sexta-feira, 29 de março de 2013

O mais subestimado top chileno


Este vinho seja talvez o mais esnobado entre os tops chilenos. Não tem o apelo do Almaviva, a internacionalidade do Clos Apalta, a fama do Dom Melchor, a tradição da Montes, a badalação do Seña. Não tem nem o preço deles, sendo mais em conta que todos deste grupinho. Talvez este seja um dos fatores pelo qual o enochato não compra, sendo que ele gosta é mesmo de gastar muito. Outro fator é que é um tinto um pouco diferente dos ícones chilenos, pois prioriza mais a elegância no lugar da potência, e nós sabemos que o consumidor de tops novomundistas prefere vinhos mastigáveis e macios.
Então se você é deste tipo de consumidor, segue a dica: este vinho não é para você. Já se você gosta de um estilo mais europeu, tradicional e refinado, recomendo provar o Domus Aurea 2008 , da  vinícola Clos Quebrada de Macul
Eu pelo menos gostei bastante, e, aparentemente, até o guia Descorchados 2013 me deu razão, elegendo justamente o 2008 que eu provei como o melhor tinto sul-americano do ano.

A vinícola é relativamente recente, fundada em 1995. Seus vinhedos no Alto Maipo forneciam as uvas para muitas das vinícolas da região, até que o dono do terreno (o advogado Ricardo Pena) resolveu fundar sua própria empresa, junto com seu sócio David Williams. Os enológos envolvidos no projeto (Patrick Valette e Jean-Pascal Lacaze) foram “importados” diretamente de Bordeaux, e em poucos anos a vinícola, com produção de boutique, cresceu em qualidade e reconhecimento,

O Domus Áurea é o top da casa e é basicamente um Cabernet Sauvignon, cortado à la manière bordelais. Agora, corte bordalês quase todo vinho chileno tem, mas este foi o que mais me remeteu a Bordeaux mesmo. Aromas de cassis, alcaçuz, terra molhada, com notas de eucalipto, evoluindo para couro e tabaco. O volume não é de encher a boca, tem textura lisa, com taninos pronunciados e acidez viva, que o torna bastante gastronômico. O álcool, embora alto, é imperceptível.
Vinhão.

Vinho:
Domus Áurea
Safra:
2008
Produtor:
Clos Quebrada de Macul
País:
Chile
Região:
Alto Maipo
Uvas:
86% Cabernet Sauvignon, 7% Merlot, 5% Cabernet Franc, 2% Petit Verdot
Alcoól (Vol.)
14,5%
Importadora:
Zahil
Custo médio:
R$ 240,00
Notas:
RP 93; WS 92; DES 96

quinta-feira, 28 de março de 2013

O Encontro de Vinhos OFF está ON!



Mais uma vez é com prazer que anuncio um dos eventos mais interessantes para o consumidor de vinhos brasileiro. O Encontro de Vinhos Off.
Como acontece em todas as grandes férias internacionais, este é o evento que precede a feira Expovinis (a maior da feira de vinhos da América Latina), onde com exclusividade será possível conhecer “em off” algumas novidades do mercado. E evento é um sucesso e a organização do Daniel Perches e Beto Duarte é impecável,  até que se tornou uma feira itinerante. Mas o OFF de São Paulo é o verdadeiro imperdível, onde tudo começou, e justamente pela aproximação com a Expovinis, é o que conta com maior número de expositores e rótulos (confira aqui como foi a edição do ano passado)
O preço é muito baixo para um evento deste porte, sendo que inclui acesso a todos os vinhos, comida e entretenimento. Você não vai querer perder!

Confira abaixo o release oficial.










terça-feira, 26 de março de 2013

O melhor tinto do ano?


Sei que o ano praticamente apenas começou, mas já temos um dos finalistas para concorrer ao título de melhor tinto provado em 2013. Um Bordeaux de primeira, e de safra excepcional.
Château Lafon-Rochet 2005. Grand Cru Classé pela Classificação Oficial de Medoc de 1855. Seus 45 hectares de vinhedo em single block, hoje conduzidos de forma orgânica e biodinâmica, ficam na apellation de Saint-Estèphe entre o Château Lafite-Rotschild de um lado e o Cós d’Estournel do outro. A vinícola é de propriedade da família Tesseron, procedente historicamente da produção de cognac, e donos também do Château Pontet-Canet, também Grand cru Classé.

