sábado, 29 de dezembro de 2012

A lista dos melhores vinhos de 2012 do Mondovinho


Final de ano é normalmente hora de tirar conclusões, resultados, avaliações definitivas, e sobretudo listas. Vocês sabem que eu não pertenço a estas turmas de amantes de classificações, menos ainda de vinhos. Ficar escavando os melhores vinhos degustados em 2012 nas minhas anotações ou até nestas paginas, além de ser um exercício difícil e demorado, não faz sentido pra mim. Além do mais que não saberia colocar um vinho, por exemplo, no 7° lugar ao invés do 6° (by the way, alguém me explica em que se definiria a diferença com o 8° colocado?). Sem contar que, com as centenas de vinhos degustados ao longo do ano, o risco de deixar de fora rótulos que mereceriam estar dentro seria bem alto.
Este negócio de listas e classificações, como já disse em várias ocasiões, pra mim faz sentido somente como um lance puramente comercial, para fazer vender as marcas. Do contrário, exibir com orgulho os rótulos degustados seria somente uma auto-celebração. Veja bem, não critico quem o faz, simplesmente não é meu tipo de abordagem.

Mas, inevitavelmente, as pessoas me perguntam e querem saber dos meus favoritos do ano, então para não deixar totalmente em branco vou citar somente um vinho: o que mais me marcou em 2012. Talvez se parasse para pensar mudaria de idéia e escolheria um outro e depois mudaria de novo, mas assim, friamente, o primeiro vinho que vem a cabeça, que ficou gravado na memória (e nas papilas gustativas) é um fantástico Champagne. Precisamente o Pol Roger Cuvée Sir Winston Churchill 1999. Uma maravilha.
Produzido somente em grandes safras, este ‘99, com 13 anos de vida está um espetáculo. Basicamente Pinot Noir (de vinhedos grand cru), com pequenas doses de Chardonnay maturado 7 anos nas borras, mais 3 na garrafa, desenvolve grande estrutura com camadas e camadas de aromas e sabores. O passeio pela taça leva de campos floridos a minas passando por umas padarias e delicatessen: floral, mineral, temperado, e com abundantes notas de panificação. Perlage fina e copiosa. Seco, com acidez pronunciada, e uma persistência infinita. 
Infelizmente (e previsivelmente) não é nada barato. Para quem quiser investir R$800 em uma garrafa de vinho espumante, fica a minha dica, inclusive para comemorar e brindar em grande estilo a chegada do novo ano.
Já para os comuns mortais - eu incluído - o meu desejo para 2013 é que todos nós possamos dispor de um din-din deste (e mais!) para gastar em super garrafas como esta, mas, primeiramente, que o ano seja repleto de saúde, alegria e satisfações, junto com as pessoas que mais amamos.
Auguri.


Voto gringo: 9 ½  



Vinho:
Cuvée Sir Winston Churchill
Safra:
1999
Produtor:
Pol Roger
País:
França
Região:
Champagne
Uvas:
Pinot Noir e Chardonnay
Alcoól (Vol.)
12,5

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal!



Um Feliz Natal para todos os queridos leitores e amigos do MondoVinho e um brinde aos amigos e colegas com os quais tenho tido a alegria e o privilégio de compartilhar boas taças durante o 2012.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Gangnam "Wine" Style: vídeo imperdível!


Para comemorar os 40 anos da empresa, a Jordan Winery, conceituada vinícola californiana, gravou e publicou um vídeo-paródia  do hit Gangnam Style, verdadeira febre do momento.
Todos os funcionários e colaboradores da vinícola participaram da brincadeira, inclusive o próprio patrão, genuíno protagonista.
Brilhante, sem sombra de dúvida. Para mostrar ao mundo que vinho não é sinônimo de austeridade e sim de descontração.
Parabéns para a Jordan, e feliz aniversário! 


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Um presente de Natal bom e barato


Vinho é um dos presentes clássicos para o Natal. Mas com que vinho presentear? Quanto gastar? Como falei nesta matéria é bom ter uma idéia dos gostos e preferências do destinatário do presente, sobretudo se ele for um enófilo de carteirinha. Mas, caso você não tenha estas informações ou ele não esteja tão por dentro do mundo do vinho e queira gastar menos de 50 reais esta é uma sugestão que vai fazer bonito.
Um vinho “piacione”, se diria informalmente em italiano, ou seja, que agrada propositalmente e descaradamente todo mundo.

A Ventisqueiro é um vinícola bastante conceituada no Chile – e autora de um dos meus merlot favoritos – e a WineBow é uma das maiores (se não a maior) importadoras dos Estados Unidos: a parceria entre as duas empresas deu vida aos rótulos Root: 1, uma linha de vinhos exclusiva para exportação. Como os vinhos são praticamente encomendados e confeccionados para os mercados estrangeiros (principalmente americano), não podemos esperar grande naturalidade, tipicidade de solo e expressão peculiar das castas, mas são vinhos bem feitos, vindo de qualquer forma de terroir badalados como os vales de Colchagua e de Casablanca. A linha produz Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Carmenere e Sauvignon Blanc.

Pessoalmente provei o Cabernet Sauvignon 2009 (85% cabernet e 15% syrah) e devo admitir que, embora não surpreendente, tem tudo no lugar e na medida certa. E com preço bem interessante. O aroma é tipicamente novomundista, com fruta em compota e batom; na boca foi até mais elegante do esperado, com corpo médio e a madeira (10 meses em carvalho americano e francês) não sobressalente adiciona uns toques defumados. Taninos, obviamente, bem levigados, e tem até uma acidez interessante.

