.

A história da vinícola remete ao século XVI, e passou dos Lynchs por vários proprietários, mas a afirmação começou em 1934, a família Cazes assumiu o controle da vinícola. O revolucionário enólogo Jean-Charles Cazes quis romper com a tradição e assumir os riscos de atrasar a colheita, tanto que se tornou famoso por ser o último a colher em Pauillac. Este método de alcançar a plena maturidade e concentração da fruta lhe garantiu uma série de safras espetaculares. Em particular, algumas bem difíceis e ruins em Bordeaux, foram ao invés muito boas para Lynch-Bages. Nos anos a seguir, os herdeiros André e Jean-Michel Cazes conseguiram manter o alto padrão de qualidade até hoje, o que torna o Château  Lynch-Bages sempre um dos vinhos mais procurados de Bordeaux, em qualquer safra.

Os vinhedos ficam na porta de entrada de Pauillac, a 900 metros do Chateau Latour e a vinícola produz hoje apenas 3 vinhos: o Blanc, o Echo (segundo vinho) e o ícone homônimo Chateau Lynch Bages.

Esta safra de 2003 não foi uma das melhores em Bordeaux, com temperaturas ao longo do ano acima da média, mas felizmente umas boas chuvas em julho conseguiram manter a evolução das uvas num bom nível. E o know-how da equipe da casa fez o resto, entregando um dos melhores tintos da safra de toda Bordeaux.

O vinho é produzido com corte bordalês bem típico de Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, com uma pitada de Petit Verdot, maturado em barricas de carvalho (70% novas) por 15 meses.

Na minha taça
Depois de 11 anos o vinho se mostrou ainda em toda sua juventude, como previsto para tintos desta estirpe, inteirinho e com muitos anos pela frente, mas já com uns aromas terciários bem evidentes. Portanto cerejas, ameixas, alcaçuz, azeitonas pretas no nariz, mas também sensações de defumado, tabaco, couro, grafite. Na boca é preciso e limpo, com textura sedosa. Acidez alta e taninos amaciados, mas ainda vivos com um longo final. Álcool civilizado (13%). Desce que é uma maravilha: o coloquei no decanter, mas não consegui deixa-lo descansar, pois os aromas estavam muito atraentes e gole após gole o nosso amigo foi embora rapidinho.

Agora se me perguntarem se vale o que custa, vou lhe dizer que não, mas certamente o vinho oferece uma experiência gratificante para qualquer apreciador da bebida, especialmente para quem (como eu) adora um bom Bordeaux.

P.S. este rótulo foi uma encomenda gentilmente trazida diretamente de Paris pelo meu amigo e colega Alexandre Follador, cujo blog Idas e Vinhas recomendo a leitura.






Vinho:
Chãteau Lynch-Bages
Safra:
2003
Produtor:
Lynch-Bages (Cazes)
País:
França
Região:
Bordeaux – Pauillac
Uvas:
75% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot, 8% Cabernet Franc, 2% Petit Verdot
Alcoól (Vol.)
13%
Preço médio
R$ 1.700,00
Avaliação internacional
RP 95; WE 94; WS 92
Avaliação MV
*** (memorável)