Como vocês sabem, a Classificação de Medoc foi feita em 1855 e desde então nunca modificada – menos a promoção “política” do Mouton Rotschild a Premier Grand Cru em 1973 – portanto hoje tem grand cru classé bom e grand cru classé ruim; caros e menos caros (mas, infelizmente, nunca baratos). Este vinho fica no meio desta balança e pessoalmente o considero uma boa compra para quem quiser provar um grande Bordeaux sem gastar os valores absurdos cobrados para os mais badalados. Classificado como 4eme cru, o Château Lafon-Rochet é certamente superior a muitos de seus 10 colegas de ranking, podendo ser tranquilamente um 3° cru.

Verdade que a safra de 2005 foi histórica e que em outros anos ficou um pouco devendo, mas esta garrafa foi um show. Com 7 anos de vida é ainda uma criança e com certeza poderia ter aberto o moleque daqui a uns 30 anos, mas melhor aproveitar o presente, né? Então abri a garrafa sem medo de ser feliz, e para 2 horas os problemas foram de outros.
O vinho é um corte tradicional de Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, maturado por 16-20 meses em barricas. Bem elegante, mas pela proximidade com Paulliac mostra também certa opulência. Aromas bem típicos de fruta negra, terra, hortelã, couro. Boa boca, do ataque até o final. Belo volume, com textura aveludada e equilíbrio perfeito entre madeira, acidez e taninos vivos, mas saborosos.
Um vinho clássico (e classudo), mas de olho na modernidade.

Vinho:
Château Lafon-Rochet
Safra:
2005
Produtor:
Lafon-Rochet
País:
França
Região:
Bordeaux - Saint-Estèphe
Uvas:
 Cabernet Sauvignon (55%), Merlot (40%), Cabernet Franc(5%)
Alcoól (Vol.)
13,5%
Importadora:
World Wine
Custo médio:
R$ 350,00
Notas:
RP 90; WS 92

domingo, 24 de março de 2013

Tinto ícone do Vale do Limarí

Nesses dias o grande amigo Martins, notório apreciador da bebida de Baco, nos fez uma grata visita em casa. Ele avisou que ia trazer um vinho para tomarmos juntos, e como eu sei que ele não é de tomar vinhos ordinários, imaginei que não trouxesse um “genérico”, mas ele pegou pesado mesmo e mais uma vez me surpreendeu com um verdadeiro vinhaço: o Payen, top da chilena Tabalí.

Esta vinícola boutique foi pioneira ao se instalar no Vale de Limarí, emergente região ao norte do País, que, em virtude de seu clima, produz vinhos diferenciados, se comparados aos demais chilenos. A proximidade com o deserto do Atacama e o com o Oceano Pacifico proporciona dias quentes e noites frias, situação perfeita para a maturação das uvas.

A Tabalí é referência  no Limarí e se destacou nacional e internacionalmente (seu Talinay foi eleito melhor chardonnay chileno pelo guia Descorchados) e pela qualidade do vinho por nós provado, diria, merecidamente.

O Payen é o vinho top da vinícola e ícone da região. Syrah varietal, com 18 meses de maturação em carvalho francês, é um vinho impressionante tanto em aromas quanto em paladar. Embora o vinho seja bastante extraído em cor e corpo, mostrou bom equilíbrio. No nariz, cerejas maduras, mirtilo, pimenta, violeta, com notas defumadas. Na boca, grande volume e textura super-aveludada, rico em taninos maduros e com madeira bem integrada. Como era para se esperar, a acidez não é um dos pontos fortes, mesmo assim o vinho mostrou certa elegância ao lado da potência (álcool 14%). Excelente companheiro do nosso “filosofar” ao longo da noite.
Valeu, sr. Martins!

Vinho:
Payen
Safra:
2007
Produtor:
Tabalí
País:
Chile
Região:
Vale do Limarí
Uvas:
Syrah (100%)
Alcoól (Vol.)
14%
Importadora:
Grand Cru
Custo médio:
R$ 240,00
Notas:
RP 94; Des 92

sábado, 23 de março de 2013

Chega ao Brasil o evento top da Itália!