A garrafa, bonita, leva um desenho em serigrafia que especifica (em inglês, of course, que as videiras não tem porta-enxerto – jogada de marketing esperta, como se isso fosse distintivo desta vinícola, mas os americanos não sabem que praticamente quase nenhuma vinícola do Chile utiliza a enxertia...)

Enfim por todas estes fatores acho um presente bacana. Não chega a ser um mero Bolso Esperto, pois nesta faixa de preço de 40-50 reais encontramos bastante coisa do mesmo nível (e até superior), mas para estas suas características “piacione” é certamente um vinho que ninguém vai poder achar defeitos, seja novato ou expert.  
Um vinho transversal (sempre que isto signifique alguma coisa).

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Eis o novo sócio do Robert Parker


Temos um nome e um rosto. De acordo com o blogueiro francês Vincent Pousson, o novo sócio da The Wine Advocate do Robert Parker seria este senhor com o fácil nome de Soo Hoo Khoon Peng, ex-diretor da Hermitage, importadora de Cingapura.
De fato a notícia  não é oficial, mas o nosso amigo do nome impronunciável deixou claros rastos: pediu demissão da empresa sem aviso prévio e pouco depois mudou a localização em seus “status” de Facebook para Baltimore, quartel general da The Wine Advocate e cidade de residência do querido Bobby Parker.
Segundo a mesma fonte, o acordo teria sido intermediado por dois business-men sem nenhuma ligação ou interesse por vinho (um da Deutsche Bank e outro da Goldman Sachs), mas só para negócios, que encontraram um grupo de investidores para TWA. Valor da venda: U$ 15 milhoes. O Parker provavelmente embolsou 10 milhões e os dois intermediários devem ter divididos os restantes 5. O Soo Hoo vai controlar e comandar a The Wine Advocate, focando o interesse principal do grupo em inserções publicitárias, eventos e palestras, além de uma versão chinesa da famosa publicação americana.
Como dizia uma velha canção: “Money makes the world go round”.
And the wine world too.

domingo, 16 de dezembro de 2012

E o melhor vinho italiano do ano EM ABSOLUTO é...


Qual é o melhor vinho italiano do ano? Naturalmente cada guia e cada avaliador têm próprias preferências. Mas qual é o rótulo considerado uma unanimidade? Todo ano a revista Gentlemen, anexo do jornal financeiro Milano Finanza, compila a lista dos melhores vinhos do ano cruzando os resultados dos 5 maiores guias italianos: Gambero Rosso, Bibenda, Veronelli, l’Espresso e Luca Maroni.

O vinho que resultou em primeiro lugar – e pelo segundo ano seguido – é o Primitivo di Manduria ES 2010 do Gianfranco Fino, da região de Puglia. Um vinho sensacional - veja minha avaliação da safra 2009 aqui. Pelo visto o 2010 foi até melhor ou pelo menos repetiu a mesma performance.

A seguir o San Leonardo 2007 da Tenuta homônima da região de Trentino Alto-Adige e no terceiro lugar do pódio um empate entre o Barolo Cannubi Boschis do Luciano Sandrone, o belíssimo Amarone Classico do Bertani, o Sassicaia e o Torgiano Rosso do Lungarotti..

Interessante notar que entre os primeiros 10 lugares ficam vinhos de regiões “supostamente” de menor importância, ou pelo menos consideradas tais pela crítica internacional e, consequentemente, pelos consumidores: Marche, Úmbria, Campania e ainda mais em baixo Sardenha e até Basilicata. Sinal que o badalado triangulo Piemonte-Toscana-Veneto não é o único eixo ao redor do qual roda a excelência do vinho italiano.
Veja abaixo a lista.





quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Tá calor, vamos de branco Bolso Esperto?


Aqui no Brasil o consumo de vinho branco não reflete o nosso clima: tem frotas de consumidores que mesmo com temperatura ambiente de 45° graus fazem questão de tomar aquele tinto encorpado com 15% de volume alcoólico.
Se você não pertence a esta categoria lá vai uma sugestão desinteressada.
Falamos recentemente de uns brancos tops, mas como este é um espaço democrático, o protagonista de hoje é um branquinho acessível que me agradou bastante.
A uva Insolia não é muito conhecida por aqui, mas é uma das principais castas brancas italianas. Chamada também de Ansonica ou Inzolia é a mais antiga casta autóctone da Sicília. A casta é particularmente bem sucedida na região sul da Itália, pois a planta agüenta bastante clima árido e requer menor absorção de água.

O Torre Solaria Insolia é produzido pelo gigante Zonin, dono de vinhedos praticamente em metade do País, mas seus vinhos, embora industrializados, costumam sempre ter uma boa qualidade mantendo preços honestos. Este exemplar não foge da regra.
Varietal 100% com breve passagem em carvalho, é um branco curinga, podendo ser degustado sozinho ou até acompanhando uns pratos mais complexos, pois apesar de ser fresco e frutado, tem também uma discreta estrutura e bom volume de boca. Pêra, melão e notas de amêndoa completam o bouquet aromático.
Por cerca de R$40,00 é mais um Bolso Esperto para você provar.

Importado pela Reloco/Devinum.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Robert Parker deixa? Claro que não


Estava me esforçando em escrever o menos possível sobre o amado/odiado “advogado do vinho”, mas a notícia é daquelas que vão dar pra falar, então vou voltar ao assunto Robert Parker. Mas serei breve, também porque o fato foi já publicado e divulgado amplamente.  