Acabo de receber o convite para um dos mais importantes eventos do ano: o Gambero Rosso Road Show Tour 2013. Pois é, meus amigos, o evento itinerante que leva aos quatro cantos do planeta os vinhos tops da Itália está de volta ao Brasil.  A passada edição foi um show (confira aqui ) e este ano promete ser melhor ainda!
Acontece no dia 18 no Rio de Janeiro e no dia 22 em São Paulo.
Segue release oficial.



sexta-feira, 22 de março de 2013

As fotos dos aromas de vinho: genial!


Um dos assuntos do vinho mais interessantes e discutidos, e ao mesmo tempo, polêmicos é a questão dos aromas. Alguns bem típicos e de fácil detecção, uns mais difíceis que precisam de técnica e treinamento (veja aqui como aprimorar seu nariz), outros - a maioria talvez - inventados por profissionais fantasiosos querendo tirar onda. 
Para colocar um pouco de ordem nesta história, a revista inglesa The Drink Business encomendou ao fotografo Colin Hampden-White uma série de fotografias que representassem os cheiros facilmente detectáveis com o nariz na taça das principais castas de uva do mundo. 
Achei a idéia fantástica e o resultado uma obra prima. Nesta primeira série, os 4 best-sellers internacionais. Esperando com ansiedade as próximas, “observe” aqui os aromas de: Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Riesling.

Pinot Noir
Pinot Noir - Rosas, ruibarbo, tomates e cerejas os mais chamativos. Em primeiro plano trufas e cogumelos. A seguir, couro (o cinto no lado direito), café (uma cafeteira esfumaçante); ainda, no fundo temos bacon (espetado por um garfo) e couve. Tudo apoiado sobre um pano de seda, para indicar a textura lisa do liquido na boca.

Cabernet Sauvignon
Cabernet Sauvignon - Dispostos sobre um pano de veludo que representa a riqueza de taninos: amoras, groselhas, pimentão e terra. No meio temos chocolate, alcaçuz, tabaco, figo e mirtilo. Ainda notamos um par de luvas (couro), uma caixa de charutos (tabaco), dois lápis (grafite) e um tronco de arvore (madeira).
Entre as ervas temos tomilho, menta e alecrim, envoltos em folhas de eucalipto. No fundo, uma garrafa de Cassis.

Chardonnay
Chardonnay - Limão, laranja, nozes, amêndoas, flores e mel. Ainda temos melão e passas, abacaxi e banana no fundo. E dá para identificar também umas brioches, queijos e biscoitos (leveduras).

Riesling
Riesling - Maça, melão, pêssego, limão, flores e canela, sobre um tecido de seda verde. Para representar a mineralidade temos de  novo o giz, mais um afiador de facas em aço. O bocal para gasolina remete aos caraterísticos aromas de querosene e petróleo. 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Papa Francisco e o mistério das 115 garrafas de Primitivo


É uma terça feira qualquer em Culver City, Califórnia, quando Michael Carpenter chega em sua loja de vinhos The Redd Collection. De repente uma ligação do exterior, perguntando se ele teria como enviar uns vinhos para Itália. O desconhecido cliente quer 115 garrafas de um Primitivo di Manduria, com um nome que em inglês não quer dizer nada: "Papale". O Michael estranhou muito o pedido: enviar vinho italiano dos EUA para Itália era algo que não fazia muito sentido, ainda mais que cada garrafa sairia pelo dobro do valor, incluindo o frete. But the best is yet to come. Obviamente ele aceita e quando pergunta o endereço de entrega a resposta é mais incrível ainda: “Cidade do Vaticano, escritório do Cardeal Secretário de Estado”.
Só depois, lendo o rótulo, que o Michael entendeu. A vinícola Varvaglione, produtora do vinho em questão, escolheu o nome “Papale” como dedicatória à eleição do Papa Bento XIII, originário justamente da Puglia, e o rótulo conta um pouco desta história.
O vinho é muito vendido no exterior, motivo pelo qual foi mais fácil achá-lo nos Estados Unidos que na própria Itália.
Por que não um vinho argentino, então? Bem, o pedido foi feito um dia antes da escolha do novo Pontífice, quando ainda ninguém sabia a nacionalidade do sucessor do Bento XVI, então pensou-se que um vinho homenageando o País hóspede da Igreja e ainda com nome papal agradaria de qualquer forma.
Mas por que 115 garrafas? Simples, o Conclave é formado por 115 cardeais.
Amém.

domingo, 17 de março de 2013

Aonde (não) comprar vinhos em Paris

Quem conhece a capital francesa e ama vinhos deve já conhecer também os endereços mais famosos e badalados aonde adquirir as cobiçadas garrafas.

Lavinia, sobre todos, é o destino mais conhecido e procurado. No Boulevard de Madeleine, a imensa loja parece o paraíso na terra dos enófilos: 3 andares de garrafas do mundo inteiro, acessórios, livros e um bistrô com wine-bar. Além de algumas maquinas Enomatic espalhadas onde é possível degustar vários vinhos em taça através de um cartão eletrônico recarregável. A seleção de rótulos é enorme e a adega fechada para os tops é de chorar: várias safras de Romanée Conti, Château Petrus, Lafite-Rotschild, Margaux, Ângelus, Cheval Blanc, os grandes Montrachet, e todos os tops franceses que possa imaginar; e ainda pérolas estrangeiras como Opus One, Sassicaia, Masseto, Soldera, Vega Sicilia, Penfold’s Grange, e por aí vai. E por trás desta adega, ainda uma outra fechada com grade e sem iluminação onde dá pra ver caixas e garrafas empoeiradas que nem quero imaginar o precioso conteúdo.
Eu degustando na Lavinia 
A adega "secreta"
Outro destino bem conhecido é a Bordeauxtheque, dentro da Galeries Lafayette. A loja é bem menor que a da Lavinia, mas de todo respeito. Especializada em vinhos bordoleses, como o mesmo nome sugere, mas tem um pouco de tudo também. A redonda sala central parece (e é!) um templo de adoração: as grandes safras dos Grands Crus Classés e no meio uma espetacular adega de vidro circular com algumas dezenas de garrafas de Chateau d’Yquem.

A salinha central da Bordeauxtheque
Mais uma opção com grande seleção é a La Grand Epicerie Paris, anexa à loja de departamentos Le Bom Marché em Saint Germain, com destaque para Champagne e boa seleção de meias-garrafas. 

La Grand Epicerie de Paris do Bom Marchè
Já voltando para Madaleine, não longe da Lavinia se encontram outras duas adegas bem interessantes: a da Fauchon e a da Hediard, ambas “delicatessen” de luxo. As respectivas adegas são também uma boa opção para colocar umas boas garrafas nas sacolas de compras durante seu passeio no centro da cidade.  
Hediard
Detalhe da adega do Fauchon
E a onipresente Nicolas é uma grande rede com dezenas de lojas espalhadas nos quatro cantos da cidade, com uma proposta mais focada para os vinhos do dia a dia.

Todas estas juntam a vantagem de grandes seleções e variedade, boa localização e 12% off de tax-free (desconto dos impostos para estrangeiros). Por contra, os preços são mais altos que a média da cidade e o atendimento é frio e fugaz, para não dizer inexistente. O vendedor da Epicerie do Bom Marché só falou comigo para me dar um esporro, pois não poderia estar tirando foto...

Já eu normalmente prefiro as pequenas lojas de bairro, verdadeiras e em "dimensão humana". Enquanto as primeiras são pensadas especialmente para frotas de turistas e novos ricos de Países emergentes, que levam caixas dos vinhos mais badalados somente porque caros, as segundas são para os moradores da cidade e verdadeiros apreciadores da bebida.

Em ocasião de minha última viagem para a Cidade Luz eu visitei todas as lojas acima, onde até provei alguns vinhos em taça, mas fiz as minhas compras numa pequena e deliciosa loja em frente ao apartamento onde me hospedei, em Montmartre. A em De Verre em Vers é uma adeguinha movimentada e aconchegante e o dono Xavier, nativo de Bordeaux, muito simpático, mostrou muito preparo e principalmente amor por seu trabalho. Tirou todas minhas dúvidas, ficamos conversando um bom tempo e nunca empurrou as vendas para as garrafas mais caras, sugerindo pelo contrário, rótulos de pequenos produtores com ótima relação preço/qualidade. Não cobrou a resistente embalagem, me deu 15% de desconto nos preços da prateleira e ainda me me entregou o formulário do tax-free para o reembolso de mais 12% no aeroporto. O que querer mais? Já sei: voltar logo.
A entrada da De Verre em Verres
O proprietário Xavier e eu, ambos satisfeitos pelos bons negócios


quinta-feira, 14 de março de 2013

O vinho do Papa


Habemus Papa. Um ótimo gancho para falar sobre um dos mais celebrados vinhos do planeta.