O nosso Bobby está cedendo o comando da The Wine Advocate para a Lisa Perrotti-Brown, atual editor de Cingapura, depois de vender um “substancial interesse” da empresa para um grupo de investidores asiáticos.

Mas não comemore não: o Parker continua na presidência e continuará escrevendo. Ou seja, não vai mudar muita coisa, exceto o fato dele ficar ainda mais rico.

A nova diretora, Lisa Perrotti-Brown

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Se este vinho é melhor que o Pétrus, então eu não quero o Pétrus


O vídeo de um vinhozinho de 14 euros derrotando às cegas grandes nomes de Bordeaux que custam 100 vezes mais se tornou uma sensação (eu mesmo o publiquei aqui). Pois é, o semi-desconhecido Chateau Reignac humilhando monstros sagrados como Lafite, Margaux, Latour, Haut-Brion, Cheval Blanc e Pétrus.
Mas será que o tal do Reignac é realmente isto tudo? Recentemente tive a oportunidade de degusta-lo e pessoalmente fiquei com as minhas dúvidas...
Achei este rotulo à venda num supermercado de Paris, custando ainda menos que anunciado no vídeo: cerca de 10 euros. Sem titubear levei a garrafa no apartamento onde me hospedei e, curioso, o abri no jantar do mesmo dia. Que decepção... Tudo bem, não é a mesma safra, sendo 2001 da degustação e 2007 e a que eu provei, mesmo assim eu estava esperando algo que me marcasse, que ficasse na minha memória. Mas em toda honestidade, não é nada mais que um bom Bordeaux Superior. Como disse, é bom, tem toda a tipicidade bordolesa (com alcaçuz, notas terrosas e defumadas, café e tabaco) e é até barato para suas qualidades, sem dúvida uma boa compra. Mas dizer que melhor que os rótulos acima me parece um pouco arriscado. Vou deixar vocês argumentarem mais, pois pessoalmente não tive ainda o privilegio de provar nenhum da lista. Mas das duas uma:
1) realmente não vale a pena gastar estes valores absurdos para uma qualidade que vale 10 euros.
2) esta degustação é uma furada.
O que vocês acham?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Villa Matilde: por que não fui antes?

Em minha recente e brevíssima passagem pela minha terra aproveitei para visitar uma vinícola da minha região que ainda não conhecia. Conhecia os vinhos, é claro, mas ainda não tinha tido a oportunidade de visitar pessoalmente a empresa. E olha que fica a somente a 40 km da minha casa, que vergonha pra mim!
Villa Matilde é uma das vinícolas mais tradicionais da Campania, líder na produção das mais antiga denominação de origem do mundo: o vinum falernum.
Como vimos aqui o Falerno era o vinho mais celebrado pelos antigos romanos, citado por poetas e escritores como Plínio e Cícero. O advogado e cultor de vinhos antigos Francesco Paolo Avallone tinha lido em livros antigos sobre este lendário vinho e decidiu traze-lo de volta à vida: com a ajuda de alguns pesquisadores da Universidade Agraria de Nápoles conseguiu localizar as poucas cepas de videiras sobrevividas à praga da filoxera, as recuperou e re-implantou. Dai começou a historia da vinícola Villa Matilde.
Hoje a empresa possui 3 propriedades na Campania onde produz vinhos das D.O.C.s mais prestigiadas da região, como Falerno del Massico (branco e tinto), Greco di Tufo, Fiano di Avellino, Taurasi, e vários IGT (e um ótimo azeite).
A visita à vinícola foi muito prazerosa. O local é bastante bonito e acolhedor e fomos muito bem recebidos. No meio dos vinhedos fica o resort, com piscina, equipamentos esportivos e cavalos. Do lado, algo pra mim mais interessante (sobretudo naquela hora): o restaurante. Acomodado em uma das bonitas salas fui conquistado por um almoço de primeira, tudo feito com produtos artesanais (a maioria auto-produzidos) e vinhos de excelente qualidade. Precisamente, 4 rótulos da denominação que deu celebridade à vinícola.
Comecei com um Falerno del Massico Bianco D.O.C. 2010, falanghina 100%, leve mas complexo, com notas de flores brancos, abacaxi e limão.
Prossegui com um outro branco da mesma doc, mas de vinhedo único, o Caracci. Sem sombra de duvida um dos melhores brancos provados nos últimos tempos. De safra 2008 estava ainda em plena forma, tendo estrutura capaz de evoluir pelo menos uns 10 anos. Novamente falanghina varietal, fermentado pela metade em carvalho. No nariz aos aromas do anterior se adicionaram pessego, sálvia, manteiga, baunilha, nozes. Na boca grande volume, aveludado, acidez perfeita e longa persistência.
A seguir um Falerno del Massico Rosso (tinto) DOC 2010, feito com aglianico (80%) e piedirosso (20%). Maturado 50% em barricas e 50% em barris grandes por 10/12 meses. Aromas de ameixa e cacau, na boca um corpo médio, acidez que qualquer novomundista invejaria e taninos um tanto “rústicos”, mas de qualquer forma gentis. Ficou ainda melhor quando acompanhado por carne.
Terminando, com o tinto mais representativo da vinícola. Assim como para o branco, veio o tinto da mesma doc, mas de vinhedo único e qualidade superior: o Camarato. Produzido com o mesmo corte de uva, matura 18 meses em barricas igualmente dividas em 1°, 2° e 3° uso, mais 18 meses de afinamento em garrafa. Impressionante bouquet de fruta silvestre, pimenta preta, chocolate e café. Na boca é muito estruturado e complexo, rico e persistente. Taninos abundantes, mas finos e equilibrados por ótima acidez. Para os viciados em notas tem 93 pontos do querido Bobby Parker e 3 bicchieri do Gambero Rosso.

Enfim, foi uma bela tarde com ótima comida e ótimos vinhos, e agradeço aqui publicamente a equipe inteira pela eficiência e calorosa  recepção.

Os vinhos da Villa Matilde são importados no Brasil pela Vinissimo.

Veja abaixo algumas fotos.

Vinhedo de falanghina
A uva em questao

A uva deste vinhedo produz um passito 
Eu fingindo interesse quando na verdade estava louco para comer!
A vinícola e o Resort


Repare no lustre do restaurante!
Olhe que original o pãozinho em formato de cacho de uva!


As reservas de família 

Eu com o dono da vinicola, sr. Salvatore Avallone, de extrema gentilez

















quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Bolso Esperto: italiano bom e barato


Como já vimos nesta mesma coluna, vinho italiano bom e barato existe.
Eis um outro ótimo exemplar: Sartori Bardolino Classico D.O.C. 2010
Desde 1898 a Casa Vinicola Sartori produz os vinhos clássicos da região do Veneto, nunca cedendo às tentações do gosto internacional, do modismo ou do paladar dos críticos.
Embora seja uma grande vinícola, com produção de relevante quantidade, a qualidade continua em primeiro lugar, conseguindo vinhos elegantes e premiados (e baratos!), conjugando cultivo orgânico nos vinhedos e tecnologia na cave.
Este Bardolino Classico 2010 me pareceu perfeito para nosso clima tropical.
Baixa extração de cor, baixo volume alcoólico (aonde você ainda encontra tintos com 12%?), frutado, elegante e saboroso e curinga para as harmonizações.
O corte de Corvina Veronese, Rondinella, Corvinone, Molinara e uma pitada de Merlot contribui para que o bouquet aromático tenha boa complexidade (sobretudo floral); no paladar é leve e sedoso, com boa acidez e uma pontinha amargor no final que o torna mais prazeroso e mais compatível com diferentes comidas. Acompanha bem entradinhas e petiscos, mas também pratos de massa, e vai bem até com peixe e carnes brancas.
Paguei a bagatela de R$19,00 (em promoção) no Zona Sul
Definitivamente um Bolso Esperto

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Um dos melhores brancos já provados


Château de Beaucastel é um dos grandes nomes do Rhone (e da França inteira). Vinícola tradicional (suas origens remontam a 1500), famosa pela sua produção de fantásticos Châteauneuf-du-Pape. Cultura orgânica com algumas técnicas biodinâmicas também, a vinícola usa todas as 13 castas permitidas na denominação para os tintos, já para os brancos utiliza essencialmente 2 castas: a Roussanne e a Grenache blanc.

Este Châteauneuf-du-Pape blanc 2010 me conquistou completamente. Embora tenha capacidade para evoluir mais nos próximos anos, está já prontinho hoje. Maturado 8 meses (30% em carvalho novo) mostrou uma complexidade fora de série. Nariz floral, com notas de maça, pêra, melão e mel. A madeira é apenas perceptível, tem textura sedosa, camadas e camadas de fruta, grande volume, acidez perfeita e final muito longo.
Um dos melhores vinhos provados neste ano e um dos melhores brancos ever.
Pena pelo preço, definitivamente proibitivo: na importadora a garrafa sai por “apenas” R$ 569,00.

Voto gringo: 9

Vinho:
Châteauneuf-du-Pape
Safra:
2010
Produtor:
Château de Beaucastel - Famille Perrin
País:
França
Região:
Rhone
Uvas:
Roussanne (80%), Grenache Blanc (15%), outras (5%)
Alcoól (Vol.)
13,5%
Importadora:
World Wine
Custo médio:
R$ 570,00
Notas:
RP95; WS93


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

7 regras para o perfeito sommelier


Já abordei o assunto em outros posts, mas o fato é que não me conformo. Rodando por vários restaurantes encontramos sommeliers de todo tipo, pessoalmente conheço alguns muito profissionais, outros muito humanos, uns super-técnicos, outros talentosos, mas a impressão que tenho maturado é que de maneira geral os sommeliers brasileiros (mas também uns colegas mundo afora) uma vez absorvidos os “textos sagrados” da ABS param por aí. Meu caro, o almejado diploma não deve ser um ponto de chegada, e sim um ponto de partida. Então o que fazer para crescer e ir além do “vermelho rubi com reflexos violáceos”? Seguem 7 dicas definitivas para deixar de ser um sommelier genérico e se tornar um "sommelieraço".

1) Leia. Esta prática é indispensável para qualquer profissional do vinho: sem teoria, sem uma base você vai ser um castelo de areia, sem fundamenta, pronto a ser derrubado, então leia, leia, leia. A internet é um poço infinito de informações, artigos e material. Mas também não esqueça o papel impresso, construindo a sua pequena biblioteca vínica com revistas, catálogos e publicações variadas. O prazer de folhar um livro, observar as escolhas das imagens, saber que ele está lá esperando por você sempre que você quer perguntar alguma coisa não tem preço. Não há nenhum Mondovinho que possa competir!

2) Beba e coma. Prove quando e quanto puder, mas não somente vinho. Os produtos alimentares, a cozinha dos grandes chefes ou do boteco de esquina são um campo de treinamento para afinar o paladar, desamarrá-lo da rotina e levá-lo para novas experiências.