Na verdade a colocação do Beto Gerosa em seu Blog de Vinho é muito pertinente. O Papa Francisco é argentino, de origem piemontesa, uma pessoa humilde e de hábitos modestos. Então a lógica comparação vínica seria com a Bonarda: a casta é de origem piemontesa mas é mais cultivada em solo argentino, perdendo somente pela Malbec. E produz vinhos menos badalados e de temperamento mais modestos, embora de boa qualidade. Sem dúvida uma ótima observação. 


Mas aqui eu falarei hoje de outro vinho, historicamente associado aos Papas desde a Idade Média: o mítico Châteauneuf-du-Pape.

A denominação homônima fica situada no sul do Rhône, região ao sul da França. É bom lembrar que o Vale do Rhône foi praticamente ignorado, enologicamente falando, até os anos de 1980, quando o nosso querido Bobby Parker “descobriu” dois vinhos que sucessivamente se tornaram cult, o Hermitage e o Cote-Rôtie, dando fama e visibilidade para a região inteira.
Mas a história do Châteauneuf-du-Pape é bem mais antiga. A cidade de Avignon durante vários anos foi residência dos Papas, até que em 1316 o Papa João XXII, apreciador da bebida, resolveu plantar uns vinhedos e construir uma pequena fortaleza para incrementar a imagem dos vinhos locais. Nascia assim o “Novo Castelo do Papa”, ou seja Châteauneuf-du-Pape.

A denominação é hoje bastante extensa e seus vinhedos poderiam produzir grandes quantidades, se não fosse pelo estilo concentrado que se tornou típico, priorizando extração e pequenas produções.

A característica certamente mais chamativa é que a denominação permite o uso de 13 (treze!) castas, tintas e brancas, sendo Grenache, Syrah, Cinsaut, Mourvèdre, Counoise, Muscardin, Terret Noir, e Vaccarèse as tintas e Picpoul, Picardan, Clairette, Roussanne e Bourboulenc as brancas. 
Um recorde. Uma possível explicação (embora não confirmada oficialmente) seria que a legislação quis dar uma espécie de garantia para o produtor manter boa qualidade dos vinhos, tendo sempre, desta forma, como ajustar e melhorar o blend inicial com mais variedades.

Mas de fato, pouquíssimas vinícolas vinificam todas as castas, usando a maioria delas 3 ou 4 de média (também não são raros os casos de vinhos monovarietais). 
A base é quase sempre a Grenache, mas Cinsault, Syrah e Mourvèdre também atuam um papel principal: as primeiras dando estrutura e potência, as segundas acrescentando tempero e frescor. O resultado é frequentemente um vinho complexo e de grande guarda.

Ou você o toma logo ou espera quase uma década!

No quesito "guarda", dizem que e o Châteauneuf-du-Pape tem um comportamento anômalo na garrafa: depois de um par de anos ele adormeceria, para acordar e ressurgir depois de 7. Ou seja, no período entre o segundo e o sétimo ano de vida seria melhor deixar a garrafa descansar, pois o vinho estaria “escondendo” suas qualidades.  Não sei se isto corresponde a verdade (me parece mais uma lenda), de fato eu tomei Châteauneufs jovens, com mais de 10 anos e até no período de 2-7 anos de vida e todos foram sempre bons e marcantes. O ideal seria fazer um teste com 3 garrafas da mesma safra, abrindo uma logo, uma depois de 4-5 anos e uma depois de 7 para comparar as diferenças. Haja paciência (e dinheiro!).   

De qualquer forma são vinhos excepcionais, os tintos mostrando fruta evidente e notas exóticas de especiarias, evoluindo para fruta seca, tabaco e couro.
Os brancos, estruturados, com grande corpo e complexidade incomum, podem envelhecer por 10 anos ou mais.  

Detalhe de estilo: as garrafas usadas são de tipo borgonha (bojudas) e quase sempre levam no vidro um alto-relevo, remetendo a uma efígie papal. 

Fica então a dica para brindar ao novo Papa.

Duas garrafas no detalhe



quarta-feira, 13 de março de 2013

Bebo para esquecer...


"O bom do vinho é que, durante duas horas, 
os problemas são de outros"
> Pedro Ruiz

terça-feira, 12 de março de 2013

Confraria às cegas e um vinho diferente!


Na última reunião da gloriosa Confraria Gran Reserva fizemos uma divertida degustação às cegas, nada de muito didático ou técnico, sem tema, País ou castas. Foi apenas uma brincadeira: a única limitação foi a faixa de preço incluída entre R$ 80,00 – 120,00.
A amiga Tatiana surpreendeu todo mundo com o vinho mais diferente que levou disparado o título de melhor da noite: um Carignan, precisamente o Morandé Edicion Limitada Carignan de safra 2001, bastante evoluído. Colocar o nariz na taça equivalia a entrar em uma cafeteira: uma explosão de aromas de café puro (moído e tostado!) e chocolate amargo, confirmando na boca as notas de torrefação.
Segundo colocado foi o vinho do amigo Alexandre Follador, o Condado de Haza 2007, belo tempranillo da Ribera del Duero.
A minha nota mais alta caiu para o Brancaia Chianti Classico, que o amigo Murilo levou: não por acaso é um dos meus favoritos de sempre.
O vinho que eu levei, o Croze-Hermitage Domaine des Grandes Chemins 2009 de Delas Frère, também chamou atenção, me lembrando um Châteauneuf du Pape – e de fato não errei de muito, pois estamos falando de mesma região e castas.
De qualquer forma só tivemos vinhaços, a turma está de parabéns mesmo! O próximo encontro será uma degustação Bolso Esperto, com vinhos até R$50,00, vai ser bem interessante. Fique ligado no MondoVinho para ver no que dá.

Os outros vinhos da noite:
# Henri Borgeois - Poully-Fumé Em Travertin 2011 (o único branco, portanto o único que não foi às cegas)
# Mitolo - Jester Shiraz 2009
# Casajus – Ribera del Duero Vindima Selecionada 2007
# Heartland – Shiraz Langhorne Creek 2010
# Laura Hartwig – Gran Reserva 2009
# Luis Cañas – Rioja Reserva 2005
# Dievole – Chianti Classico Novecento 2004
# Viña Montes – Montes Alpha Syrah 2007
# Kaiken – Ultra Malbec 2009






segunda-feira, 11 de março de 2013

Um bom argentino, de verdade


Quem acompanha o MondoVinho  sabe que não sou fã de malbecs de Mendoza, com as típicas características de “tudo em cima” (potência, opulência, corpo, álcool, madeira, açucares, etc).  Mas como disse em mais de uma ocasião, este mesmo discurso não vale para os malbecs de outras regiões; particularmente aprecio muito os vinhos da Patagônia.
Hoje vou falar de um tinto que me agrada bastante: o A Lisa, da Bodega Noemìa.
A nobre família italiana Cinzano produz o famoso e homônimo Vermouth, espumantes e Brunellos na Itália, além de um dos mais elegantes vinhos do Chile (veja aqui).
A condessa Noemi Marone Cinzano, escolheu a Patagônia argentina para dar vida ao seu novo projeto e junto com o enólogo danes Hans Vinding-Diers fundou a Bodega Noemìa no vale do Rio Negro. Embora possa ser considerada como “boutique”, de pequena produção artesanal, em poucos anos a vinícola se tornou a mais badalada da região e uma das mais importantes de toda a Argentina. Seus vinhos trazem toda a influença européia e o clima (seco com amplas variações térmicas entre dia e noite e estações bem precisas) também contribui para que os vinhos mostrem uma elegância incomum em terroirs mendoncinos.

O A Lisa é o vinho de “entrada” (entre aspas, pois de entrada tem bem pouco) da vinícola e mostra bem estas caraterísticas. 
Varietal Malbec (90%), com pitadas de Merlot e  Petit-Verdot, de vinhedos de 60 anos, é  maturado por cerca de 8 meses em carvalho de terceiro e quarto uso.
Nariz floral com notas mentoladas e levemente tostadas, além de boa fruta silvestre. Boca elegante, embora com corpo consistente e volumoso: a sensação frutada se repete, a boa acidez convida para mais um gole e os taninos suculentos fecham com chave de ouro. O álcool civilizado (13%) é mais um ponto a favor.