3) Viaje. Saia do seu hábitat e da sua zona de conforto. Ali fora tem milhares de vinícolas, restaurantes, manifestações, eventos, pequenos ou monumentais que esperam pra você. O movimento é uma das partes fundamentais do sommelier-profissional e do sommelier-pessoa. Ninguém vai vir te procurar se você não procurar eles primeiro. Crie a sua rede de contatos: produtores, importadores, distribuidores, lojistas, restauradores, colegas, amigos, enófilos, apaixonados. Chegue até eles, sempre haverá uma taça pronta para você.

4) Humildade e dignidade. Isto tem a ver primeiramente com o homem, só depois com o profissional. Seja humilde, mas não condescendente. Seja humilde com os vinhos que vai provar, do famoso ícone ao entry-level de supermercado, pois cada vinho tem algo para contar; elimine o preconceito e avalie o liquido para aquilo que é e não para aquilo que você acha que é.
Seja humilde também com quem estiver na sua frente, não pode saber quem ele é, o que ele faz e o conhecimento dele. Seja ele enólogo ou cliente novato conversa com ele, nunca se ache superior, fale com os outros da mesma forma que gostaria que os outros falassem com você. Procure ser disponível, mas nunca aceite algo que possa atingir sua dignidade. Não é verdade que o cliente tem sempre razão: o cliente nunca está errado. Não parece, mas a questão é bem diferente.

5) Treine. Estudo é treinamento, degustação é treinamento, falar de um vinho ou harmonizar é treinamento. Tem que estar sempre pronto; o mundo do vinho evolui freneticamente, tente não ficar atrás.

6) Aproveite e divirta-se. Você está prestes a embarcar em uma bonita carreira, tire aquele ar funéreo do rosto, sorria, as pessoas devem ver e perceber que você está curtindo e que você gostaria de envolvê-los. Brinque com as harmonizações, faça novos testes, procure ir além do óbvio.

7) Trate os frascos com carinho. Cuide das suas garrafas: cada uma tem seu tempo de consumo, então espere e proteja ela carinhosamente. Quando finalmente vai abri-la, observe e escute o que ela tem para te dizer.
Faça a mesma coisa com os seus clientes, az vezes um gesto vale mais que mil palavras. O aprendizado é infinito e vale para ambas as partes.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Teste do salva-vinho: o resultado final



Bom, estava na hora de saber se o tão decantado winesave funciona ou não. Então ontem, dia 30 de Novembro, abri de volta a garrafa que tinha aberto e guardado no dia 8 de Novembro. Como podem ver neste post, depois de ter degustado metade da garrafa, fiz uma aplicação de um segundo do gás conteúdo no frasquinho e guardei a outra metade na porta da geladeira. Estava bem curioso mesmo, embora já conhecesse a eficácia do tal do argônio nas maquinas Enomatic, ainda não o tinha testado desta forma “doméstica”. E não é que o negócio funciona mesmo? Impressionante, depois de 23 dias o vinho estava ainda aí, intato. Com direito a aromas e paladar.

Para falar toda a verdade, nos aromas ficou, acredito 100%. Já na boca senti umas leves diferenças, perdendo talvez um pouco da maciez, mas algo quase imperceptível, estamos falando de leves nuances: eu as percebi porque conheço este rótulo muito bem, mas, sinceramente, nada que chegue a prejudicar a degustação de forma alguma. Também devemos levar em conta que guardei a garrafa na porta da geladeira, e imagine quantas vezes por dia esta porta foi aberta e fechada em 23 dias, com os conseqüentes chacoalhamentos. Acredito que, se guardada em um lugar fixo, não teria apresentado nem estas tênues variações. Mesma coisa talvez até na porta da geladeira mesmo, mas abrindo a garrafa alguns dias antes: afinal, como disse no primeiro post, quem vai querer guardar um vinho para mais de 20 dias?

Então posso concluir em toda franqueza que o winesave passou o teste definitivamente.
É bom saber que desta forma podemos ter a liberdade de abrir uma garrafa de vinho mesmo tendo uma outra já aberta, sem se preocupar das conseqüências da oxidação do liquido.
Também é ótimo para lojas, restaurantes e bares que queiram oferecer vinho em taça, lembrando que as aplicações podem ser repetidas depois de cada re-abertura.
E também é um ótimo presente para o Natal que se aproxima, então fica a dica.  

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Um tinto monumental


Falar de um vinho sobre o qual já foi dito tudo fica difícil e o risco de ser redundante é elevado, pois estamos na frente de um monumento da enologia mundial.

Angelo Gaja é uma das maiores personalidades do mundo do vinho, o “indiscutível rei do Barbaresco” e um dos artífices da revolução do vinho italiano; o homem que graças a novas técnicas (veja o "post-post" abaixo) lançou o Piemonte no Olímpio das mais badaladas regiões vinícolas do mundo. Hoje em dia seus Barbarescos são vinhos colecionáveis, considerados status symbol ao par dos grandes ícones franceses.

Embora seus Barbarescos single vineyards Sorì San Lorenzo e Sorì Tildin sejam os tops da casa, o mais emblemático rótulo da vinícola é o Barbaresco “básico” (notar as aspas), verdadeiro símbolo da marca Gaja.