Vinho:
A Lisa
Safra:
2008
Produtor:
Bodega Noemìa
País:
Argentina
Região:
Patagônia – Rio Negro
Uvas:
Malbec (90%), Merlot (9%), Petit-Verdot (1%)
Alcoól (Vol.)
13%
Importadora:
Vinci
Custo médio:
R$ 98,00
Notas:
RP 91; WS 90; DEC 4*


quinta-feira, 7 de março de 2013

Confira como foi o Encontro de Vinhos no Rio


Como antecipado, semana passada participei do esperado Encontro de Vinhos no Rio de Janeiro. Seria redundante ressaltar a boa organização de sempre por parte da dupla dinâmica Daniel Perches & Beto Duarte, deste evento que está a cada vez mais se firmando como um dos mais interessantes do enomundo brasileiro.

Falando nos vinhos presentes, este ao lado é o resultado da degustação feita às cegas por especialistas (mais uma vez tive o privilégio de fazer parte do júri) onde foram eleitos os melhores 5. A minha nota mais alta  foi para o Sios Seleccion da importadora Wine Lovers, um espanhol da Costers del Segre. De qualquer forma vale ressaltar que nem todas as importadoras colocaram seu vinho e nem todas colocaram seu melhor vinho.

Os expositores foram (em ordem alfabético): Asa Gourmet, Aurora, B-Cubo, Cantu, Cave Geisse, Da Confraria, Domno, Everest, Interfood, MS Import, Pizzato, Ravin, Smart Buy Wines, Serrado Vinhos, Sicilianess, Valduga, Villa Francioni, Vinho Sul e Wine Lovers.

O melhor branco do evento foi pra mim o Riesling alsaciano do Léon Boesch, fermentado nas próprias borras em tonéis de carvalho. Um show de complexidade, frescor e delicadeza. Importado pela Everest, que inclusive mostrou outros vinhos bem interessantes como o Image do Château de La Mallevielle da Cote de Bergerac (já comentado aqui em ocasião do Encontro do ano passado) e um Vouvray do Philippe Brisebarre, um Chenin Blanc demi-sec (por causa dos açucares da uva e não adicionados), mas quase nada doce na boca em virtude da alta acidez: muito interessante mesmo.

Outra importadora bacana foi a Sicilaness, que, admito o pecado, não conhecia ainda. Em seu estande tinha o melhor espumante do evento (sempre pra mim, é claro!): um Franciacorta da vinicola Le Marchesine: muito complexo, lembrando um bom Champagne nos aromas e no paladar. A Importadora também trouxe dois excelentes sicilianos da vinícola Geraci: o Tarucco Nero D’Avola (sensacional, um dos melhores tintos do dia!) e o Tarucco Colonna, branco a base de Chardonnay e Grillo.

Da Interfood, além de velhos conhecidos, como Santa Helena, Misiones de Rengo e os cavas da Codornìu, me marcou um delicioso Pinot Noir do Uruguai (sim leio bem!) da vinícola Pascual, na faixa dos R$30 ficou como o Bolso Esperto do evento. E também um bom branco da siciliana Planeta, o La Segreta.


A Cantu também apresentou um siciliano fora de série: o Nero d’Avola Chiaramonte, da vinícola Firriato. Os vinhos da Ventisquero (já citados por aqui) e satélites como a Ramirana e a Yali, são sempre uma boa escolha: particularmente, o Vértice, corte de carmenere com syrah é de alto nível mesmo.

Teve bons californianos da Smart Buy Wines, principalmente o Mettler Zinfandel, já ganhador do Encontro de Vinhos Off de 2012 (que também eu contribui a eleger).


Os nacionais também fizeram bonito: Villa Francioni, com seu renomeado Sauvignon Blanc, o Fausto Verve da Pizzato, um bom e barato Chardonnay Reserva da Aurora e os sempre extraordinários espumantes da Cave Geisse.


Menção especial para o Perez Cruz Chaski, intenso Petit Verdot chileno, inclusive também já comentado aqui na edição passada, importado pela Vinho Sul.


Mas o vinho que mais me marcou sobre todos, foi um que eu desconhecia até agora: o La Castagnola Dolcetto d’Ovada, fantástico tinto do Piemonte, da vinícola Castello di Tagliolo. Complexo, estruturado, macio e envolvente, mas conservando boa elegância.