Eu estava guardando esta meia garrafa de safra 2001 há alguns anos em minha adega e como tinha um potinho de molho de trufas moídas para experimentar resolvi fazer uma rápida refeição tipicamente piemontesa, com bruschette al tartufo e este típico e glorioso vinho da região. 
.
Este Barbaresco é um D.O.C.G., nebbiolo 100%, com uvas selecionadas de 14 vinhedos de propriedade em Langhe. Estagia 12 meses em barricas francesas e mais 12 em grandes tonéis de carvalho de Eslavônia,  completando a maturação com um longo afinamento em garrafa.

A safra de 2001 foi de 5 estrelas, e realmente o vinho foi espetacular tanto nos aromas quanto no paladar. Em plena forma com seus 11 anos de vida, tem estrutura para agüentar tranquilamente mais duas décadas.  Camadas de ameixas, alcaçuz, café, tabaco e notas minerais. Na boca é extremamente elegante, de bom volume mas delicado, acidez perfeita, taninos sedosos e longuíssima persistência.

Monumental.

Voto gringo: 9

Importado pela Mistral. Esta safra de 2001 já é uma raridade; a meia garrafa da 2008 custa na importadora R$ 465,00; a inteira sai por R$ 953,00.

Post-post
O Ângelo Gaja introduziu na década de 1960 algumas inovações que de fato revolucionaram o jeito de produzir vinho na Itália. Entre elas a técnica do diradamento ou “poda verde” (com a qual os cachos em excesso são cortados das videiras para diminuir o rendimento e conseqüentemente aumentar concentração e qualidade).
Foi também o primeiro a fazer fermentação maloláctica  no Piemonte (processo que transforma o ácido de málico em lático, tornado o liquido mais macio ao paladar).
Quanto à maturação, também inovou com o processo de duplo afinamento em carvalho, primeiramente em barricas pequenas e depois em tonéis grandes.
E terminando no sistema de fechamento das garrafas, foi uns dos primeiro a usar rolhas de cortiça mono-peça bem compridas, mais resistentes ao tempo, permitindo uma melhor micro-oxigenação. 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

9 motivos para não ter uma vinícola e viver feliz


Então você gostaria de ser vinhateiro, hein? Claro você viu na tv uns dois ou três aristocratas em roupa de grife sendo entrevistados nos vinhedos, festas vip em castelos luxuosos e fotos em revistas glamourosas. Bom, tenho que lhe dar uma má notícia: o viticultor é um camponês, um agricultor, ainda com as circunstâncias agravantes do setor enológico. Se você plantar trigo, por exemplo, não terá que se preocupar com a qualidade da safra, com o ponto exato de maturação, com as leveduras, etc. Fazer vinho, a sério, prevê uma serie de habilidades e esforços ao limite da resistência humana e, no final do ciclo, vai ter sorte se conseguir pagar uma roupinha da Riachuelo. Então esqueça a vida high society, pois vai ter que encarar as seguintes 9 atividades menos glamourosas da face da terra:

1) Despertador às 4:00. O melhor momento para colher as uvas é o amanhecer. Os cachos não devem chegar muito quentes no porão, sob pena de perda de aromas essenciais. Afinal você deve ter se acostumado a levantar cedo, já que durante todo o verão sempre acordou ao cantar do galo. Sua vida social? Deixa pra lá, os morcegos no sótão têm mais vida que você.

2) Fashion. Calça jeans grossa, camisa de mangas compridas, botas e um chapéu para protegê-lo do sol. Seu espantalho olha para você e sorri. Mais que se vestir você se empacotou em uma embalagem que vai te proteger de cortes, urtigas e insetos irritantes. Até a equipe de Esquadrão da Moda vai achar seu caso irrecuperável.

3) A alegria da colheita. Duas horas de colheita e suas mãos estão tão pegajosas de dar nojo. Você tinha esquecido que as uvas contêm açúcar, e agora está tendo problemas com a tesoura e o resto das ferramentas. Lavá-las é inútil, depois de ter colhido 3 cachos ficou pior que antes. Lembra o que você respondeu para quem te propôs a colheita mecanizada? “Não, nem pensar: a colheita da uva é, para mim, o momento mais sagrado do ano, eu não quero máquinas na vinha”. Vamos lá, não banque o herói, enxugue as lágrimas e chame o cara de volta.

4) A lei é lei. A matemática não mente: para produzir cem litros de vinho, é preciso de duzentos quilos de papel, entre registros, notas e inúmeros documentos. Mas tome cuidado com o que escrever: vai ter várias entidades que te controlam. Cada um delas aparece sem avisar e você é forçado a suspender todas as atividades por causa de um detalhe burocrático. No topo da parada de sucessos de exigências impossíveis há o cálculo para subtrair as borras de vinho como um produto residual. Uma simples equação de 13 funções logarítmicas múltiplas, que normalmente se resolve com multas a pagar (em casos menos graves).

5) O pequeno químico. A fermentação maloláctica tramou um complô contra você, a acidez te odeia, os taninos são indisciplinados e as leveduras indígenas falam mal da sua família. Você gostaria de pedir ajuda de um enólogo, mas um breve parecer telefônico vai te custar mais que um cruzeiro no Caribe – que, casualmente, é a rota mais freqüentada pelos flying winemakers. O que fazer, pagar ou rezar? Ajoelhe-se, e seja convincente: ficar com milhares de litros de vinagre é uma cena provável, e pode acontecer em um piscar de olhos.

6) O dia depois de amanhã. Você está ali, olhando para seus vinhedos, cheio de orgulho, e de repente chega uma chuva de granizo que vai reduzir a colheita pela metade. Corre uma lágrima, mas no final se conforma, isto faz parte. Coloca energia positiva para a safra seguinte. No ano seguinte vem a seca a cortar metade da colheita. Você fica triste, mas é preciso coragem, não podemos nada contra a natureza, ano que vem vai ser melhor. Finalmente o clima foi perfeito durante toda a maturação das uvas, parece estar dando tudo certo, e quando faltam poucos dias para a colheita vão chegar dilúvios e enchentes para estragar o ano de trabalho. E por aí vai.

7) Rich & Famous. Agora que a garrafa está finalmente em suas mãos, pode se dar de presente 5 minutos de satisfação. No minuto 6 a ansiedade vai estragar o clima de festa com a pergunta maldosa: “E agora vai vendê-lo para quem?”. Se não tiver uma rede de representantes para bater portas (e pernas) vai ficar bem complicado. Uma vez que, milagrosamente, conseguiu colocar o vinho no mercado ainda vai ter uma barreira que nenhum outro produto agrícola deve superar: os críticos e os guias de vinho. Pode evitá-los e contar com os tais dos blogueiros, mas acredite, é como sair da frigideira para o fogo eterno.

8) Lehman Brothers. Legal, seu vinho é bom e começa a vender bem. Está até conseguindo entrar nos mercados estrangeiros, e logo depois que você conseguiu fechar com dificuldade umas parcerias com exportadores/importadores, a crise financeira da vez vai acabar com seus sonhos de glória. Seu porão fica com grandes estoques de garrafas, em igual quantidade, de vinho e lágrimas. 

9) Rei das finanças. Depois de 10 anos você percebeu que uma garrafa que você vende a U$8,00 te custa U$9,00. Boa sorte.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A história de um dos grandes vinhos do mundo quando era pequeno


A última edição da revista Bibenda, da Associação Italiana Sommelier, reporta uma entrevista inédita feita em 1978 ao enólogo Max Shubert, criador de um dos mais cultuados vinhos do planeta, o Pendfolds Grange, marco na história da viticultura australiana.
Interessante relevar que quando foi lançado, na década de 1950, este vinho, que se chamava Grange Hermitage para lembrar o estilo dos grandes tintos do Rhone, nem foi levado em consideração. Não somente foi criticado, mas até foi considerado perigoso pela mesma Pendfolds como um potencial dano para a imagem da vinícola.
Naquela época na Austrália os vinhos em estilo Grange não existiam, pois não era previsto o conceito de vinhos para guardar ao longo dos anos: o vinho era produzido para consumo imediato ou, em alternativa, fortificado. De acordo com o Max Shubert os vinhos daqueles anos eram péssimos porque produzidos com métodos errados e sem considerar as características das diferentes safras.

O Grange foi uma revolução em matéria de estilo e técnicas produtivas. O propósito do Shubert era criar um vinho comparável aos grandes vinhos franceses, sobretudo em termos de longevidade. Ele mesmo conta da própria incredulidade quando convidado pela primeira vez em Boredaux degustou vinhos sensacionais de mais de 40 anos de idade.

Então o enólogo começou uma pesquisa minuciosa, inspecionado vinhedos australianos para achar a uva perfeita sob o perfil da maturação, coisa que desde o início foi um dos pontos fortes do Grange.
A primeira vinha foi a de Morphett Vale, logo na entrada da região de McLaren Vale. A shiraz deste vinhedo foi cortada com o da parcela de Magill, sede da casa, senão teria sido classificado logo como “cru”. Sucessivamente foram usadas uvas procedentes de outras áreas, como Kalimna in Barossa Valley, ainda hoje principal mina para o Grange.
As barricas utilizadas inicialmente eram de carvalho americano, segundo o Shubert mais apropriado para manter força e fruta do vinho.
Na época o enólogo foi denegrido pelas suas escolhas e foi preciso de 10 anos desde a primeira safra para começar a reverter as críticas em elogios.
Hoje em dia o Pendfolds Grange é o verdadeiro ícone australiano, capaz de rivalizar em classe, elegância e longevidade com os grandes vinhos do mundo.





quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Provei o 4° melhor vinho do mundo e nem sabia...


A classificação dos 100 melhores vinhos do mundo de 2012 da famosa revista Wine Spectator vocês vão encontrar em qualquer outro blog de vinho, pessoalmente já falei muito a respeito destas famigeradas listas e atribuições de notas, e quem acompanha o MondoVinho já conhece minha opinião (resumidamente: não estou nem aí, basicamente é muita politicagem e marketing - leia mais aqui).
Tanto é que recentemente tomei o vinho que se classificou em 4° lugar e nem imaginava que poderia ser isto tudo na opinião dos queridos críticos americanos.
Degustei o Châteauneuf-du-Pape Clos des Papes 2010 no mês passado em Paris, na famosa loja Lavinia, verdadeiro mega-store de vinhos. Era um dos vinhos em degustação em taça nas maquinas Enomatic, no caso, adquiri um crédito de 30,00 euros e degustei 4 vinhos:


- Vosne-Romanée "Les Champs Perdrix” 2010 Bruno Clair
- Château Batailley 2000 (Grand Cru Classé - Pauillac)
- Château Branaire-Ducru 2006 (Grand Cru Classé -  Saint-Julien)
Châteauneuf-du-Pape Clos des Papes 2010 (mesma safra da lista).

Para falar toda a verdade este Châteauneuf foi o que mais gostei do painel, mas longe de valer 98 pontos (sim, a WS deu 98!) e classificá-lo como o 4° melhor vinho do mundo!
De qualquer forma, um ótimo tinto, com toda a tipicidade da denominação: fruta negra abundante, apimentado, profundo e longo. Basicamente um grenache (80%) completado por syrah and mourvèdre.

O segundo meu favorito deste painel foi o Vosne-Romané do Bruno Clair, elegantíssimo. Este vinhedo (Les Champs Perdrix) fica logo abaixo do cultuado La Tache do Romanée Conti. Com certeza foi um dos mais diferentes pinots borgonheses já provados, com notas muito minerais e toque defumado, com toda a delicadeza da casta.


Já os dois Bordeaux, embora ambos Grand Cru Classe, foram os mais “decepcionantes”. Notar que coloquei a palavra entre aspas, pois trata-se de dois excelentes vinhos, mas que não me marcaram particularmente. Com os clássicos cortes de cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc (com pitadas de petit verdot), o Château Batailley mais profundo e maduro, o Branaire-Ducru mais elegante e um pouco mais duro, os dois com ótima acidez e taninos finíssimos, com aquelas notas terrosas e de tabaco típicas da região.



Acabo de descobrir que o Clos des Papes 2005 foi até o 1° da lista da Wine Spectator em 2007 (oh, my God...), aí vai minha dica de sempre: não compre vinhos pelas notas, vai pagar mais caro e correr o risco de se decepcionar bastante.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

4 frasquinhos de tirar o fôlego


Noite memorável na casa dos amigos e colegas Alexandre e Ana Cristina Follador do excelente blog Idas e Vinhas.
O chefe Alexandre preparou sublimes focaccias (de bacalhau e de salame) que acompanhamos com 2 vinhozinhos tops da Borgonha: eu levei um Chablis Grand Cru, os anfitriões abriram um soberbo Premier Cru da Cote d’Or. E ainda teve um fantástico vinho de sobremesa e um belíssimo destilado. Mas vamos por degraus.

Começamos com o meu branco: Domaine du Colombier Chablis Grand Cru Bougros 2008.
O produtor pertence aos “Vignerons Indépendants”, confederação que reúne produtores de toda França, que tem em comum a mesma visão: sem se importar com as políticas/tendências do mercado, tampouco com os críticos internacionais, produzindo vinho com paixão, com respeito do consumidor e do meio ambiente. Ou seja, respeitando a profissão de vinicultor.
Este domaine é specializado em Chablis e este Cru é o seu top de linha. Varietal Chardonnay de vinhedos orgânicos de 15-65 anos de idade, maturado por 12 meses (20% em barrica e 80% em tanque de inox).
A palavra chave é mineralidade. Talvez o vinho mais mineral que já provei. No nariz flores, tomilho e leve picância. Paladar muito macio, de bom volume, com acidez perfeita. Mas a surpresa veio no retro-olfato: nns segundos depois de engulir o liquido sobe toda a mineralidade que faz dos chablis vinhos tão únicos. Persistência longuíssima, realmente impressionante. 


A seguir, um pedaço da historia da França: o mítico Vigne De L'Enfant Jésus, Premier Cru de Beaune Greves, de um dos mais tradicionais (desde 1731) produtores da Borgonha, o Bouchard Père & Fils. Em 1995 o domaine foi adquirido pela famosa casa de chamapagne Henriot, mas a gestão da vinícola continua feita pelo enólogo de família Christophe Bouchard; e depois de mais de dois séculos estes 4 hectares de vinhedo premier cru continuam sendo os melhores da maison.
Interessante a anedota histórica que deu o nome ao rótulo. Parece que a carmelita fundadora da família do Saint Enfant Jésus previu o nascimento do rei Luis XIV, embora sua mãe, a Ana de Áustria fosse estéril. No nascimento do futuro Rei Sol, este vinhedo excepcional, pertencente as Carmelita, tomou o nome de “Enfant Jesus”.
Mas vamos ao vinho. O menino Jesus que tomamos era de safra de 2009, de fato nem um menino, mas uma criança mesmo. Por isto o decantamos uma meia hora (enquanto tomávamos o branco). Mais extraído do esperado mostrou uma cor mais escura e menos transparência do que os pinots da Borgonha costumam ter. Nariz espetacular de bosque com todas as suas frutas, e umas especiarias tipo cravo e estragão. Na boca juntou intensidade e delicadeza, taninos suaves e um leve amargor no final, mas que não chegou a incomodar e que foi ainda atenuado pela comida. Profundo e longo.


O grand finale começou com um Sauternes 2004, também Premier Cru, do Chateau Rayne Vigneau, um dos mais famosos produtores da região desde o século XVII.  
Corte de Sémillon e Sauvignon Blanc, com uma pequena parcela de Muscadelle, as uvas são atacadas pela botrytis cinereadepois fermentadas e maturadas por 18 meses em carvalho e somente no final é feito o corte. Delicioso nos aromas e na boca: damasco, mel, laranja, abacaxi. Doçura nunca enjoativa, balanceada por uma ótima acidez. Perfeito para acompanhar o nosso Stracchino della Duchessa (uma variação do Tiramisù), que a amada Jeane preparou.


E para terminar (e digerir), uma Grappa top, da região italiana de Friuli: a Cru Monovitigno Ribolla Gialla do tradicional produtor Nonino, destilada inteiramente com método artesanal. Com aroma floral, e uma leve maça, foi uma surpresa: delicada e finíssima, embora com seus 45°graus alcoólicos, mostrou muito frescor e elegância. Realmente de primeira.



Enfim, a noite foi sensacional e agradeço aqui publicamente mais uma vez o querido casal Alexandre e Ana pelo convite e por ter proporcionado estes momentos tão agradáveis.